Capítulo um

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Eu ainda me lembro do dia que descobri que mamãe traia o papai.

Era um dia raro no qual ela me levava a escola ao invés do nosso motorista particular. Ela saiu do carro segurando minha mão e deu um beijo no meu rosto ao me deixar em frente ao portão.

— Boa aula docinho! — Os óculos escuros escondiam parte de sua expressão, mas seu sorriso ainda estava a mostra — Se comporte bem!

Como se sua orientação me desafiasse, corri escondida assim que ela virou as costas. Mas não fui longe, pelo contrário, apenas me enfiei para dentro do carro e fiquei escondida debaixo do banco traseiro, afim de pregar uma surpresa quando ela voltasse para casa.

Segurei o riso boa parte do caminho, com medo de que isso denunciasse minha presença, mas quando o carro parou, eu fui a única surpreendida.

Ela saiu rápido, sem me dar tempo de mostra-la que eu estava ali. Um homem de cabelos castanhos a esperava do lado de fora para a receber com um beijo que me fez esquecer do plano que tinha me dedicado tanto minutos atrás.

Meus olhos lagrimejaram, o ciúmes me invadiu. Por que tinha um homem que não era o papai beijando a mamãe? Me senti traída por ele.

Histérica, eu só consegui fechar os olhos e gritar.

— Acha que isso pode ter prejudicado o relacionamento com sua mãe? — Meu psicólogo perguntou, arrumando os óculos e sem demonstrar emoção após meu relato.

— Eu nunca contei para o meu pai Na verdade...Mesmo no hospital, enquanto o via morrendo diante de mim, eu nunca contei a verdade!

— Você se arrepende?

A pergunta me fez franzir a sobrancelha e morder os lábios enquanto refletia.

— Não — Apesar de ter tomado sua dor, era egoísta o suficiente para desejar manter meus pais juntos — Mas eu nunca vou poder perdoar ela.

Vi seus lábios se abrindo, para fazer uma próxima pergunta que talvez acabaria comigo.

"Você não pode perdoar ela ou você mesma?"

Tantas noites sem dormir, pensando em cada detalhe desse dia, tentando analisar todos os lados da situação, tantos culpados, tantas vitimas e ainda assim, ali estava eu, sem respostas ou resultados satisfatórios.

Mas a pergunta que imaginava, não veio, o que me aliviava.

— Poderia ser isso que, de alguma forma, faz com que se afunde em trabalho?

— Todas minhas irmãs são bem sucedidas, você sabe, em partes, eu só quero alcançar a mesma coisa, porém não da mesma forma

— Qual o problema com a modo como elas conseguiram?

Pensei sobre Chaerin, Jessica, Hyoyeon e Krystal. As quatro controladas por nossa mãe que sempre conseguia um jeito de mantê-las na mídia.

— Nenhum, eu só quero fazer as coisas por minha conta

— Mesmo que você tente se afastar, no fim do dia é sua família e as pessoas vão continuar te associando a isso. Não acha que tentar lutar contra isso só vai trazer mais frustrações?

Olhei discretamente para meu próprio relógio de pulso. Não precisava de outra pessoa me lembrando que nunca conseguiria me afastar do meu sobrenome.

— Acho que nosso tempo acabou! — Me levantei do divã, colocando minha bolsa no ombro.

— Ainda temos dez minutos!

— Mas eu não tenho dez minutos! — Fechei os olhos, notando que tinha sido mais grossa do que pretendia — Tenho um compromisso inadiável.

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⏰ Última atualização: Jun 15, 2022 ⏰

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Entre os espinhos da Rosa - ChaennieOnde histórias criam vida. Descubra agora