Prólogo

5 0 0
                                    

13 de junho, 1933

   Era um dia chuvoso, o tempo transitava do outono para o inverno e os gaúchos já se preparavam para o rigoroso frio que se adonava do estado. Mas, naquele ano, havia algo diferente.
   Ana Luísa, uma jovem garotinha de 6 anos, brincava com suas bonecas de pano na sala aconchegante de sua simples casa enquanto ouvia o barulho das gotas finas de chuva caindo em seu telhado. Até que seu pai sentou-se na poltrona e ligou o rádio afim de ouvir as atuais notícias políticas do país, contudo, fora surpreendido com a fala do radialista.

— Amanhecemos hoje com a notícia de mais um desaparecimento. Desta vez, a jovem Julia Santos, de dezessete anos, fora a vítima. A última vez que foi vista, a garota estava saindo da casa de sua madrinha, com quem jantou na noite passada. A única coisa encontrada fora o chapéu cor de rosa que moradores da rua ao lado da residência da já citada madrinha. — diz o homem com o tom de voz sério.

   A garotinha pode ver seu pai verdadeiramente preocupado. Não saberia dizer se era por se tratar da filha dos vizinhos, que também era sua babá e, para ela, sua melhor amiga, ou o fato da jovem Julia ser a oitava a desaparecer desde a recente virada da década.

— Antônio, por favor! Não assista isso perto de Ana, sabe que lhe causa medo. — pode ouvir sua mãe dizer enquanto vinha da cozinha a paços largos, limpando suas mãos.

— Mamãe, a Juju não virá mais para cuidar de mim? — perguntou a garotinha com um semblante entristecido.

— Meu amor... Isso... Isso é complicado, sim? — a mulher de curtas madeixas castanhas custou a dizer, temerosa, procurava as palavras certas para dar a filha.

   Mas mau sabia a mãe que Ana Luísa não precisava mais de palavras, era inteligente e perspicaz o suficiente para entender que estava certa, contudo, não compreendia o que havia acontecido com sua amiga, assim como todos na cidade.
   Os casos não pararam, pelo contrário, se seguiram até um total de vinte e seis mulheres desaparecerem como se nunca houvessem existido. Não havia um rastro, não havia uma teoria. Apenas sabia-se que vinte e seis mulheres não estavam mais entre a sociedade.

   O caos instalou-se não muito tempo após a terceira e levou muito tempo até se dissipar por completo. As histórias que se seguiram, passando pela boca de todo o povo, foram alimentadas, diminuídas, distorcidas e questionadas até se tornarem lendas de um caso jamais resolvido, embalado e esquecido nas prateleiras do arquivo morto da delegacia. As famílias nunca obtiveram respostas e muito menos os restos mortais de seus entes desaparecidos.
   Seria apenas uma lenda, uma história para ganhar visualizações e likes na internet através de vídeos e podcasts, contudo, na virada do ano de 2020, uma jovem de 18 anos desapareceu em uma festa de réveillon na praia de Rio Grande. Um caso sem pistas, vazio e com a única esperança de não se repetir. Mas não foi o caso.

13 de junho, 2023

— Fora totalizado um total de cinco mulheres desaparecidas desde o início de 2020, sendo um dado baseado no que a polícia obteve de denúncias desde o início da pandemia do Covid-19. — anunciou a jornalista na tv — As delegacias de todo o estado trabalham juntas para resolver este mistério e descobrir o paradeiro destas cinco jovens. — disse em tom sério, porém, logo seu colega tomou a frente, suavizando o ambiente com outra notícia.

— Em breve: uma exposição além de gerações. O jovem Vinícius Souza anuncia uma exposição de seus quadros juntos aos de seu bisavô, o grande pintor Caio Souza, que enriqueceu nosso estado com seus quadros todos voltados ao nosso Pampa. Confira agora no PampaNews.

Mistério no PampaOnde histórias criam vida. Descubra agora