Quarto Capítulo.

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Após a faculdade pegamos carona com Joohyun que decidiu passar em uma cafeteria qualquer antes de nos levar para sua casa, todas nós comemos bem e bebemos graças a SooYoung que perdeu na jogatina de Porrinha*. A mulher se fingia de brava somente para fazer charme, não temos culpa se a mesma é ruim em qualquer jogo que decidimos jogar.

– Quero deixar bem claro que eu só perdi porque Yuri fez a minha cabeça, ok? Não teria chutado tão alto se essa cobra não tivesse me manipulado. – Soo mostrou a língua para Kwon, que retribuiu de maneira tão infantil quanto.

– Eu literalmente só perguntei se você tinha certeza do número que falou! – Defendeu-se levantando a voz.

– E isso me fodeu. Você sabe que sou insegura! – Rebateu aumentando ainda mais o tom.

As duas permaneceram nessa briga boba até a mais velha dos Kim se cansar. Joohyun freou sua BMW X7 repentinamente. – Escutem, as duas. Calem a boca agora, caso contrário as tiro de dentro deste carro aos tapas! – Ameaçou voltando a dirigir em seguida.

– Culpa sua! – As garotas que antes discutiam, agora se culpam simultaneamente aos sussurros.

Seulgi e eu rimos da situação que acabará de acontecer. Nunca me canso desse caos que é sairmos as cinco juntas. O silêncio pós discussão é constrangedor, elas não estão chateadas uma com a outra, até porque sempre estão discutindo e depois se lambendo, mas dessa vez, com Joohyun irritada sabe-se lá o porquê, o clima ficou meio esquisito. Hoje mais cedo ela parecia tão tranquila comigo no gramado do campus e agora está tudo tão estranho. Seu humor mudou logo após ela sair da minha vista.

Estacionamos em frente aquela casa belíssima, imagino o quanto não custou para construí-la.

– Bem, você já sabem, sintam-se em casa! – Seulgi entrou primeiro, após dizer tal frase. Entramos em seguida.

Joohyun terminou de manobrar o carro, sendo assim a última a passar pela porta. Duas vozes foram ouvidas vindo da cozinha, uma conhecida e a outra não, mas ambas femininas. Todas nós fomos até o local de onde o murmúrio vinha para saber o que acontecia. As gêmeas sorriram instantaneamente ao avistarem uma mulher bela e de fios loiros parada ao lado da mãe delas que se encontrava sentada e com uma expressão séria, mas não preocupante.

– Sunmi! – Ambas correram em direção da mulher na intenção de abraça-la. Ouvir aquele nome me trouxe uma breve lembrança, Joohyun comentou mais cedo sobre essa mulher, ex-namorada de sua mãe e atual assessora da mesma. Como eu devo me sentir com isso? – Nós sentimos sua falta, você simplesmente sumiu. – Completou Seulgi.

A mulher na casa dos trinta e poucos anos deu um último gole em sua cerveja antes de retribuir o forte abraço. TaeYeon revezava olhares entres as três se abraçando e eu, de quebra deu uma olhada sem graça para Yuri que encarava Sunmi com um olhar triste, como se tivesse lembrado da época em que gostava da Tae.

– O que você faz aqui? Aconteceu alguma coisa no trabalho da mamãe? – A voz mansa de Joohyun me causou estranheza, agora há pouco ela faltava soltar fumaça pelas narinas.

TaeYeon levantou e caminhou até suas filhas, sua mão direita repousou sobre a cabeça de sua filha mais velha e afagou o local.

– Não se preocupe, meu amor. Nada aconteceu. Estamos apenas casualmente resolvendo como prosseguir com um assunto em particular. – O olhar inocente de TaeYeon para com suas filhas aquece meu coração.

– Particular é? – Insinuou Yuri com a sobrancelha levantada, mas em tom divertido.

– Supera isso, Kwon. – Rebateu Sunmi rindo.

Me sinto extremamente deslocada aqui, eu perdi alguma coisa nesse tempo em que deixei de vir na casa das gêmeas?

– Relaxa, Fany. Libera essa tensão. – SooYoung passou seu braço por entre meus ombros, me abraçando lateralmente. – Com essa cara fechada, parece até que está com ciúmes. Não fica assim, ok? Você sempre estará no coração molenga da Yul!

Pff... Quem dera fosse Yuri quem me deixa enciumada. O que me preocupa é essa loira bonitona, como vou ter chances desse jeito? Joohyun fez todo um discurso mais cedo dizendo que não gosta dos antigos relacionamentos da sua mãe para agora estar abraçando Sunmi. Que ridículo.

– E você é? – Falando no diabo. A mulher apartou o abraço e se aproximou de mim com um sorriso convidativo. – Me chamo Lee Sunmi, prazer! – Estendeu sua mão.

– Stephanie Hwang, o prazer é meu! – Forcei um sorriso.

Também não sei explicar o porquê de eu estar tão chateada, meu relacionamento com TaeYeon sequer é público, logo, não posso exigir nada da parte dela, muito menos que a mesma se afaste de sua assessora.

