A gata cor de mel se espreguiçou sobre seu ninho dourado, rodeado de folhas douradas e escudos amarelos. Majestosa, Honey olhava em volta. Seus gatos continuavam a trabalhar para o bem dela. Unicamente dela.
Ao nascer e ao pôr-do-sol, eles não paravam para descansar. Apenas quando a noite ameaçava eles recuavam, oprimidos, esperando o brilho do sol para continuar a sobreviver.
Honey amava seu reino. Honey era dona de tudo. A gata apenas dava ordens enquanto estava em seu trono dourado.
O amanhecer chegou novamente, um sol deslumbrante, que logo foi tapado e perdeu a luz. Os seus servos, confusos, pararam e encararam as sombras, e a rainha olhou com um pouco de temor, receosa e um pouco irritada para saber o que aconteceu.
• ───━━━━─ ● ─━━━━─── •
A líder do Clã do Sangue despertou ao sol alto, muito tarde para seu gosto, mas o corpo agradecia aquele descanso. O clã havia se recuperado também, e eles iriam se acostumar com o cansaço e se tornarem mais fortes, pensou.
A líder ergueu a voz, não alto o suficiente, mas alto para a escutarem. Ela podia ouvir o som de presas ciscando seus ouvidos e debochando com seu olfato.
- Gatos do Clã do Sangue, iremos continuar a viagem. Se preparem que em breve iremos. - Ela saltou do pequeno relevo de terra que se encontrava e se manteve a sós, aguardando os gatos de coleiras se prepararem para a ida.
Um sentimento ruim a tomou, pensando que seu pai não daria mole desse jeito, ela mesma se lembrava que qualquer coisinha, Flagelo com suas garras afiadas rasgava o pescoço desses mesmos gatos.
Pensativa, uma sombra albina apareceu, e a gata que vestia a noite mais gelada e escura se virou para encarar um par de sóis frios. Véus a encarou.
- Bom dia - sua voz saiu fria e seca.
- O sol está a pino, então não seria "boa tarde"?
O felino sem coleira deu de ombros e deu um leve movimento com sua cauda, e logo lhe respondeu.
- Tanto faz, os dois dão no mesmo. E você é bem mal-educada, não me cumprimentou - o gato lhe respondeu, e Noite pôde notar um pequeno ar brincalhão. Ela então lhe respondeu na mesma dose - É só um comprimento para mostrar boa reputação. Eu sou diferente, não pense que me encontra em qualquer lugar.
O gato branco sorriu e balançou o rabo novamente
- Eu tenho certeza que já encontrei do seu tipo por todo lugar, apenas não manti mais contato.
Sorrindo com um doce veneno presente em sua face e seus bigodes, ela lhe respondeu de forma ácida, mas meiga de certa forma enquanto levantava sua cauda numa posição de certa forma elegante e atraente.
- Mas devo então ser especial
Pomba riu de forma seca com um sorriso forçado - Especial não, só não consegui me livrar você, pulguento.
• ───━━━━─ ● ─━━━━─── •
O clã andava sobre a floresta, guiados pela líder jovem de coleira verde, qual seu pelo negro como a noite, por mais que duvidasse for possível, brilhava num incrível espelho prata com a ajuda dos raios de sol que conseguiam penetrar além das folhas das árvores e alcançar os magníficos pelos da felina.
O tempo ia passando, e o clã tinha fome. Por mais que a gata mesmo queria dar um sermão no clã pela "fraqueza" demonstrada por eles, sentiu uma corrente de ácido do corpo vagar na garganta, como se o corpo tentasse puxar as orelhas de Noite por sua atitude. Logo, ela abandonou a ideia, virando-se para os gatos esfomeados, inclusive alguns lambiam até os beiços enquanto tentavam farejar na comida.
