DIA 1

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19/07/2019

• Naquela manhã

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• Naquela manhã

Dormir foi difícil para Samantha. Tudo a incomodava. O cheiro de produtos de limpeza que infestava todo o quarto e a iluminação que entrava pelo vidro da porta que vinha do corredor atrapalhava seu sono, além da maca dura do hospital que a deixava desconfortável.

O primeiro som que ela ouviu foi das rodas do carro deslizando no asfalto fora do hospital. Seus sentidos não a deixavam esquecer aquele som que não a deixava em paz. Se dissesse que dormiu duas horas aquela noite seria muito. Sua cabeça doía, uma dor torturosa que Samanta já estava mais que acostumada, mas nunca iria se habituar à aquilo, nunca.

Era torturoso, sabia que não era causa dos remédios, talvez apenas das numerosas noites mal dormidas que cresciam cada vez mais ou talvez realmente fosse o remédio, aquele que tomou para tentar se matar ou a consequência de cortar tão fundo em seu pulso para precisar de pontos.

Como Samanta queria voltar a sentir aquela dor de seu pulso naquele momento, por que enfim entendeu que a causa de sua dor não era nenhuma que havia listado em sua cabeça e sim aquela dor que ela sentia ao pensar demais, apenas ao existir ou respirar. Tudo doía, ela apenas queria fazer aquilo parar.

A dor em seu pulso era muito menos dolorosa.

Na verdade Samanta nem se lembra de sentir dor em se cortar.

Como ela queria voltar a dormir e silenciar todos aqueles pensamentos mórbidos que não a deixavam nunca.

Ficou estática apenas esperando que seu sono retornasse, ela não queria voltar para aquela realidade.

A porta abriu. O som de passos de duas pessoas entraram dentro do quarto. A parta volta a fechar. Seus olhos se recusaram a abrir, ela só queria dormir.

- Sua entrada será nessa manhã, assim que acordar. - A enfermeira sussurrou quebrando o silêncio do quarto. Samanta franziu o cenho em confusão, imperceptível para as pessoas que estavam no quarto.

- Mas não seria melhor tê-la avisado ontem, antes dela dormir? - Avisar o que? Era a pergunta que se passava na cabeça de Sam. Do que sua mãe falava? - Ela vai descordar e irá resistir.

- Por isso não podemos dar tempo para ela temar contra. - A enfermeira sussurrou de volta em um tom calmo e frio. - A internação na clínica Santa Casa da misericórdia será o melhor para ela...

A descontentação que sentiu foi maior do que qualquer dor física e emocional que sentia naquele momento. Samanta gemeu quando se deu conta do que elas falavam interrompendo a enfermeira.

Se levantou bruscamente não dando chance para que nenhuma das duas tivessem alguma reação.

- Eu não vou! - Sentiu a dor piorar e uma tontura vir quando levantou rápido demais da maca. Aos poucos ela caia na realidade, era óbvio que sabia o que era a clínica Santa Casa da Misericórdia e ela não queria ir para lá.

Sua vida já estava ruim o suficiente.

Vacilou uns passos tremolos para frente, ainda desnorteada pelo sono. Sua mãe a segurou para que não caisse a mantendo firme ao chão.

- Isso será o melhor para você, Samanta. - A mãe tentou convencê-la com os olhos queimando em pena. Samanta também sentia pena de si mesma.

- O melhor para mim ou para você? - Perguntou rispidamente, fazendo qualquer sentimento de piedade sumir do olhar de sua mãe sendo substituído por uma frieza que apenas acendeu uma raiva conhecida em Samanta.

- Samantha, não seja egoísta, as coisas aqui não são apenas sobre você.

- Aparentemente as coisas nunca são sobre mim, não é mamãe? - Puxou seus braços do toque de sua mãe saindo correndo do quarto, apenas empurrando a porta para sair, ouviu a enfermeira gritar em uma situação em que sua mãe ficou imóvel sem ao menos tentar para-la.

Não sabia o que fazer, seus pensamentos estava conturbados, ela não sabia o que queria ou onde ir, mas sabia o que não queria e onde não queria ir. O corredores eram brancos e a luz fazia seus olhos queimar, tudo em seu corpo dilatava.

Dilatava e dilatava.

As pessoas a olhavam, ela sentia os olhares, no entanto, era sua última preocupação.

Dilatava.

A saída se aproximava cada vez a cada passo, queria sair dali, suas pernas estavam ainda pesados pelo medicamento que tomou na noite anterior. Quando sentiu uma mão a agarrar pelo braço, então várias mãos a cercaram, sentiu seu corpo ser levantado do chão, sua boca abriu quando sua vontade, seu corpo estava trêmulo e sentia que sua garganta doía, mas não ouvia o que estava gritando.

Dilatava.

Reconheceu a dor da agulha em seu pescoço. Pela primeira vez ouviu o grito de dor estridente escapando por sua boca. A escuridão a preencheu. Enfim pode dormir.

O seu corpo não dilatava mais, então.

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⏰ Última atualização: Jul 26, 2022 ⏰

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