Era uma noite como outra qualquer. Mais uma noite solitária e cheia de nada pra fazer.
Não tinha amigos com quem sair, nem namorado para planejar um fim de semana a dois.
Só lhe restavam a solidão e o computador. Ah! Esse sim era seu amigo, companheiro de todas as horas.
Não tendo o que pesquisar na Internet, Marília acessava sites aleatórios, buscando algum conhecimento a mais, algo para passar o tempo.
Numa dessas entradas em sites provedores, descobriu uma sala de bate-papo. Tinha horror às salas de bate-papo!
Tempos atrás, gostava de acessar essas salas, mas nunca encontrou sequer uma amiga com quem desabafar seus problemas.
Todas as mulheres com quem conversava estavam em busca de relacionamentos com homens disponíveis, e não em busca de amizades.
Marília nunca entrou nessas salas à procura de homens virtuais. Achava uma tremenda bobagem os papos que via rolar nessas salas. Homens conversando com mulheres, sugerindo coisas como se estivessem um em frente ao outro.
Não! Marília preferia a realidade ao mundo virtual. Mesmo sem ter muitos amigos e relacionamentos amorosos, nunca quis recorrer aos encontros virtuais.
Mas hoje era uma noite diferente. Hoje ela estava deprimida, com raiva do mundo, naquelas noites em que dá vontade de pedir a Deus: "Para o mundo que eu quero descer!".
Nessa noite Marília estava desiludida com os homens, com as amigas, com a família. Com os seres humanos de modo geral! Achava tão simples viver e não entendia por que complicavam tanto as coisas.
Se uma pessoa gosta de outra, por que não demonstrar isso sempre, fazendo tudo o que o outro gosta? Por que não conversam calmamente quando sugia um ponto de vista diferente?
Nesse auge da desilusão, Marília visitou uma sala de bate-papo. Displicentemente. Só queria ver o que conversavam atualmente. Se já haviam passado daquela fase grosseira de sugerirem sexo virtual. Começou a ler, em voz alta, os diálogos, com sarcasmo na voz:
Suzaninha diz:Olá, Guerreiro, quer tc comigo?
Guerreiro diz:Tudo bem, gata! De onde você é?
Fez uma cara de desdém e pulou para conversa de outros internautas:
Feijãozinho: Oi, Flor de Lis! Quanto tempo, garota!
Flor-de-Lis:Oi, Feijãozinho! Que saudade! Onde tem andado?
"Feijãozinho? Que nick horroroso! Não está vendo logo que eu nunca iria teclar com alguém que se apelida Feijãozinho???".
Riu alto, esquecendo, por alguns instantes, a sua angústia e aumentando mais ainda seu desprezo pelos seres humanos.
Correu os olhos em outras conversas, e todas seguiam no mesmo nível. Nada havia mudado! Mais uma decepção!
Já estava para sair quando um diálogo chamou sua atenção:
Vampiro diz: Sim... sou um vampiro de verdade!
Sophie diz: Como pode provar?
Vampiro diz: Não preciso provar nada pra você, doce mortal!
Sophie diz: Quantos anos você tem?
Vampiro diz: 487.
Sophie diz: Ok. Vamos fazer de conta que acredito. Conte-me alguma coisa que viu durante esse tempo de existência...
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O Vampiro da Internet
FantasyA solitária Marília parece ter encontrado um meio de trazer mais ânimo à sua vida: a sala de chats da internet. Ao acessar uma delas, Marília o faz como passatempo, sem grandes expectativas. Mas logo percebe um inusitado frequentador de sala de bate...