Capítulo 01 - Amargura

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Como se fosse o manto de um Rei, coloco minha capa de Aluno Imperial.

Como se fosse um General do Exército, prendo não somente uma, mas oito stellas na frente do meu uniforme.

Como se fosse o homem mais poderoso do mundo, encaro a mim mesmo no único espelho do meu quarto, com uma expressão ousada.

"Eu consegui," penso. Meu queixo treme.

Pego o pequeno cetro que os Alunos Imperiais usam e bato com ele no meu peito.

- Eu consegui - agora digo em voz alta, ouvindo o tom de soberba que saiu da minha garganta.

Mas... Por que sinto meu coração tão abatido?

Mais uma vez, bato com o cetro em meu peito. Quero arrancar essa sensação, nem que seja a força.

Começo a me bater com mais força.

E mais força...

Sinto a madeira de ébano daquele cetro contra meus ossos. Está doendo.

Ah, como está doendo...

A dor que me dilacera agora não vem da minha carne, vem do meu coração.

Por que estás tão abatido?

Quero olhar para o lado, para o retrato que repousa em minha mesa de cabeceira, porque sei que a resposta para minha pergunta está lá.

Sinto um calafrio pelo corpo e viro a cabeça para encarar minha desgraça.

Lá está ela.

Aquela que faz questão de jogar na minha cara o quanto estou sozinho: a fotografia do primeiro dia de aula, tirada há treze anos atrás.

Como todas as outras crianças, estou lá.

Como todas as outras crianças, estou vestido de uniforme.

Como todas as outras crianças, estou olhando para a câmera.

Porém, diferente delas, estou só; Parado em um canto, sem esboçar expressão alguma.

Relutante, acabo pegando o retrato em minhas mãos para encarar o meu eu criança.

Nunca vi olhos tão sem vida quanto aqueles.

Devagar, encaro meu eu crescido no espelho mais uma vez, somente para ver que nada mudou.

Iniciei meus estudos no Colégio Éden sem a presença do meu pai.

Agora eu os finalizo, e ele ainda não está aqui comigo.

E nunca estará.

Assim como no primeiro dia de aula eu estive sozinho, também estarei no último.

Ao concluir este pensamento, olho para a fotografia novamente. Um sentimento de autopiedade se apodera do meu coração. Antes que eu pudesse contê-la, uma lágrima queima meu rosto como fogo.

Como já aconteceu por dezenas de vezes, num ímpeto de fúria, jogo o retrato na parede do meu quarto, sem me preocupar se irei acordar meus colegas do dormitório com o barulho do vidro que se estilhaça em pedacinhos.

Quero gritar. Berrar a plenos pulmões.

"EU TE ODEIO!!!" era o que eu tinha em mente.

Entretanto, ao abrir minha boca, percebo que o que sai dela é um lamento:

- Ah, pai... Por que me abandonou?

Sento em minha cama com o rosto entre as mãos. Quase não percebo que estou agarrando meus cabelos ao me lembrar do pior dia da minha vida. Faz dois anos que a voz daquele segurança carrancudo com seus óculos escuros nunca mais saiu da minha mente:

Decisão | Damianya (Spy X Family)Onde histórias criam vida. Descubra agora