Capítulo 2 - A tempestade

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[ANTERIORMENTE:]
O beijo acabou com o barulho alto de um trovão abrupto que ressoou sobre eles.

***

Um dia se passou e depois outro. E mais um, e o cavalo de Joseph não sarava, percebiam os dois. Sempre que iam ver como o cavalo estava, percebiam alguma característica imperceptível no animal que fazia com que os dois decidissem que o melhor seria esperar por mais um ou dois dias até que Joseph pudesse seguir viagem. Os frequentes adiamentos não tinham nada a ver, obviamente, com o sentimento que crescia entre os dois na medida em que Eric ficava mais imerso naquele olhar azulado como o céu de Aurora em dias de chuva. Era apenas uma medida que estavam tomando para poupar o cavalo de tanto sofrimento.

De todo modo, depois de alguns dias, em que os dias eram divididos entre os deveres de Eric e as conversas até tarde com Joseph, os dois estavam deitados na grama fria do jardim conversando sobre coisas que Eric provavelmente já não lembra atualmente, quando ele olhou para Joseph e sentiu uma necessidade muito grande de lhe dizer uma coisa que não tinha dito para ninguém ainda. Eric pensou muito antes disso a respeito de tudo o que estava acontecendo e até ponderou se realmente estava sentindo o que achava que estava sentido mesmo com tão pouco tempo decorrido, mas ele tinha certeza; ele tinha certeza que

— Acho que gosto de você — Disse e o quarto ficou absolutamente silencioso.

Joseph sorriu ternamente, se aproximou mais de Eric.

— Eu também… 

E os dois se beijaram por um tempo.

— Como isso é possível? — Disse Eric sorrindo.

— Não sei.

— Nem eu.

Eles não sabiam e Eric sabia apenas que não queria, ali, com Joseph, que o tempo passasse e que, se ele pudesse, congelaria tudo naquele exato momento.

Só que, o tempo passou e, então, mesmo que o cavalo de Joseph nunca ficasse absolutamente curado, os dias da estadia do príncipe na residência de inverno estavam contados e, de uma hora para outra, Eric percebeu que no dia seguinte deveria retornar a Aurora e, de uma forma ou outra, Joseph e todo o resto deveriam ficar para trás.

Essa realidade iminente o deixava angustiado e ele se pegava pensando, quando, por exemplo, estava acordado enquanto Joseph dormia tranquilo ao seu lado, se não havia chegado a hora de dar o passo à frente que faltava para alcançar a sua felicidade. Seria sobre tudo isso que aquela senhora em Aurora estava falando? Ele pensava que sim, mas como daria esse passo, ele não sabia. Estava absolutamente nervoso e cada segundo que se passava, Eric sentia algo estranho consigo mesmo.

Na última noite, depois de terem caminhado juntos por uma trilha que levava a uma clareira aconchegante, onde passaram o dia conversando sobre coisas da vida em meio a beijos e sorrisos, depois de terem caminhado de volta à residência e de terem percebido que o cavalo finalmente estava pronto para a viagem, estavam os dois sentados na grama do jardim. A luz do fogo dos archotes que iluminavam a noite escura e fria tremeluzia e fazia com que os dois garotos ali parecessem seres de outro mundo; seres de outro mundo tentando se integrar ao novo embora o novo fosse estranho e não oferecesse nenhuma garantia de nada.

Ouviam de longe trovões que se intensificavam com o passar da noite. Eric não disse nada naquele momento, mas ele sentia um mal-estar estranho, que já vinha crescendo durante os dias que passou ali e parecia que aquele mal-estar estava relacionado à chuva.

— Parece que vai chover muito.

— Sim.

— Adoro a chuva — Eric disse e Joseph disse que também gostava muito de quando chovia. Revisitando essa conversa, Eric sempre sorri por conta das ironias da vida.

O conto do Príncipe e da Tempestade [Romance Gay] [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora