Nesta noite escura e fria eu vejo a solidão que me aflige. Eu estou na sala do meu apartamento assistindo uma programação qualquer que me entretenha durante esse fim de noite. É quase meia noite e eu sinto falta de algo. Sinto a ausencia do seu calor. Me lembro que nos encaixavamos perfeitamente naquele sofá, nossos corpor se entrelaçavam e se aconchegavam ali debaixo do edredon assistindo nossos filmes e séries favoritos onde, por acaso, começara um deles.
Desligo a TV e me levanto do sofá. O ar frio, parado, num tom fúnibre se faz sentir pela minha pele e quando o respiro. Pego uma taça de vinho e a encho para espairecer e dormir.
Tudo foi tão rápido que nem percebi. Vejo aquela droga de taça e me lembro de um dia que você me esperava com aquela taça nas mãos, um batom vermelho sangue e uma camisola preta muito provocante que contrastava na sua pele sensuavelmente pálida.
A cada pequeno gole sinto o aroma adocicado do vinho e lembro do seu perfume, lembro que antes de sairmos pra qualquer lugar eu reclamava da quantidade de perfume que você lançava e dizia que era um exagero, lembro que você vinha e me beijava sempre que eu dizia isso pois sabia que eu adorava aquele cheiro.
A taça já está na metade e começo a ver através do vinho, me vem à mente um dia que você estava usando uma lingerrie naquela transparência e quis brincar me amarrando na cama e me vendando com uma faixa de malha cor de vinho, lembro que a última coisa que eu vi foi você usando aquela lingerrie e me enchendo de prazer o resto da noite.
Olhando o movimento noturno da cidade e seus sons peculiares vejo que o vinho está quase no fim me fazendo sentir o efeito relaxante e afrodisíaco dele e me recordo de um jantar que eu preparei com grãos e ervas, lembro que os sabores e aromas daquele jantar fizeram efeito mais rápido do que eu tinha calculado e não terminamos o jantar.
O último gole e o vinho acaba. Aquela última gota escorrendo pelo lado de fora da taça me lembra da nossa última noite, lembro de ter chegado em casa depois de um dia cansativo e me deparo com um envelope pardo sem remetente. Eu o abro e vejo fotos suas na cama de um motel barato com o seu amigo de trabalho. Tem fotos de toda a cena, do início ao fim. Você chega em casa com uma cara cansada também, mas sorri ao me ver sentado na mesa, permaneço sério e seu sorriso some. Você se aproxima, vê as fotos e começa a chorar. Vejo suas lágrimas escorrendo pelo seu rosto, minha visão se turva pelas minhas lágrimas que brotam como um rio, minha garganta se fecha como em um nó naval, minha cabeça tenta se manter firme e racional, mas meu coração pesa como uma tonelada de ferro, porém contraído como uma bola de sinuca. Olho pro seu rosto sofrido e sinto compaixão com uma vontade louca de te abraçar e, ao mesmo tempo, ódio com uma vontade louca de te jogar pra fora de casa.
Estranho, não me lembro da nossa conversa, só me lembro de ter te perguntado no fim o motivo de você ter feito aquilo. Seus olhos me encaram como o de uma alma no purgatório sofrendo a espera e você diz com a voz trêmula: "Você é bom demais pra mim, ele merece a miséria que sou!"
Ainda hoje essa frase me enche de fúria e náuseas, a taça quebra na minha mão e os cacos caem pela copa. Recolho, limpo o chão e minha mão sangra sujando o pano. Entro no meu quarto para chegar ao banheiro e me assusto com o jeito que a coberta ficou embolada sobre a cama, parecia seu corpo deitado sobre ele como tantas vezes já havia visto, sigo pro banheiro. Faço os curativos lembrando de como você cuidava de mim quando eu me cortava ou estava doente, fazia um serviço de enfermagem mais que completo que me curava rapidamente.
A campainha toca, olho pro relogio, 12:47AM, bem, meus pais tem acesso livre ao meu apartamento sem precisar do porteiro os anunciarem. Poderia ser algum vizinho. Um entregador de pizza que se enganou. Abro a porta e vejo um rosto delicado, triste e encharcado de lágrimas, o vejo meses depois da mesma forma que o vi partir daquele lugar. Ouço sua mesma voz trêmula dizer: "Está frio, posso entrar?"#Alex