No jardim das palavras | Part 1

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"O choro pode durar a noite toda, mas a alegria vem pela manhã."

Salmo 30:5


Miguel perdeu a noção de tempo. Tinha a sensação de estar ali há horas - e estava. A cabeça estava doendo. As pernas latejavam. A garganta pedia água. De repente, ouviu passos nas folhas secas se aproximando. Não teve coragem de levantar a cabeça para ver quem era. Estava cada vez mais perto de si.

- Ei, garoto - alguém chamou. Levantou a cabeça. Um velho de aparência cansada estava parado em sua frente. - O que está fazendo aqui sozinho? Não sabe que é perigoso para uma criança andar sozinha por aí? O mundo está cheio de maldade, sabe. Onde estão seus pais?

Nenhuma resposta.

O velho caminhou até o banco mais próximo e se acomodou. Enquanto ele fazia isso, parecia que as flores do parque, as árvores, o vento, o tempo se curvavam em adoração a ele - Como a criatura diante de seu criador. Sacou uma garrafa com um líquido estranho e se refrescou. Miguel ouviu a coluna do homem gemer quando espreguiçou-se.

Ele encarou o rosto avermelhado de Miguel e indagou:

- Por que estava chorando? - disse com uma voz solene e melodiosa.

Miguel não quis responder. Não o conhecia. E não podia falar com estranhos, disse sua avó uma vez. Mas ele não era estranho. Era conhecido. Algo naquele homem o fazia sentir-se bem - seguro. O medo tinha ido embora. Mas a dor...

- Porque a vovó Aurora foi embora.

O velho pareceu recordar-se de algo.

- Ah, Aurora... Você é neto da Aurora Condado.

- Uhum.

- Eu a conheço. Ela me contou muito sobre você.

- Você é amigo dela? - Miguel indagou, começando a sentir-se confortável.

- Sim, eu sou. Conheço Aurora quando ela ainda era uma criança. Nós costumávamos nos encontrar aqui para conversarmos, sabe, com Deus. Lembro-me de ela sempre sentir-se bem ao fazer isso.

- Eu sou Miguel - estendeu a mão em um falho cumprimento. Recolheu a mão. - Qual o seu nome?

- Isso depende - O velho riu amigavelmente. - As pessoas me chamam por muitos nomes, mas você pode me chamar de Chico.

- Por que? - a voz embargou novamente.

- Hã?

- Por que Deus levou ela?

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