O Jantar

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Os talheres estavam perfeitamente alinhados. As taças, em seus devidos lugares. Panos, guardanapos, tudo arrumado. Sobre a mesa, Teresa Cristina terminava de arrumar algumas flores que ela mesma havia colhido na Quinta mais cedo e arrumado para embelezar a mesa do jantar. Como Imperatriz, Teresa Cristina costumava fazer esses arranjos quando a Quinta recebia chefes de Estado ou autoridades importantes de outros países, mas aquela noite era diferente. Era o último jantar do Barão de Mauá como hóspede na Quinta. Soubera pelo Dr. Cisneiro que a retirada dos pontos fora bem-sucedida e ele já estava com a saúde restabelecida – e o que era melhor, poderia comer normalmente. Era o fim da dieta que tanto lhe custava a paciência, mas que ele seguira à risca para não correr o risco de uma inflamação.

-Iremos receber algum Rei essa noite?

Teresa Cristina surpreendeu-se ao ver Mauá já na sala de jantar. Vestia um elegante smoking e trazia um olhar divertido. Jamais o vira tão bem arrumado assim.

-Barão! Espero que a decoração esteja de seu agrado... Eu não poderia deixar sua despedida passar despercebida. – explicou Teresa, ainda que um tanto tímida. Será que ela havia exagerado na decoração? Esperava que não.

-Aqui. – estendeu o Barão um livro que Teresa imediatamente reconheceu como sendo "Fortaleza Secreta". Ela, entretanto, não o pegou.

-Terminou de ler? – limitou-se a perguntar a Imperatriz.

-Sim, terminei. A senhora tinha razão, era um bom livro. Ainda que o final não tivesse sido lá dos melhores.

-Não gostou do final, então?

-Não. Achei um tanto... Inconclusivo, embora acredite que o Rei Domingos acabou por vencer no final. A princesa Cecília e o Cavaleiro Duarte se separaram, apesar do amor que nutriam um pelo outro.

Teresa Cristina riu.

-Das últimas vezes em que conversamos, você sempre disse que preferiria finais realistas a extremamente românticos. Esse não foi realista o bastante para você?

-Muito, e por isso não gostei. Se não podemos viver um amor impossível, como de um plebeu por uma monarca na realidade, que ao menos ele tenha um final feliz na ficção.

Teresa Cristina arregalou os olhos, assombrada.

-Per favore, Barão... – disse, quase que em uma súplica, olhando ao redor para ver se havia alguém perto o bastante para captar as palavras dele. Não completou seu pedido, entretanto. Era óbvio o que ela queria dizer. Quanto ao livro, o recusou.

-Já disse, pode ficar com ele. Considere-o como um presente.

Antes que o Barão pudesse agradecer, adentraram Leopoldina e Isabel. As duas princesas, igualmente bem-vestidas, já se apresentavam ao jantar. Faltava apenas Pedro. O Imperador, que como quase todas as noites estava em seu gabinete, dessa vez chegara quase em cima da hora do jantar. Comentara rapidamente sobre um compromisso que lhe demandou mais tempo que esperava, sem entrar em mais detalhes. Mauá, que rapidamente olhou para Teresa Cristina, notou nela um descontentamento que, no entanto, desapareceu em instantes. Certamente ele estava com a Condessa, pensou. Como o Imperador ousava trair uma mulher tão estonteante como a Imperatriz, ele não compreendia.

Com todos os presentes à mesa, o jantar iniciou-se. Pedro comentou com as meninas sobre os príncipes, que já estavam a caminho. Isabel parecia animada, e de imediato sentiu falta da Condessa de Barral à mesa. Pedro explicou que a Condessa não poderia estar presente naquele jantar, e mesmo que os olhares dos presentes suplicassem por uma explicação, o Imperador nada mais disse quanto ao porquê de sua ausência, encerrando o assunto. Para alívio de Teresa, que não aguentaria um jantar com a ausência da Condessa sendo o assunto da conversa.

O Barão Que Me AmavaOnde histórias criam vida. Descubra agora