Sunmi aumentou o sorriso ao ouvir meu nome. Segurando firmemente minha mão a mulher me puxou para um abraço repentino, por cima do ombro da última, vi TaeYeon com um olhar desconfiado e levemente irritada com a atitude de sua amiga.

– Ouvi falar muito bem de você, é um imenso prazer conhecer a mulher que faz nossa grandiosa TaeYeon comer na palma de sua mão. – Sussurrou colada ao meu ouvido. Me arrepiei sentindo seu hálito bater contra a lateral do meu rosto.

Para não levantar questionamentos a loira cortou nosso contato e voltou para perto da Tae, percebi que a mais velha não gostou muito da nossa proximidade já que fez questão de murmurar algo no ouvido de sua amiga.

Com o clima harmonioso, tudo correu bem do começo ao fim, a conversa até que foi agradável e de certa forma Sunmi não é tão mala quanto eu pensei que fosse. Todas, com exceção das mulheres que já estavam na casa quando chegamos foram até a sala de cinema da casa dos Kim para dar início a sessão de filmes. Entre risos, sustos e choros, a única que não desfrutou destas emoções foi SooYoung, que como sempre, dormiu durante os filmes.

[...]

Horas se passaram e já era final de tarde. Desfrutei do momento em que a sessão chegou ao fim para esticar minhas pernas um pouco, afinal, ficar sentada por horas seguidas cansa. O silêncio tomava conta do ambiente, provavelmente Sunmi já foi embora, o que me fez agradecer mentalmente. Aproveitei que todas ainda estão na sala de cinema para dar um curto passeio pela casa.

Da última vez não consegui reparar nos detalhes e decorações da casa, então aproveitei agora. Não pude segurar um sorriso ao ver retratos de TaeYeon com suas filhas pequenas em cima da lareira da sala principal, como não vi isso antes? Realmente, Joohyun e Seulgi não mudaram nada, de crianças fofas foram para belas mulheres. Olhando as fotografias, uma em específico me chamou a atenção: é uma foto simples de família feliz num parque de diversões, mas está cortada, perfeitamente cortada na intenção de remover uma pessoa, seria o pai delas? De verdade, o que foi que esse cara fez?

– Se divertindo com as fotos? – Dei um pequeno pulo devido ao susto. Odeio os passos silencioso de TaeYeon, ela sempre me assusta. – Deixei que minhas meninas decidissem quais fotografias ficariam expostas. Elas passam mais tempo em casa do que eu, então nada mais justo.

– Elas não mudaram nada... E você também não! – Mesmo sem tirar a atenção das fotos, consegui sentir o olhar de TaeYeon sobre mim.

– Fico lisonjeada, mas mudei bastante. Fui mãe com vinte e um, não por decisão minha, mas por insistência do pai das meninas. Sabe como é: eu era jovem e inocente, acreditei que seria uma boa ideia. – Tae caminhou até o retrato no parque de diversões, seu sorriso amargo me partiu o coração. – Acredita que essa é uma das poucas fotos que nós quatro temos juntos? Quer dizer, tínhamos. Eu recortei ele de todas as fotografias. – Riu sem graça.

Eu realmente quero saber o que aconteceu, mas não quero perguntar, seria falta de educação da minha parte. Discretamente segurei a mão da Tae, usei meu polegar para acariciar a mesma.

– Não precisa falar sobre isso se não quiser!

TaeYeon olhou para os lados certificando-se que ninguém apareceria e beijou rapidamente minha bochecha. – Você é fofa. Obrigada por entender, tem coisas que eu não gosto de conversar sobre, mas um dia te explicarei melhor! – Afirmou, me beijando mais uma vez, mas dessa vez no canto dos meus lábios.

– A propósito, você conheceu a Sunmi hoje. Não fique brava ou chateada com o que vou dizer, mas há muito tempo, nós tivemos um caso, um relacionamento na verdade. – Seus olhos iam de um canto a outro, como se não quisesse me encarar e sua voz saiu baixa.

– Eu sei. Joohyun ocasionalmente me contou sobre ela. – Respondi tentando parecer tranquila ao ouvir tal nome.

O arquear de sua sobrancelha e o arregalar de seus olhos me arrancaram um riso. Sua feição surpresa é engraçada.

– C-Contou? O que exatamente ela te disse? – Indagou inquieta.

Dei uma boa olhada de cima a baixo em TaeYeon antes de encurralar a mesma. – Por que? Tem algo que eu não deva saber?

– Não! – Enrijeceu o corpo. – Apenas curiosidade. Joohyun nunca fala sobre minha vida particular.

Me afastei dela, não quero que alguém nos veja tão próximas.

– O que você viu nela? Pensei que não gostasse de loiras. – Tentei ao máximo parecer desinteressada na resposta, mas me conhecendo bem é óbvio que devo estar falhando nisso.

TaeYeon percebeu onde eu queria chegar então entrou no jogo, mas não dá maneira que eu gostaria.

