Noah Urrea e o Dragão de Bronze

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Um dragão pode arruinar seu dia.

Confie em mim, como um semideus, já tive minha cota de experiências ruins. Já apanhei, já fui arranhado, incendiado e envenenado. Já lutei com dragões de uma cabeça, de duas, de oito, de nove e com um tipo com tantas cabeças que se tivesse parado para contá-las com certeza estaria morto.

Mas e aquela vez com o dragão de bronze? Sinceramente, achei que eu e meus amigos viraríamos ração de dragão.

***

A noite começou bem tranquila.

Era final de junho. Eu tinha retornado de minha mais recente missão havia umas duas semanas, e a vida no Alojamento Metade-Homem estava voltando ao normal. Sátiros perseguiam ninfas. Monstros uivavam na floresta. Os campistas pregavam peças uns nos outros, e o nosso diretor, Dioniso, transformava em arbusto qualquer um que não se comportasse. Coisas típicas de acampamento de verão.

Depois do jantar, os campistas ficaram conversando no pavilhão do refeitório. Estávamos todos empolgados porque a captura da bandeira daquela noite seria totalmente cruel.

Na noite anterior, o chalé de Hefesto conseguira uma grande vitória. Eles capturaram a bandeira de Ares — com a minha ajuda, muito obrigado —, o que significava que o chalé de Ares viria atrás de sangue. Bem eles sempre vêm atrás de sangue, mas nessa noite estariam especialmente inspirados.

Na equipe azul estavam o chalé de Hefesto, Apolo, Hermes e eu, o único semideus no chalé de Poseidon. Por ora, a má notícia era que Atena e Ares, ambos chalés de deuses da guerra, estavam contra nós, na equipe vermelha, junto a Afrodite, Dioniso e Deméter. O chalé de Atena guardava a outra bandeira, e minha amiga Sina era a sua capitã.

Sina não é alguém que você gostaria de ter como adversária.

Logo antes do jogo, ela se virou para mim:

— Oi, Austeridade de Lodo.

— Quer parar de me chamar assim?

Ela sabe que odeio esse nome, principalmente porque nunca consegui responder à altura. Ela é a filha de Atena, o que não me dá muitas opções. Quer dizer, Austeridade de Bucho e Conhecidinha não são insultos de verdade.

— Você sabe que adora.

Ela bateu em mim com o ombro, o que imagino que era para ter sido um ato amigável, mas ela usava uma armadura grega completa, então, meio que doeu. Seus olhos esverdeados brilharam sob o elmo. Seu rabo de cavalo louro descia em cacho sobre um dos ombros. Era difícil alguém ficar bonito numa armadura de combate, mas Sina conseguia.

— É o seguinte — ela baixou seu tom de voz: — nós vamos destruir vocês esta noite, mas se você escolher uma posição segura como o flanco direito, por exemplo Garanto que não será tão massacrado.

— Uau, obrigado — comecei —, mas estou jogando para vencer.

Ela sorriu.

— A gente se vê no campo de batalha.

Sina correu de volta para seus companheiros de equipe, que riram e a cumprimentaram tocando as mãos espalmadas no alto. Eu nunca a tinha visto tão feliz, como se a chance de me acertar fosse a melhor coisa que já acontecera a ela.

Morris se aproximou com seu elmo embaixo do braço.

— Ela gosta de você, cara.

— Com certeza — murmurei. — Gosta de mim como alvo.

— Que nada, elas sempre fazem isso. Se uma garota tenta matar você, saiba que ela está na sua.

— Faz muito sentido.

Os Inventários do Herói (SPIN OFF)Onde histórias criam vida. Descubra agora