“O tempo consome as coisas, e tudo envelhece com o tempo.”
- Aristóteles
26. A Rainha
N A D I A
Eu não guardava muitas memórias de minha infância — em parte porque as lembranças, aos poucos, desbotavam; em parte porque minha infância não tivera momentos agradáveis para guardar.
Mas havia coisas, em específico, que eu tinha certeza de que jamais esqueceria.
O cheiro de terra molhada, por exemplo. Eu me lembrava de estar na floresta, caçando cervos depois da chuva, os pés descalços sobre a umidade do solo com pequenos brotos surgindo.
O cheiro de terra molhada fazia-me ter esperança. A chuva até podia vir, os ventos podiam levar o que fosse... mas passava. No fim, tudo passava.
Cuidando de minha pequena plantação nos fundos da casa, permiti minha mente perder-se.
Eu colhia as cenouras e as jogava em uma cesta ao meu lado, imaginando se o tempo se responsabilizaria realmente de arrancar de uma vez as raízes de Théo, tão fincadas em meu coração.
— Uma colheita proveitosa.
Ergui os olhos, ainda de joelhos na terra. Rainha Amalie me observava.
— Olá, majestade.
— Bom dia, querida Nadia. — Ela me surpreendeu ao ajoelhar-se também. — Me permite?
Não tive certeza do que se tratava a permissão, mas eu é que não seria a pessoa a negar um pedido da rainha dos francos.
— Claro.
E me surpreendi, mais uma vez, quando ela começou a ajudar-me colher as cenouras.
Com uma grande precisão e rapidez, suas mãos trabalhavam com firmeza e cuidado ao mesmo tempo.
Amalie Toussaint era tão cheia de classe e elegância, que por vezes me esquecia de que a mulher fora uma camponesa como eu.
Era incrível. Uma camponesa, uma camponesa rainha.
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Vossa Alteza, o Príncipe ✠ Livro II
Romance{ Não é necessário ler o primeiro livro para entender este. } Um livro onde o príncipe é quem precisa ser salvo. Por uma rainha? Uma princesa? Uma dama da corte? Não. Por uma viking! Théo apenas queria provar para o pai, o temível rei serpente, que...