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— A feira estava movimentada, mercadores gritavam em todas as direções fazendo um zumbido insuportável em meus ouvidos. O cheiro de peixe e temperos cítricos pairava no ar, o ambiente carregado de murmúrios era agitada até mesmo a essa hora da noite.

Ajeitando a capa que impedia olhos alheios de verem seu rosto, Lilian se dirige pelas ruas movimentadas da aldeia, andando furtivamente em meio a Grão-feéricos e feéricos inferiores. A humana passava despercebida enquanto cautelosamente vigiava seus arredores para garantir que não foi seguida, a máscara por baixo de seu capuz apenas uma garantia para que olhos mais experientes não vejam nada que ela não queira mostrar.

Entrando na pequena casa de madeira, em um dos locais mais precários da Corte das flores, sua presença sendo percebida apenas pelo leve vento que a acompanhou, a humana agora encontrava-se frente a frente com um feérico. O macho alto, ombros largos e uma grotesca cicatriz — que deixara seu olho direito cego — encarava a figura coberta dos pés a cabeça que acabara de adentrar em seu território.

Reconhecendo, porém, os fios louros em uma trança lateral frouxa, abriu um sorriso que não tinha nada além de malícia.

— Olha só o que o vento trouxe — Diz e qualquer um poderia ver a sombra em seus olhos ao dirigir-se a fêmea.

Ele viu quando um sorriso ladino desenhou os belos lábios da garota, e seu sorriso ampliou-se ao vê-la retirar seu capuz.

— Vejo que ainda está vivo — diz brincalhona. — Diga-me, ainda fode com aquele seu aprendiz?

O macho a encarou por longos segundos, a troca de olhares intensa enquanto ambos competiam tolamente para ver quem desvia primeiro.

O macho perdeu ao inclinar a cabeça e gargalhar com a fala da jovem.

— Senti sua falta, pequeno Lírio — Disse ele, a face aderindo uma expressão gentil. — A muito tempo não me procura.

— Também senti sua falta, seu velho rabugento — Declara a jovem, sua mascará de frieza caindo diante do macho a quem considera um amigo. — Mas infelizmente não vim para jogarmos conversa fora, Conrad. Tens o que pedi?

O tom dela era sério, por mais que o toque de carinho ao dirigir-se ao mais velho continuasse. Ela podia ser grossa com aqueles fora de seu circulo, mas com Conrad não. Jamais com ele.

— Tentei fazer igual aos desenhos que você me enviou, mas devo deixar avisado que não sei se estará como você me pediu — Conrad diz enquanto puxava uma caixa debaixo do balcão. — Jamais vi algo assim. Em nenhum continente, feérico ou mortal, em todos os meus mais de 400 anos como artesão.

Não era o primeiro trabalho que Conrad fazia para Lilian, desde que aprenderá a escrever procurara por um artesão de confiança para acatar seus pedidos e ele, Conrad, fora o mais indicado. Ele, por mais que não soubesse que era uma criança quem o escrevia as cartas com o pseudônimo Lírio, jamais falhara em nenhum trabalho que lhe foi dado.

Conrad observou a fêmea se aproximar, retirando a tampa da caixa de madeira e estudando atentamente os dois objetos que repousava no veludo vermelho. Ouviu a jovem assoviar baixinho enquanto admirava seu trabalho.

Lilian realmente estava encantada, os detalhes eram ainda mais belos do que havia imaginado e após segurar os objetos em ambas as mãos, percebeu o zelo que Conrad teve ao fazê-los com o peso ideal para ela.

— Fiz algumas modificações nos desenhos, como pode ver — Explicou o artesão. — O resto, eu fiz exatamente como o esboço que você me enviou, assim como aquelas coisinhas pequenas.

Lilian assentiu.

— Poderia me dar uma das balas, por favor?

Conrad abre outra caixa, a qual fizera um leve tilintar ao ser posta sobre o balcão, e entrega a sua cliente o pequeno objeto prateado.

ᏒᎬᏁᎪᎦᏟᎥᎠᎪ ᎬᎷ ᎪᏟᎾᏆᎪᏒ Onde histórias criam vida. Descubra agora