INÍCIO DO FIM.

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Acordo as 6:20am com o despertador tocando minha música favorita, e uma dica, não usem sua música favorita como despertador, em algum momento você vai começar a odiá-la. Levanto-me, coloco a água para ferver e faço o meu café, meus amigos me chamam de jovem idoso, eu gosto de uma vida calma, gosto da minha casa, do meu café, jogar jogos, minha coluna dói só de imaginar ir para baladas.

Após tomar meu café, e aguardar a alma voltar para o corpo, começo a me arrumar, pois hoje o dia promete, temos pela primeira vez um asteroide bem visível no céu, e faz parte do meu trabalho cuidar do sistema de dados e garantir que tudo funcione, estamos monitorando o asteroide de perto, quer dizer, eu sou mais um faz tudo dentro do setor, só não servi café ainda, mas qualquer dia irei.

Eu sou Pedro, algumas pessoas me chamam de Pedrinho, aliás, não se assuste, mas eu vou contar parte do fim da minha história, Parece meio triste não? e é triste, acredite, mas tudo vai fazer sentido, eu prometo. 

 Nasci em São Paulo, a exatos 24 anos, estamos no ano de 2045, tenho uma cadela chamada Jujuba, da cor caramelo, e por um milagre, o mundo ainda existe, passamos pela terceira guerra mundial, que teve inicio no ano de 2022 e terminou em 2032, mas o mundo ainda sente o impacto que gerou em nossas vidas, um momento sombrio na nossa história como seres pensantes, mas talvez nem tão pensantes assim.

Eu trabalho no Instituto de monitoramento espacial, o IME, para os íntimos. Sempre me considerei uma pessoa bem reservada e de poucos amigos, talvez seja minha insegurança que dita boa parte da minha vida, nem todo mundo vem como um galã de novela, que todos olham e desejam, e uma personalidade cativante, eu já disse que tenho uma alma de alguém de 80 anos? - Eu me considero alguém bem chato para a minha idade, fazer o que, se eu gosto da minha casa? - Minha vida amorosa é um fiasco, e é um fiasco real, tenho 24 anos, tive um namorico aqui e ali, que nunca vingou, é ruim sentir como se estivesse incomodando outras pessoas, e esse sentimento sempre me sabotou, e me sinto assim na maior parte do tempo, mas eu sou muito bom em esconder esse sentimento das outras pessoas. 

Termino de me arrumar, dou aquela checada no espelho para garantir que meu cabelo esteja pelo menos no lugar. Eu pego as chaves do carro, meu copo térmico de café, o resto da minha energia e sigo para o trabalho. 

 Chego no trabalho e já está tudo uma correria, gente correndo de um lado para o outro, e na minha mente, já imaginava como seria meu dia, um CAOS. Por um momento, uma voz no sistema de som pede que todos se dirijam ao auditório. Pego meu copo de café e acelero os passos. 

No auditório, todos se sentam e um zumbido na caixa de som incomoda a todos. Em seguida entra um homem alto, muito bem-vestido, cabelo escuro, uma pele negra, alguém com presença. Alguém o apresenta como CHEFE GERAL DO DEPARTAMENTO ESPACIAL – ANTÔNIO CARLOS Ele diz:

-Boa noite a todos.

-Hoje estou aqui como um amigo e não apenas como o responsável por esse departamento... foi encaminhado para todos os países do globo um comunicado da NASA, nos informando que o asteroide Bennu está a caminho da terra, ele vai nos atingir nos próximos dias, e é de extrema importância que essa informação seja mantida em segredo para preservar a ordem pública, o asteroide irá colidir com a terra em 5 dias segundo as últimas previsões. Mas porque informa-los disso, se devemos manter segredo? bem, vocês dedicam sua vida dia e noite nesse departamento, e meus funcionários e colegas não vão ficar no escuro. 

Nesse momento começou os cochichos por todos os lados, gente falando e perguntas.

-CALMA, CALMA. – Pede ele para a plateia agitada.

