Os dias se passaram, mas aquela sensação nos lábios não saía de Marília. De vez em quando, passava as costas das mãos neles, como se quisesse limpá-los de alguma coisa suja.
Era sábado novamente, e Marília resolveu entrar na internet. Não queria ir para salas de bate-papo, mas, quando se deu conta, já estava acessando-a. Entrou mais como um desafio. Como se tentasse provar pra si mesma que tudo foi uma fantasia passageira.
Entrou e respirou aliviada quando viu que "seu amigo" não estava lá.
Correu os olhos pelos diálogos e não viu nada interessante. Já estava saindo, pensando em ler um livro, quando ele entrou.
Seu coração deu um salto, mas não havia motivo para tal. Estava convencida: "Ele é apenas um hacker que está tentando me dar um golpe.".
Acessou seu nick.
Solitária diz: Olá. Como vai, amigo "Vampiro"?
Vampiro diz: Por que esse "vampiro" com aspas? Ainda tem dúvidas, mesmo depois da nossa conversa? Pensei que você fosse mais inteligente...
Solitária diz: Sou sim, e por isso é que não vou cair em sua conversa de novo! Se quiser conversar, converse como o ser humano normal que você é, e daí poderemos levar um papo legal. Se não, é melhor sairmos.
Vampiro diz: Ok. Se é assim que deseja... Não vai nem querer saber sobre a minha surpresa?
Solitária diz: Não! Não quero nada que venha dessa história maluca. Quer teclar normal?
Vampiro diz: Como quiser... Meu nome é Gustavo. Tenho 33 anos e sou técnico em informática. E você?
Solitária diz: Ah! Agora melhorou! Meu nome é Marília e sou assessora de imprensa. Onde mora?
Vampiro diz: Atualmente, estou morando numa cidade em São Paulo que leva seu nome: Marília. Que coincidência, não? E você, onde mora?
Solitária diz: Pois é! Que coincidência! Moro em Recife-PE.
Marília mentiu, já que tinha medo de divulgar informações pela internet. Achou que já havia falado demais dando seu nome correto.
Vampiro diz: Dizem que essa cidade é muito linda. Mora sozinha, não é?
Solitária diz: Sim. Moro só.
Essa informação era verdadeira e Marília decidiu que, à medida que teclasse, decidiria o que informaria de concreto ou não.
Vampiro diz: Eu também moro só. Aliás, tenho um amigo de quatro patas. Meu "Gárgula". É a minha única companhia há alguns anos. Gosto de tê-lo por perto. Dá-me a impressão de que tenho amigos.
Solitária diz: E você não tem amigos?
Vampiro diz: Tenho alguns colegas de trabalho, alguns vizinhos, mas nenhum amigo que me visite, que ande em minha companhia.
Solitária diz: Por quê?
Vampiro diz: Não pergunte por quê. Você sabe a resposta, mas prometemos mudar o rumo da conversa para o nível humano, não foi?
Solitária diz: Não comece....
Vampiro diz: Você quem começou e infelizmente acho um desperdício, já que agora você é só mais uma no meio de tantas mortais que conheço. Preferiria conversar em outro nível.
Solitária diz: Você é impossível mesmo, hein? Quer que eu acredite nessa história de vampiro de qualquer jeito, não é? O que você ganha com isso, vivendo nesse mundo irreal que você criou? Desse jeito vai acabar precisando que um psiquiatra... (risos).
Vampiro diz: Eu não ganho nada com isso. É você quem perde. Perde por não querer saber as verdades que teimam em aflorar à sua mente. Perde por não voltar a utilizar os dons a você concedidos. Perde por teimar em viver nesse mundo de ilusão e pode ainda correr o risco de morrer como uma mortal qualquer e só daí descobrir o que perdeu.
Solitária diz: Para com isso! Não comece de novo! Vou sair da sala, ok? Já que você insiste com essas insanidades!
Vampiro diz: Ok, minha querida, mas antes me responda:
GOSTOU DO BEIJO????
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Vampiro da Internet
FantasyA solitária Marília parece ter encontrado um meio de trazer mais ânimo à sua vida: a sala de chats da internet. Ao acessar uma delas, Marília o faz como passatempo, sem grandes expectativas. Mas logo percebe um inusitado frequentador de sala de bate...