🦢1. 𝗔 𝘃𝗲𝗹𝗵𝗮 𝗴𝘂𝗮𝗿𝗱𝗮

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Somos feitos da matéria dos sonhos;
nossa vida pequenina é cercada pelo sono❞
- William Shakespeare

Os faraós creditavam muita importância aos sonhos. Recorriam aos adivinhos para interpretarem o que haviam sonhado e então tomar algum tipo de decisão. Acreditavam que os sonhos continham mensagens para o futuro, que através deles os deuses entravam em contato com os humanos. Mas e se não somente eles tivessem o poder de nos trazer mensagens do futuro mas nós também pudéssemos tomar o controle deles, mudá-los, e direcioná-los para o que queremos. E se nós tivéssemos mais poder do que um dia sequer pensamos sobre os deuses e universo através desse portal ao imaterial?

O trem para sua cidade natal partia, Myra estava com seu tradicional travesseiro para viagens, óculos escuros e casaco bege, com vestes pretas por baixo. No bolso sua arma, um maço de cigarros ainda fechado, um mini caderno de anotações que havia um esboço de um desenho ainda sem cor na capa, e, uma carta que havia recebido. Seus cabelos ainda eram loiros pérola, que iluminavam um pouco seu rosto pálido e sem maquiagem.

Há um som de apito soando como o do trem que lentamente ficava mais baixo. De repente ela escuta um apito ininterrupto seguido de um sussurro frio em seu ouvido "Você pode me escutar agora?". E a sensação era como um mergulho sem volta em águas quase congeladas, a respiração faltando, a água sendo consumida pelos pulmões, as forças se esvaindo do corpo. Até que com a parada do trem, e seu respectivo apito forte tocando novamente, ela desperta. Estava tendo um daqueles pesadelos.

Uma visita ao túmulo de Valerie sempre é crucial ao retornar, as flores são renovadas. O maço de cigarros é retirado do bolso. Abrindo-o ela retira alguns e deixa os outros em cima da lápide.

- Bom Valerie, ao menos eu diminui bastante, não me julgue. - Ela da um longo suspiro. Acendeu um deles e fumou. - Você sabe, esperança é algo perigoso para uma mulher como eu ter... Mas eu tenho. Ainda sim temo que no meu túmulo não tenham flores nem com o passar do tempo, será só a fria massa cinzenta de concreto...

O gato preto de Valerie seguia andando pelas ruas e sempre sabia quando Myra havia chegado na cidade, indo a receber com uma bela esfregada em suas pernas com o rabo para cima que indicava que estava feliz em revê-la. Apesar de nunca poder ter tido um por conta da alergia do pai e a falta de tempo para cuidar de mais alguém, a detetive passou bom tempo observando os gatos alheios. É nítido que eles tem uma personalidade única, cada um deles, obtém individualidades, e tem favoritismos inclusive em tutores. Acho que Myra, fora a escolhida pelo gato ainda sem nome. Acho que até mesmo seria possível provar futuramente que eles possuiam consciência maior do que mostravam, e podiam até mesmo sonhar e ter pesadelos como nós humanos. De fato, ele havia ajudado Myra em seu último caso.

Chegando no colégio para palestra que havia sido convidada, seu cabelo estava preso e com mechas da franja soltas graciosamente como nunca antes, e estava usando um gloss suave cor de pêssego. A escola tinha uma paisagem bonita com árvores, flores de lírio e arbustos bem cuidados, há alguns metros um grande lago nos arredores chamado de "Lago dos cisnes", era um dos maiores lagos da cidade com dois grandes cisnes que lá viviam há 20 anos. Era comum observar vários pássaros Veste-amarela, que cantavam em melodia como em um recital. Havia dois bancos de madeira em sua borda e um deles tinha uma escritura marcada com canivete com duas iniciais, lembrava que a maioria dos alunos iam até lá para fazer coisas que ninguém mais poderia saber ou ver, então aquele lago guardava inúmeros segredos. Talvez por isso ao passar por ele sua atmosfera era sempre enigmática, um nevoeiro azul escuro mas ao mesmo tempo cintilante como o céu estrelado de Van Gogh. Além do mais, o canto dos cisnes ao fundo era intrigante, ao mesmo tempo que melancólico.

O canto do cisneOnde histórias criam vida. Descubra agora