— Clã do Sangue, faremos uma pausa por comida. Cacem e voltem, se alguém se atrasar não importará, pois iremos mesmo que teremos de abandonar. Cacem, comem e se vamos — a gata disse se virando e indo atrás de sua própria caça, uma nova experiência, tinha que admitir. Não teria cachorros nem gatos ali para brigar por alimento do lixo... Ou talvez tivesse? Não importava, ela simplesmente trotou apressadamente sobre suas patas evitando que qualquer interrupção por parte dos gatos do clã tivessem a fazer.
Se misturando a densa vegetação, que tinha odores agradáveis para a gata, sentiu diversos cheiros. Cheiros de presas e plantas estavam presentes em todos os cantos olfativos da sua boca e focinho.
Farejando e explorando, sentindo a maciez das folhas em suas almofadas cicatrizadas com machucados, a gata sentiu um atraente odor, próximo à ela. Se aproximando, ela se agachou, mexendo a cauda esperançosa e de forma agitada, qual fez barulho em que a líder rapidamente saltou sobre a presa.
Em realidade, quase sobre a presa, pois o que as garras da gata de pelagem escura conseguiram encontrar foi o chão que estava vestido de verde, mais intenso que o próprio verde de sua coleira, e este estava levemente coberto de neve. Chegava ao fim da temporada de neve, a noite que recebeu a coleira foi uma despedida do frio, que foi intensa.
A presa soltou um berro, alertando as pequenas criaturas da floresta, o que fez essas ficarem alertas e se esconderem. O estômago roncou de Escuridão da Noite roncou em desaprovação a atitude burra e inexperiente da líder fez a probabilidade de comida se distanciar, e agora assim não haveria comida. Mas claro, cada burrada consegue ser completada.
A gata cor da noite correu atrás da presa, errando em cada patada, mordida, arranhão, e gastando energia à toa. Cada vez mais as presas iam se escondendo, e ela ia se afundando na floresta, tudo por um pedacinho delicioso de camundongo.
O
s dois correram, e a líder nunca se viu tão incapaz de conseguir comida. Geralmente só havia uma briga e deu, mas não, ali havia toda uma estratégia e ainda um código daquelas míseras presas para se salvar de seus acreditáveis "ex-predadores", mas parecia que não era essa a realidade com aquela migração.
Numa corrida feroz, golpes errantes mas que ainda assim atrapalhavam a presa, a distância foi se alargando. Em realidade nem sempre, as vezes voltavam pra direção de origem em seus desvios e zigue-zagues, mas não era esse o ponto, o que importava é que cada vez mais Noite ia se afastando de seu clã, e a floresta ainda era virgem, intocada, o que a fazia crescer sem hesitação, tapando até o céu e em nevadas era difícil penetrar neve ali.
O tempo passou, a distância ficou mais longa, até a gata retornar ao sentido assim que num perigoso salto de uma árvore que nem a mesma sabia como havia parado ali, ela alcança a gorda presa caindo em cima, esmagando-a com suas patas e confirmando sua morte com uma letal mordida na região do pescoço, o quebrando enquanto sentia o delicioso líquido sobre sua língua. Se sentou, lambendo sua pata depois da trabalhosa perseguição, e logo tratando de comer a caça, não queria que se fosse tão rapidamente.
Sentia o calor passar pela garganta, comendo aquela maravilha (que era para ela), desfrutando cada mastigar de forma rápida e ao decorrer de alguns minutos, havia finalmente terminando de comer e olhava ao redor, com um levíssimo toque de pavor em seus encantadores olhos: onde estava? Catapimbas, sua miolo de rato!
Levantou-se, os ossos da presa estavam ali, e não fez nem questão de olhá-los. Sua concentração estava em outro lugar, não no mundo do camundongo, mas no mundo real
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Filha de Flagelo
FanfictionEscuridão da Noite, ou só Noite, é a filha de Flagelo. Ela é uma assassina sem sentimentos, mentirosa e quebra promessas, mas é leal ao seu clã fundado por seu pai: o Clã do Sangue. Disposta a fazer de tudo para voltar o Clã do Sangue, Noite viaja n...