O Convite Irrecusável do Imperador

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-Com cuidado... Isso. Molto bene. Está sentindo dor?

O Barão de Mauá negativou com a cabeça, em resposta a Teresa Cristina. Estava descendo as escadas da Quinta da Boa Vista pela primeira vez. Uma escada belamente construída, mas nem de longe a maior escadaria que ele já encarara na vida, e ainda assim era como se tivesse descendo uma montanha. Descia os degraus com ajuda da bengala e segurando-se ao corrimão de mármore, com Teresa Cristina e Nicolau atentos a seus passos.

-Ele parece cansado, Majestade. Tem certeza de que foi uma boa ideia fazê-lo descer?

-Bene, o Dr. Cisneiro disse que ele já poderia descer as escadas por si. Estas foram, inclusive, as últimas instruções dele antes de ir para Petrópolis. E parece que o Barão se saiu bem, non?

-Sim. – disse, já recuperando o fôlego.

-Ele disse que seria natural você se sentir cansado. Você está muito tempo deitado na cama e ainda está se recuperando da perda de sangue, mas sem dúvida está muito melhor do que quando chegara à Quinta.

-Sinal de que sua alta está mais do que próxima... – observou Nicolau, que estranhou um pouco a falta de animação entre ambos. Pareciam estar um tanto abnegados com o progresso de Mauá ou era impressão dele?

-Agora, vamos a sala! O Barão gosta de música? Gostaria de te mostrar minha coleção particular de partituras... – comentou Teresa Cristina, bastante animada, enquanto conduzia Mauá para perto do piano. Nicolau, que se limitava a observar tudo que acontecia naquela casa, jamais vira a Imperatriz tão empolgada com um hóspede, e se há uma coisa que deve ser dita, é que hóspedes ilustres na Quinta jamais faltaram. Reis, rainhas, intelectuais, artistas, todo tipo de gente famosa e interessante já passou pela Quinta como convidado da família Real, mas curiosamente o Barão de Mauá era tratado à pão de ló por ali. A Imperatriz fazia questão de acompanhar seu progresso clínico, de saber se ele havia se alimentado bem, se havia dormido bem, se desejava alguma coisa, e em especial, queria mantê-lo sempre entretido. Estava bem claro que os dias passados ali fez surgir uma improvável amizade, mas seria isso algo mais? Nicolau tinha lá suas desconfianças, mas sabia que era nesses momentos que precisava se manter reservado.

Cuidando de seus afazeres diários, estava na dispensa quando esbarrou em Zulmira, uma das cozinheiras do Palácio.

-Sabe quem eu encontrei, Nicolau? Bernardina!

-Bernardina... Não me recordo dela. – observou Nicolau, enquanto anotava em uma lista os mantimentos que precisavam ser comprados. Zulmira, ocupada a descascar alho, continuou a prosa.

-Ora essa, Nicolau! A Bernardina, lá do Palacete dos Mauá!

-Ah. – limitou-se a dizer, fingindo não estar muito interessado. Ao perceber que a cozinheira nada mais disse, e Nicolau sabia que não era de seu feitio escapar de uma boa fofoca, coube ao mordomo tentar continuar a prosa, ainda que contrariado. – Acho que lembro dela, sim. Como ela está?

-Gorda e alcoviteira como sempre foi, né? Ficou me dizendo um monte de coisa besta sobre o Barão.

-Que tipo de coisa?

Zulmira riu. – O sinhô parece estar mesmo interessado, né?

-Meu interesse é estritamente profissional, apenas. – tentou disfarçar o mordomo, mas isso só fez Zulmira rir.

-Pois vou lhe contar. Parece que o Barão pediu para a Baronesa e mais as crianças não o visitar na Quinta.

-Ora, essa! E por que ele fez isso?

-Num sei. Mas parece que a sogra dele tá uma arara, mais até do que a filha. Esse povo rico é estranho, né? O sujeito mora praticamente ao lado da Quinta e pede para a família não visita-lo... Pois eu que se fosse esposa dele não iria obedecer mermo! Ia vir, sim! Ia beijar a mão do Imperador, comer bolinho de chuva com chá, e tudo mais que eu tivesse direito como Baronesa! Obedecer a pedido estranho de marido, tenha santa paciência!

O Barão Que Me AmavaOnde histórias criam vida. Descubra agora