🦢2. 𝗗𝗼𝗰𝗲 𝗰𝗼𝗺𝗼 𝗯𝗼𝗹𝗼 𝗱𝗲 𝗯𝗮𝘂𝗻𝗶𝗹𝗵𝗮

12 1 0
                                    


Nem todas as verdades são para todos os ouvidos.❞ - Umberto Eco


Myra Ramesh

O verão era agradável e quente e minha vida era doce como um bolo de baunilha. Meu coração era saltitante; dourado e prata brilhava sobre meu peito em uma corrente que meu pai havia dado antes da guerra. Era um escapulário e dentro tinha uma foto minha e dele quando nasci.

Eu estava me apaixonando por alguém pela primeira vez, tudo parece soar tão intenso, bobo, inocente, e feliz quando volto a essa época em minha mente. Quando estava quente sempre entrávamos no lago cercados de lírios, tirávamos nossas roupas e nos beijávamos ao som das calmas ondas de água e passarinhos amarelos. Sabe a sensação boa das ondas da água pelo seu corpo ao se deitar na cama, após um longo dia dentro dela? Eu não sabia explicar cientificamente porque aquilo acontecia, talvez fosse somente a lembrança da mente daquele momento refletindo fisicamente, mas era assim que me sentia.

Ela dizia que o lago era assombrado segundo algumas pessoas, e brincava que jamais escolheria ali para assombrar, que não via a hora de terminar o ensino médio e vazar da cidade, se tornar uma grande estrela pois sonhava em ser artista. Eu disse que ele não era assombrado com um certo tom de certeza que a deixou encabulada "Como você sabe disso?" "Bom.. eu apenas sei." E não era assombrado, Lilian, não ainda.

Lilian tinha os cabelos castanhos ondulados, bochechas corpulentas apesar de ser magra, seios fartos para sua idade que sempre ficavam escondidos abaixo de moletons largos, pele clara, olhos pequenos e verdes. Ela era cazaque, mas sua família teve que se mudar para outro país bem cedo. Por conta disso, as pessoas pegavam no seu pé.

Na escola tudo parecia normal, uma vida de uma garota normal no leste de Sant Klaus. A monitora, era bem rígida, e estava sempre nos vigiando. Mas Lilian sofria muitos ataques na escola dos alunos maiores. Ninguém além de mim a respeitava. Ainda sim, estar com ela fazia os dias valerem a pena. E eu sempre a defendia bravamente, como na vez que William zombou a aparência magra de Lilian, que estava passando por um momento difícil em casa inclusive, comendo na escola o máximo que podia para não dormir com fome. Então nunca me arrependi de ter lhe lado um chute entre as pernas. Após esse dia ele nunca mais zombou de Lilian, apesar de estar sempre por um fio de me bater de volta. Esse dia eu vi seu sorriso maldoso sumindo do rosto, não há nada que um garoto se preocupe mais do que com seu próprio pau.

Outro dia enquanto estávamos entediadas Lilian passou um trote comigo na intenção de fazer com que William se apaixonasse por mim e eu partisse seu coração, eu fingia ser outra pessoa pelo telefone é claro, e isso durou semanas. Confesso que achava bem divertido por um tempo, mas as vezes sentia que Lilian no passado já tenha tido um crush por ele, ou ele fez algo antes mesmo de nos conhecermos, pois havia ódio em seu olhar. Ele quase caiu, até mesmo queria marcar um encontro, mas abortamos a missão por ali mesmo e resolvemos contar quem eu era só para ele aprender a lição, o pior é que após isso ele estava mesmo dando em cima de mim às vezes. Apesar da aparência dele ser como dizem "padrão", ele nunca foi visto com nenhuma garota.

Até que tudo mudou. Um dia antes fomos pegas fumando maconha no banco do lago em que escrevemos nossas iniciais. Tive uma detenção e foi nesse dia que faltei - estava com febre, foi o que eu disse para meus pais - que eu tive um sonho angustiante. Eram como imagens roubadas do imaterial, que invadiam meus sonhos e causavam angústia. Elas sempre me torturam durante meu sono porque eu sempre sei que algo terrível aconteceu ou vai acontecer, mas aquela foi a segunda vez que aconteceu. A primeira foi quando meu pai foi para guerra, mas por um milagre ele sobreviveu, entretanto seus companheiro morreram naquela noite e ele nunca mais foi o mesmo. Lilian escapou da detenção, aliás, ser filha da monitora havia as suas vantagens não é? Acho que não. Esqueci de citar antes, mas era por isso que ela era tão rígida em específico com a gente, ela era sua mãe. As crianças, se é que podíamos chamar assim, tinham ainda mais raiva dela por isso. Quanto mais a mãe tentava protegê-la, parecia que pior outros reagiam.

O canto do cisneOnde histórias criam vida. Descubra agora