-Estamos tentando achar uma solução para o problema e toda a equipe de engenharia espacial está trabalhando nisso, nesse meio tempo, como chefe desse departamento, informo que até segunda ordem, apenas os engenheiros estão convocados para nos auxiliar nessa missão, aos demais analistas estão dispensados para ficarem com suas famílias, ao sair, assinem o acordo de confidencialidade, e lembre-se, é uma questão de segurança pública, se essa informação se for vazada, pode gerar  o caos, e colocar seus familiares em perigo, além de prejudicar toda a operação.

-Agradeço a atenção de todos, e que Deus nos ajude.

Logo após o pronunciamento, Antônio abriu para perguntas, mas em um primeiro momento veio um silencio gritante, pessoas estavam pensando se era primeiro de abril, ou uma brincadeira de mal gosto, cochichos para todos os lados.

-Mas o Chefe Geral? -Questionou Arthur -um jovem que tinha acabado de entrar no IME.

Não fazia sentido, até que alguém levantou a mão.

-O que devemos fazer? – Questionou Ana.

Ana é analista assim como eu, se senta ao meu lado no trabalho, as vezes fofocamos sobre gente famosa e como tem gente que acredita que a terra é plana, dá para acreditar?

-No momento ir para casa, abraçar seus pais, filhos, amigos, e aproveitar esse tempo. – Diz Antônio com uma cara de preocupado.

-Vamos trabalhar para manter nosso estilo de vida, mas não posso prender vocês aqui, não sem uma utilidade real, todos os nossos sistemas estão online e operantes, se alguém quiser se voluntariar, estamos abertos a recebê-los, caso contrário, vá para casa. Pagamos a vocês uma quantia suficiente, para se manterem nesse período. Mais alguém?

Nesse momento todos começaram a se mover e a chorar, um pouco desnorteados, eu ainda estava sentado, sem entender o que estava acontecendo, em um momento respirei fundo, levantei-me, fui até a minha mesa, peguei minhas coisas e uma voz me chamou.

-Pedro, poderia vir comigo. -Uma moça bem-vestida e com rosto sério, cabelos loiros, terno muito bem passado, vincos que poderiam cortar uma folha - fomos até uma sala, antes que eu falasse qualquer coisa, ela já começou.

-Pedro, tudo bem? Eu sou a conselheira do IME e estou aqui para te dar alguns panfletos que o governo está disponibilizando para essa situação, infelizmente, não podemos oferecer um serviço completo de saúde mental no momento, pois o tempo está contra nós, se tiver alguém para dividir esse momento, peço que tenha cautela com as informações reveladas, e leia a cartilha que estamos disponibilizando, boa sorte. E antes de sair, assine esses papeis.

Era o acordo de confidencialidade. Tentei me inscrever para ajudar com o plano de nos salvar, mas em vão, meu setor já seria coberto por um dos engenheiros, e eles queriam o mínimo de distração dentro do setor.

Só me restou ir para casa, fui para o carro, Liguei o Radio, a previsão dizia que seria uma semana ensolarada, e minha mente começou a repensar qual o sentido da vida? Qual era o sentido da minha vida? 24 anos, solteiro, sem filhos, não assumido para os pais, MEU DEUS, MEUS PAIS.

Rodei a cidade de carro por algumas horas, ouvindo música, parei próximo a lanchonete que costumo comer e tomar café, observei Carlos de longe, servindo as pessoas. Sim, eu tenho um crush e eu acredito que ele também tem um crush em mim, mas ainda não tivemos coragem de conversar de verdade, eu sei o nome dele por conta do crachá, ele está particularmente lindo hoje. 

Observo como a gente é igual a um grão de areia, comparado com a vastidão do universo, como nada fazia sentido, como todas as coisas iriam continuar, mesmo se a gente não existisse mais, será que temos um proposito? eu me questiono se cumpri com meu propósito, Eu não me considero uma pessoa religiosa, sempre fui um explorador do desconhecido, lendo um pouco sobre tudo e todas as coisas, mas sempre acreditei que talvez, exista sim um destino pré-determinado, escrito em algum lugar, a gente pode não ver, mas ele está lá. 

Cheguei em casa, e bebi até desmaiar, pensei que amanhã eu lidaria com tudo isso.

Considero o mundo por aquilo que ele é, Graciano: Um palco em que cada um deve recitar um papel, e o meu é um papel triste.

 -William Shakespeare

É assim que acaba?Onde histórias criam vida. Descubra agora