Uma Nova História (Em Revisão)

Prólogo

Lembro-me como se fosse ontem, minha mãe e eu arrumando nossas poucas coisas em caixas de papelão e fechando as com fita durex o mais rápido que conseguiríamos, a ordem de despejo já havia sido dada, mas não era qualquer ordem fomos obrigadas a nos mudarmos para outra cidade repentinamente pois meu falecido pai havia se envolvido com coisas erradas, sorte a nossa que um deles era nosso "amigo" como o mesmo teve a audácia de nos dizer, justamente quem o velho mais confiava e por isso nos meteu em roubadas por diversas vezes, por confiar demais foi criando segurança nos que ele achava ser seus fiéis soldados prontos pra morrer na guerra, o que foi motivo suficiente para seu encorajamento em cometer o pior erro de sua vida; enfrentar cara a cara quem não deveria, infelizmente o resultado já era esperado, obviamente depois desse feito seus "aliados" começaram a mostrar suas verdadeiras faces, e novamente nos metemos em uma emboscada, infelizmente dessa vez meu velho não teve a mesma sorte, e nem ao menos pudemos lhe dar um último adeus.

- Eu avisei, disse por diversas vezes para não meter aquele focinho gordo aonde não havia sido chamado, mas ele me ouviu, é claro que não! (Disse Robson para minha mãe que ainda estava em prantos após saber do ocorrido).

Mesmo nervosa sua preocupação naquele momento era apenas uma.

- O que vai acontecer com a gente agora? (Ela pergunta aflita e com medo da resposta).

- Com vocês absolutamente nada, a não ser que teimem em continuar morando aqui, por isso mesmo eu vim pessoalmente avisar que não podem mais ficar nem um dia sequer.

- Mas para onde vamos ?

- Isso aí, é um problema de vocês, já faço muito convencendo os a deixarem as donzelas vivas. Agora vamos, chega de corpo mole e terminem de retirar logo essas tralhas daqui.

O mais depressa possível terminamos tudo e partimos rumo outra cidade, nosso único dinheiro era uma reserva secreta de minha mãe, tão secreta que nem mesmo meu pai sabia, mas com toda certeza agora ela está super aliviada por ter nos escondido isso, caso o contrário estaríamos literalmente na rua.

Mesmo sem conhecer o novo local que iriamos morar minha mãe só tinha uma certeza o quanto mais longe melhor, decidiu então descer no ponto final do primeiro e único ônibus que pegamos, ao desembarcar em nossas mãos haviam apenas três caixas pequenas e algumas bolsas de plásticos penduradas no braço, materialmente não tinhamos mais nada além disso, fisicamente exaustas e sem lágrimas, mentalmente abaladas e espiritualmente gratas por ainda estarmos com vida.
Com a reserva alugamos uma kitnet que apesar de bem pequena, para nós duas era o suficiente os proprietários eram um casal de idosos bem humildes, que até nos permitiram usar alguns moveis que ali já haviam, com dois meses de aluguel adiantados, nós entramos em nossa nova casa, respirando aliviadas o ar de um novo recomeço e para nos sustentar com o que sobrou começamos a vender doces na rua; no mesmo mês eu já estava matriculada na escola, e nao demorou muito pra ficarmos conhecidas no bairro pois os doces da dona marcela (vulgo minha mãe) eram simplesmente maravilhosos!

Apesar de nossa mudança ter sido por um motivo ruim, em pouquíssimo tempo já havia feito muitos amigos dentro e fora da escola e podia ter certeza de que naquela pequena cidade minha mãe e eu éramos realmente respeitadas, já que seria quase impossível alguém fazer doces melhores do que o dela, diga-se de passagem.
Apesar do que aconteceu estávamos felizes, morando longe de tudo aquilo que nos assombrava, mas que infelizmente já éramos habituadas. Outra casa, outra cidade, era tudo o que precisavamos e mesmo tendo me sentido deslocada no início sem saber como me encaixar nesse novo lugar, não demorou muito pra que eu percebesse que novos ares, trazem novas experiências e aprendi a gostar de mudanças desde então, pelo menos de algumas.

Foram dois anos maravilhosos meus amigos e eu éramos inseparáveis, nós brincávamos todos os dias de tudo, inclusive de barro. Ah!, o cheiro de terra molhada sempre foi meu predileto, eram incontáveis brincadeiras, guerra de mamonas, pique esconde, pique pega, bandeirinha,amarelinha,corda, elástico,queimado,cinco cortes, pique garrafão e tantas outras, naquela época era tão fácil se divertir, a imaginação fluia e podíamos ser o que escolhemos ser, ora mocinho ora vilão, ora policial ora ladrão, somente os famosos gritos de - está na hora do jantar! nos faziam lembrar que tinhamos que comer, até por que como dizem saco vazio não para em pé.
Na sala de aula o famoso bonde do fundão, éramos a alegria da sala de aula e consequentemente o terror da professora, mas era tudo tão inocente

me emociono ao lembrar desse tempo que foi e sempre será o melhor da minha infância com toda certeza, era tudo simplesmente perfeito e foi justamente nessa época que o conheci. Alguns anos mais velho, mas isso não me impediu de ter por ele minha primeira paxonite, éramos como Pucca e Garu, ele vivia fugindo de mim por que não queria demonstrar sentimentos nem dar motivos para as outras crianças nos zoarem, mas no fundo ele me adorava ! Quando estávamos sozinhos conversávamos, brincávamos e éramos sinceros sobre os nossos sentimentos, certo dia fizemos um coração com nossas iniciais em uma árvore pra eternizar esse primeiro amor de infância que é tão puro, e eu realmente me via sendo sua namorada alguns anos depois, mas infelizmente tudo mudou quando tivemos que nos mudar novamente dessa vez a trabalho e para um lugar bem distante.
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8 anos depois...

O som daquela voz me pareceu familiar, um calafrio percorreu pela espinha me impedindo de decidir rapidamente se me virava ou se continuava seguindo meu rumo. - Não pode ser ele (sussurrei para mim mesmo) no entanto a curiosidade falou mais alto. Fitei seu olhar, enquanto ele vinha em minha direção, sim era ele mesmo sua voz apesar de agora um pouco mais grave era inconfundível e me prendeu em apenas três palavras. - Nossa, quanto tempo!

Em suas mãos uma guloseima, aquele cheiro me remeteu a nostalgia, me levou de volta a infância fez-me lembrar de um passado onde as coisas eram mais fáceis, onde não havia maldade e em tudo se via beleza, um lugar onde o amor é puro e completamente verdadeiro sem julgamentos, nem mágoas ou mentiras apenas o mais divino amor, e enquanto me perdia em meus pensamentos, sorri ao perceber que nesse tempo que foi tão bom pra mim ele já estava lá e que agora parado em minha frente nada me impedia de lhe dizer o que ficou guardado há anos.

_Sim, bastante tempo!