VIII

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Marília encontrava-se imóvel em frente ao micro, saboreando seu episódio com a poderosa Catarina Moraes. Sorrindo, lembrava-se de como a megera passara a dirigir-se a ela de uma outra forma, por assim dizer, mais cautelosa...

Não mais riscava seus trabalhos por puro capricho e passara a ensinar-lhe os trabalhos sem a prepotência costumeira.

Daquele dia em diante, Marília detectou um novo sentimento partindo dela:

Respeito. E com isso, descobriram-se grandes amigas. Revestida de uma nova personalidade, Catarina se apresentava mais solícita, mais próxima dela. Como se, de repente, tivesse descoberto que Marília não era o "serzinho insignificante" que ela pensava que fosse... E Marília também se descobrira muito mais do que imaginava...

Voltando à realidade, Marília viu que relegara seu amigo vampiro ao segundo plano. A luz da tela do monitor refletia em sua roupa, causando um efeito "luz de boate" em seu peito.

Por um momento Marília imaginou que o vampiro tivesse ido embora, provavelmente cansado de esperar por uma mensagem sua, mas o que ela leu, deixou-a ainda mais confusa:

Vampiro diz: E então Marília? O que me diz depois das suas lembranças?

Travando uma luta interior, Marília decidiu dar-se por vencida.

Solitária diz: Ok, Vampiro. Não vou ser hipócrita e lhe dizer que as suas sugestões não me trouxeram lembranças, nem vou me dar ao trabalho de lhe perguntar como é que você sabe disso. Confesso que me fez refletir sobre a possibilidade de os seres humanos serem mais do que imaginam, mas isso não os eleva a nenhum nível de paranormalidade ou seres diferentes, especiais ou sei lá que nome quer dar. Pelo que me consta, esses sentimentos são comuns nas pessoas e, geralmente, chamados de coincidência, sexto sentido, instinto, intuição, premonição ou algo parecido. Por que você diz que não são todas as pessoas que possuem esses, como direi... dons?

Vampiro diz: Não se subestime, Marília. Sei que seu raciocínio é rápido o suficiente para você mesma tirar suas conclusões, mas como prometi lhe dar uns empurrõezinhos, aí vai: o que torna essas pessoas... hum... especiais, diferentes, é a capacidade de controlar esses dons.

Solitária diz: Controlar? Você quer dizer que assim como posso controlar minha visão abrindo e fechando os olhos, ou cantar num momento que quero, eu posso controlar a vontade de... de... Vampiro diz: Isso mesmo! Vá em frente! Continue usando seus instintos!

Solitária diz: ... a vontade de QUERER???? Ah! Poupe-me, Gustavo! 

Vampiro diz: Vamos lá, princesinha... Vamos lá, não desista! Você QUER acreditar, por que luta? Não desista agora, por favor...

Suas últimas palavras pareciam diferentes. Havia súplica nelas...

Marília inalou profundamente um ar que teimava em abandonar seus pulmões.

A ansiedade bloqueava sua respiração. Um misto de arrependimento e curiosidade digladiava-se dentro dela. Há poucos instantes havia decidido baixar a guarda, mas o pirronismo era mais forte que a sua vontade. Insistia em resistir àquela insanidade.

Forçou-se a ir de encontro a essa vontade e se expôs para ele. Não sabe ao certo se foi o seu tom de súplica que a fez enfraquecer.

Solitária diz: Então, você quer dizer que os seres humanos possuem algumas espécies de dons que os fazem mais do que simples mortais esperando pelo seu destino implacável? Deixe-me ver se entendi: vou supor, eu disse: SUPOR, que tenhamos algo mais que simples instrumentos de sobrevivência. Suponhamos que, ao deixarmos de crer que tudo é obra do acaso, mera coincidência ou coisa parecida e acreditarmos que, em algum determinado momento, as coisas simplesmente "obedecerão" ao nosso comando, as coisas assim o serão? É isso que quer dizer?

O Vampiro da InternetOnde histórias criam vida. Descubra agora