Se ajeitando no sofá a mais velha cruzou suas pernas. – Eu nunca disse que não gosto de loiras. E além disso, Sunmi sempre fora uma bela mulher! – TaeYeon está brincando com fogo. Cerrei os punhos com força, não era isso que eu queria.

Tae deu um meio sorriso vendo minha situação, ela ama me provocar.

– Então por quê terminaram? – No limite do limite, me mantive plena.

– Começamos a misturar o pessoal com o profissional. Sunmi e eu não soubemos como dividir as duas coisas! Quando nos separamos ela queria se demitir, mas pedi, quase implorei para que a mesma continuasse comigo. A Sra. Lee é de extrema competência, não se acha alguém como ela em qualquer lugar. Logo, não poderia descartar uma joia tão rara! – Ouvir TaeYeon elogiar tanto outra mulher enquanto me olha nos olhos me mata internamente. Maldita seja, quero socar esse seu rostinho lindo e beijá-lo logo após. – Mas não se deixe enganar, Sunmi é ardilosa. Quando quer algo, ela consegue. Não se aproxime tanto dela, está bem?

– Me diz para ter cuidado, mas e se ela ainda quiser você? O que eu faço? – Rebati. – Você mesma disse que ela sempre consegue o que quer!

– Eu não estou em jogo, Stephanie. Não sou uma mulher fácil e você deveria saber bem disso. Não existe mais nada entre Sunmi e eu, apenas uma relação saudável e profissional!

Eu quero acreditar, mas não sei se deveria colocar minhas mãos no fogo por TaeYeon. Já disse e repito: por mais que eu a ame, conheço bem o seu tipo, ela gosta de atenção, quer olhos sobre si e que todos fiquem aos seus pés e eu não serei mais uma peça nesse seu joguinho bobo.

– Hm... – Cruzei os braços. – Não me sinto confortável com uma ex sua estando tão próxima, mas não posso e nem tenho o direito de me intrometer nisso...

Preocupada talvez pensando que possa ter exagerado na brincadeira, o semblante de TaeYeon mudou da água para o vinho. A mulher descruzou suas pernas e veio até mim. Suas mãos apertaram minhas bochechas, assim me deixando com um bico fofo.

– Ei. Seja-la no que está pensando, pare agora mesmo, ok? Eu te amo e nada vai mudar ou interferir nisso. Entendo suas inseguranças, mas não posso me afastar de Sunmi só porque isso te incomoda. Como profissional, seria antiético! – Seus olhinhos de cachorrinho fofo me impedem de ficar muito tempo chateada. Tae sorriu brevemente vendo minha feição ir de irritada e preocupada para algo mais tranquilo. – Deixemos este jogo bobo de ciúmes de lado, hum? O que acha? Lhe darei o mundo se quiser!

Rolei os olhos com seu papo besta, essas declarações não combinam com ela. TaeYeon é sempre tão cheia de si e até mesmo um tanto narcisista. As únicas horas em que ela não age dessa maneira é entre quatro paredes, no fundo ela gosta que mandem nela e mesmo relutando de vez em quando, obedece.

– Não gostou da declaração? Li algo parecido na internet, achei que combinaria com o momento em questão. – Seu olhar perdido e sua sinceridade me arrancaram risadas.

Que mulher sem escrúpulos, podia ao menos ter fingido que inventou na hora tal cantada.  Tae riu junto a mim, isso foi demais até mesmo para ela. Sua risada de vovô me arrancou ainda mais gargalhadas. Separei nossos corpos e sentei no sofá espaçoso, minhas marcas de expressão doem de tanto rir da sua risada.

Seulgi apareceu de repente e eu jurei que podia ver um enorme ponto de interrogação em cima de sua cabeça.

– Perdi alguma coisa? Consigo ouvir as risadas lá da sala de cinema!

Com o rosto ruborizado de tanto rir, Tae sentou novamente no sofá, um pouco afastada de mim. Inspirando profundamente o ar a mais velha se preparou para falar:

– Não perdeu nada, meu anjo. Sua amiga me contou uma história engraçada, apenas isso.

Sua dualidade me encantou. Tae nesse momento nem mesmo parece que segundos atrás estava rindo descontroladamente.

Seulgi nos lançou um olhar desconfiado, sabia que ela não engoliria tal desculpa. – Que seja! – Soltou indiferente. – Fany, as meninas estão esperando. Yuri escolheu um novo filme, mas todas temos certeza de que será uma porcaria, então vim chamar você para seguirmos com a sessão.

– Ah. Tá bom... – Tentei não deixar evidente que no momento preferia continuar minha conversa com a Tae ao invés de ir ver os filmes, mas obviamente não posso dizer isso. – Vamos!

Levantei e segui a ruiva de fios vermelhos sem enrolação. Ela ia na frente e eu, poucos metros atrás dela. Olhei uma última vez para Tae por cima do ombro, porém a mulher também se encontrava de costas para mim, tirando algo do bolso a mais velha caminhou até a área externa de sua mansão. O que seria aquilo? Eu não pude ver direito.

Their MotherOnde histórias criam vida. Descubra agora