4 - Gracie

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O dia antes da ong não tinha sido um dos melhores, eu recebi uma mensagem de meu pai e nós acabamos discutindo, como sempre acontecia quando tentávamos conversar. Pra piorar Blake acabou me dizendo que também falou com ele, que contou sobre nosso término e que ele disse que não deveríamos ter terminado, que ele nos apoiava muito. Eu disse para Blake que não queria falar sobre isso e ele insistiu, até que eu o deixasse falando sozinho. Eu também percebi o modo que ele tratava Olivia, mas não entendi o motivo. Eles nem se conheciam. Talvez ciúmes? Talvez ele só a achasse irritante e mimada, como eu, mas não conseguisse se segurar como eu conseguia.

No trabalho tudo ocorreu bem, apesar de receber alguns clientes ignorantes, mas eu lidava com isso todos os dias desde que decidi aceitar a proposta de trabalhar em uma cafeteria.

Eu me senti um pouco culpada por julgar tanto Olivia no dia anterior, eu a conheci por um dia e já havia determinado que ela era uma mimada. Por isso eu tentei ser mais gentil com ela quando nos encontramos na ong. Tentei tratá-la da melhor forma possível quando tivemos uma pequena conversa enquanto limpávamos aquele enorme gramado, e apesar de sua dica inútil para tentar tirar Blake de minha cola, ela conseguiu animar o meu dia com seu jeito idiota.

Depois de minha pequena interação e de minha indicação, eu esperei uma mensagem de Olivia quando estávamos voltando para a ong no carro, mas não a recebi. Talvez ela me enviasse algo quando chegasse em sua casa, talvez amanhã ou talvez ela tenha esquecido.

Blake foi um dos primeiros a ir embora depois que voltamos para ong, seguido de Arianna e Diana, que foram juntas. Conan e Olivia me ajudaram a guardar todos os materiais que usamos, mesmo que eu tenha dito que poderia fazer isso sozinha. Olivia disse que estava a espera de seu pai, então não faria diferença me ajudar, Conan não deu uma justificativa, só disse que ajudaria.

Depois de guardarmos tudo, eu disse que levaria a chave do carro que usamos de volta para o responsável dos carros, mas Conan se ofereceu com a justificativa de que iria embora logo depois de deixar a chave. E enquanto Conan falava sua justificativa, Olivia se afastou para atender o seu telefone. Conan logo foi embora e eu me virei em direção a Olivia, ela parecia totalmente irritada enquanto falava com alguém.

— Você é a porra do meu pai e não pode vir me buscar? — Eu tive certeza de que ela estava falando com seu pai depois de sua fala. Olivia ficou calada por alguns segundos, provavelmente escutando o que ele estava falando. — É serio? Você quer falar de responsabilidade agora, quando você sequer tem a responsabilidade de buscar a porra da sua filha.

A tom de choro na voz de Olivia era perceptível, eu me senti um pouco mal por ela, definitivamente a relação com seu pai também não era das melhores, acho que tínhamos isso em comum.

— Se eu sou tão inútil assim porque você não me deixa em paz pra sempre, quem sabe assim você pode ir atrás da sua família perfeita com sua filhinha perfeita na Flórida. — E então ela desligou a ligação.

Eu não tive muita reação quando encontrei lagrimas deixando os olhos da garota, eu pensei em tentar passar alguma linguagem de conforto para Olivia, mas eu ao menos conseguia pensar em algo. Pelo que eu entendi, o seu próprio pai tinha a chamado de inútil. Apesar de também ter problemas com o meu pai ele sequer falou palavras ofensivas pra mim, no máximo sumiu por meses e depois mandava mensagens de números aleatórios.

Me aproximei da garota e deixei alguns tapinhas em suas costas na tentativa de passar algum conforto para ela. Olivia passou o seu braço no rosto para limpar as lágrimas que escorriam, alguns de seus band-aids da Hello Kitty descolaram de seu rosto e ela os pegou na mão. Ela parecia com um pouco de vergonha por chorar na minha frente, eu provavelmente ficaria também se estivesse no lugar dela. Ela estava chorando na frente de alguém que conheceu no dia anterior.

Olivia e eu ficamos por algum tempo em um completo silêncio, eu retirei minha mão de suas costas quando percebi que ainda estava com ela naquele lugar. A garota provavelmente percebeu, já que seus olhos marejados se encontraram com os meus.

— Eu te levo pra casa, não se preocupa comigo. — Acho que o mínimo que eu poderia fazer para tentar conforta-lá era isso.

A garota apenas concordou com sua cabeça e logo começamos a andar até o estacionamento da ong. Entramos em meu carro e eu comecei a dirigir até o seu apartamento. Os olhos dela estavam fixos na janela, assim como da primeira vez que eu a levei até em casa, mas agora ela estava totalmente desanimada, não era como ontem.

Eu não tentei puxar assunto, sabia que ela provavelmente não queria falar nada, precisava de seu tempo e eu respeitaria isso. Brigas com família são sempre complicadas, mas eu mandaria energias positivas para que Olivia se resolvesse com a sua.

As minhas habilidades no volante e o vasto conhecimento sobre o trânsito de Paris ajudaram para que logo estivesse com o carro parado em frente ao prédio de Olivia, assim como no dia anterior. Ela abriu a porta, mas quando estava saindo se virou olhando em meus olhos. Eu pude perceber que ela não estava mais chorando, mas a região de seu rosto ainda estava avermelhado devido ao choro.

— Obrigada pela carona. — Eu sorri pra ela. — E desculpa.

Antes mesmo de ter a oportunidade de dizer que ela não precisava pedir desculpas para mim, ela saiu de meu carro e fechou a porta, correndo até sua portaria. Eu esperei ela entrar para que pudesse voltar a dirigir, desta vez em direção a minha casa.

Ao chegar em casa eu me joguei no sofá, como sempre fazia antes de começar a minha rotina da noite. Retirei o celular de meu bolso e comecei a observar as mensagens que tinha recebido. Tinha algumas coisas no grupo com o Blake, outras no grupo sem o Blake, mas nada de muito importante, apenas os idiotas zoando sobre algumas besteiras. Eu também tinha uma mensagem individual de um número não salvo, eu abri o mais rápido que pude quando pressupus que poderia ser Olivia.

Unknown Number: oi
Unknown Number: poderia me mandar o endereço da loja que você falou?
Unknown Number: é a Olivia.
You: Claro

Eu enviei o endereço da loja para Olivia e não demorou muito para chegar outra mensagem da garota, apenas agradecendo. Em questão de segundos o pensamento de que eu deveria ter abraçado ela quando começou a chorar na minha frente invadiu a minha cabeça, pelo menos seria melhor do que a merda de alguns tapinhas em suas costas. Mas e se ela não gostasse de abraços? E se me achasse estranha por abraça-lá, sendo que tínhamos nos conhecido a um dia? Mas agora a ideia de que eu tinha que ter abraçado Olivia tomou conta de minha mente por completo, eu pensava se ela iria retribuir, qual seria sua reação?

Eu peguei o meu celular novamente, abrindo em minha conversa com Olivia, logo começando a digitar algumas mensagens, que eram apagadas logo em seguida por não ser boas o bastante.

You: Desculpa
Olivia: do que você ta falando?
You: Por não ter te abraçado.

Olivia ficou alguns longos segundos digitando, mas depois parou. Eu já esperava a sua falta de resposta, eu também não responderia se recebesse essa mensagem, ficaria um pouco surpresa e provavelmente me faltaria palavras.

TROUBLE. - Gracie Abrams & Olivia RodrigoOnde histórias criam vida. Descubra agora