𝐌𝐄𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎 𝐌𝐎𝐑𝐈 ━━━ 𝐋𝐄𝐎𝐍 𝐊𝐄𝐍𝐍𝐄𝐃𝐘

━━━ 𝟎𝟏.

O resto da viagem foi silenciosa. O ar estava espesso com palavras não ditas, mas Wanda parecia perfeitamente calma sentada no banco ao seu lado, olhos na estrada, postura relaxada.

O sol estava se pondo ao Oeste quando o policial O'Connel precisou interromper a viagem, enquanto o seu companheiro puxava o cigarro para os seu lábios com animação. Seus olhos se estreitaram para o reflexo de Leon e Wanda à sua frente.

"Vocês fumam?", ele perguntou.

Leon dispensou o policial com um aceno.

A luz da tela do celular sobre as suas pernas oscilou, iluminado seu rosto de baixo para cima, anunciando a mudança das horas, uma interrupção à calmaria: vinte minutos haviam se passado e O'Connel ainda não tinha retornado.

Suas sobrancelhas se uniram em um ângulo confuso, mas foi o seu parceiro quem quebrou novamente o silêncio. "Ele já deveria ter voltado. Talvez tenha caído...", murmurou, "Será que vocês podiam dar uma olhadinha?"

Wanda se virou lentamente, uma sobrancelha arqueada sobre um olho relaxado enquanto finalmente lhes davam atenção. "Mas que bela ajuda"

Wanda e Leon saíram do carro em uníssimo, as botas farfalhando sobre as folhas úmidas que cobriam quase todo o terreno. Wanda olhou para os ramos das árvores. Aves estranhas se empunhavam acima, seus gritos guturais causavam arrepios à suas costas. Juntos, os agentes se moveram para dentro da trilha, poucos passos por vez. Por sete metros, eles caminharam em silêncio em direção às pegadas de O'Connell, quando um estranho e familiar som do crepitar de uma lareira despertou a atenção dos agentes.

 O vento sussurrava entre as árvores, uma prelúdio inquietante para o que os aguardava. A casa abandonada, uma sombra erguida do passado, se destacava como um monumento à decadência. Leon olhava para ela com desconfiança, mal percebendo a figura ao seu lado.

Wanda, uma adição inesperada à missão, mantinha-se envolta em mistério, seus olhos sombrios escondidos sob um capuz. Leon não sabia o que esperar dessa parceria forçada, mas a tensão pairava no ar enquanto se aproximavam da casa sombria.

Era uma casa pequena e velha, cuja as paredes estavam cobertas de lodo e sujeira. Parecia-lhes abandonada, exceto, é claro, pela luz das chamas que oscilava de uma pequena janela. Os olhares dos agentes se encontraram por um segundo fugaz. Um tipo de concordância mútua e silenciosa para se aproximarem ainda mais da residência.

O caminho até a entrada principal era feito de pedras arredondadas colocadas à mão. Por uma fração de segundos, Leon sentiu os músculos do corpo se contraírem enquanto encarava a porta trabalhada de carvalho e cerejeira, com uma pesada aldrava de bronze. Ao entrar, a escuridão engolia tudo, revelando apenas fragmentos do ambiente sufocante. A respiração de Leon ecoava no silêncio, e Wanda seguia silenciosa como uma sombra ao seu lado.

Conforme avançavam pelos corredores escuros, o piso de linóleo velho rangia e as cortinas amareladas projetavam sombras fantasmagóricas nas paredes. Não havia cheiro químico ou podre e, além da poeira, tudo o que seus olhos captavam eram móveis pesados, de feitio antigo: um enorme sofá, a mesa negra, um relógio que ainda badalava e um pequeno altar com imagens estranhamente familiares para os agentes.

Totens, pensou Leon, mas que droga de ceita existe nesse lugar?  

A casa parecia ganhar vida própria, cada canto guardando um segredo obscuro. Leon sentia uma pressão em seu peito enquanto avançava pelos corredores sombrios, sua arma firme na mão. Wanda seguia silenciosamente, seus passos quase inaudíveis. "Cuidado com as sombras. Elas têm olhos aqui."

Leon lançou um olhar de relance para ela, surpreso pela profundeza das palavras. A atmosfera tornava-se mais densa, o ar impregnado com o fedor da decadência. O primeiro gemido distante ecoou, anunciando o pesadelo que se aproximava. Enquanto Wanda se aproximava, Leon abria a porta que dava para a cozinha. O crepitar da lareira era como trovões para os ouvidos bem-treinados do agente, assim como os passos à sua direita.