Capítulo Único

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Draco, agora sentado na ponta da pedra suja, se perguntava o que tudo aquilo o trouxe no final das contas.

De súbito - ou talvez ao olhar o buquê de lírios manchados de sangue que ele tinha em mãos - se lembrou.

Imediatamente os olhos azuis acinzentados se banharam nas lágrimas que ele segurava a dias, mantendo-se forte na frente de todos - na frente sua mãe, deixando que ela chorra-se a perda de seu pai em seu ombro.

Mesmo com tudo aquilo, Malfoy não se arrependia de nada. Talvez teria feito diferente algumas coisas, mas ele duvidava que qualquer uma delas teria realmente mudado o curso de tudo aquilo.

Arrumando o sobretudo escuro sobre seu corpo ele sorriu, secando o rosto pálido e frio, suspirando com as memórias que o invadiam.

Ele se lembrava de cada momento com seu amor. Se lembra do dia em que conheceu o corvino como se fosse ontem.

Draco estava no momento mais difícil de sua vida, sentado as margens do lago negro, apoiando seu queixo sobre seus joelhos enquanto encarava a água escura.

O loiro platinado tinha as bochechas molhadas pelas lágrimas recentes, ainda se sentindo o mesmo merda de quando leu a carta de seu pai meia hora atrás, cada palavra da carta gravada com fogo em sua mente - "Se não for por mim, que seja por sua mãe." e "Faça algo certo pelo menos uma vez em toda a sua existência, garoto!".

Malfoy estava frágil. Se Potter chegasse ali e o chutasse, ele nada faria.

Se lembrava de ouvir a grama sendo amassada com o pisar de alguém a suas costas. Lembra-se de olhar por cima dos ombros, dando a mínima para o rosto molhado.

— Não queria. . . - murmurou o garoto que se aproximava, congelando no lugar, totalmente constrangido - Não queria incomodar. . .

Draco nada disse, encarando a grama verde aos pés do rapaz.

— Posso ir embora, se quiser. - o sonserino apenas deu de ombros, voltando a olhar para frente, para a água tão escura quanto o céu à noite.

O loiro não sabia o que levou o garoto a se sentar ao seu lado. Também não sabia porque ele estava ali - nem se quer porque se aproximou - mas incrivelmente ele agradecia - mentalmente, óbvio.

— Tudo bem? - perguntou receoso.

Draco ergueu as esferas azuis para o rapaz, reparando pela primeira vez em como ele era realmente.

Primeiro ele capturou os olhos. Um deles - o de cor verde - brilhava mais sobre o sol do que o acinzentado - uau, Draco pensou, ele tem olhos diferentes.

Depois seus olhos encontraram os fios castanhos escuros e ondulados e as orelhas cheias de jóias. Reparou na gravata azul - Corvinal - e nos lábios rosados - de repente ele nem se lembrava mais o porquê chorava.

— Claro - sorriu sem emoção, secando a face com a manga da camisa branca - tudo ótimo - recolheu sua carta da grama, amassando-a sobre seu bolso.

— Eu o vi de longe e. . . - se perdeu nas palavras, admirando a imensidão azulada e em como ela parecia frágil - . . .achei. . . achei que iria querer falar com alguém, ou. . . sei lá.

— E esse alguém seria você? - Okay, Draco não queria ser ignorante nem nada, mas quem o poderia culpar se sua voz em si transformava todas suas palavras como se fossem algo rude.

— Ah, claro. - sorriu sem dentes, apertando a mão em punhas ao lado de seu corpo esbelto, se preparando para levantar - tem razão. Deixe-me ir então e você. . .

— Não, espera! - apertou o pulso do corvino por entre sua mão em um ato impulsivo, deixando que o garoto sentisse o frio de seu anel em contraste a sua pele quente, fazendo Malfoy suspirar - é só que. . . - ele voltou a se sentar - . . . é complicado. . ? - soava mais como uma pergunta. Draco era péssimo em desabafar, fazia ele se sentir fraco.

Lírios Para Todos os Lados - Draco MalfoyOnde histórias criam vida. Descubra agora