𝓻𝓮𝓱𝓮𝓪𝓻𝓼𝓪𝓵 - 𝓹𝓪𝓻𝓽𝓮 𝓾𝓶
Meus demônios me chamaram para tomar uísque;
Me puxaram pela mão e me fizeram sentar no banquinho, me entregaram um copo pequeno e quadrado, suado pelo gelo derretido."Andamos observando você" eles disseram.
"E o que observaram?" Perguntei.
Na maior parte do tempo eu mal noto suas presenças, mesmo sabendo que aqui estão. Sempre longe o bastante para que eu não possa toca-los, sempre perto o bastante para que eu possa vê-los, se prestar um pouco mais de atenção.
"Branco lhe cai bem" disse um deles, à minha direita.
Raspei as unhas pelo tecido da minha blusa e encolhi os dedos dos meus pés descalços.
"Prefiro quando usa preto" disse outro à minha esquerda "combina com a tua alma."
"Também prefiro preto" balancei a cabeça concordando.
O que estava na minha frente segurou minha mão e encheu mais o copo que eu segurava, com o líquido castanho queimado.
Esse era o que mais me assustava. Era eu ali, olhando para mim. Como se fosse um maldito reflexo no espelho.
Parecia que ele tinha lido minha mente, porque ele - eu - sorriu. O lábio pintado de vermelho puxado em um cantinho para cima, o cabelo escuro com cachos emoldurando o rosto e os olhos castanhos tão parecidos com a cor do uísque. Ou talvez açúcar queimado.
Estremeci.
" E então?" Perguntei encarando o da direita, parecia ser o mais inofensivo entre os outros dois.
Portanto, provavelmente não era.
"Ficamos felizes que você tenha escutado mais nossos conselhos do que o do teu amigo lá de cima" ele respondeu, fazendo um afago no meu cabelo.
"Meu anjo, você quer dizer?" Perguntei.
"Sim, aquele santinho entediante do Paraíso" o da esquerda respondeu, revirando os olhos.
"Faz tempo que não o vejo" dei de ombros "Me sinto meio abandonada, até."
"Nós nunca deixamos você, minha querida" aquele que tinha o meu rosto respondeu.
"Certo" murmurei "então estão orgulhosos com o que andam observando sobre mim?"
"Orgulho por você ter mandado tudo e todos para a casa do caralho?" Meu reflexo sorriu "É claro que sim. Parece que finalmente você está entendendo como as coisas devem funcionar."
"Então eu sempre deveria ter sido essa vadia fria?" Eu estava confusa.
"Não, meu bem" meu reflexo respondeu. Aparentemente, ele era o líder ali "Podes até ser uma vadia, mas fria não és."
"Obrigada pela parte que me toca" fechei minha cara e tomei um longo e abrasante gole da bebida.
"Não vê como está suando?" Perguntou gentilmente o demônio da direita.
"Estou por nervosismo, detesto ser encurralada assim" respondi "e além do mais, minhas mãos são geladas!"
"Isso não quer dizer nada" disse o da direita "como se sente?"
"Nervosa, eu já disse!" Engoli mais três goles. Podia sentir minha visão ficar turva e meu corpo ficar mole; aquelas porras de criaturas estavam me deixando embriagada.
"Percebeu agora como teu coração é quente, meu bem?" Perguntou meu reflexo, tocando meu seio esquerdo, ainda com aquele maldito sorriso "como você é esquentadinha..."
"Pare de me chamar assim!" Me esquivei para trás de forma brusca "o que você quer dizer com isso?"
"Quero dizer que você queima."
" Como se estivesse no inferno, baby" completou o da esquerda.
"Concorda que quem queima não pode ser frio?" Meu reflexo questionou.
Minha visão estava turva e meus braços dormentes. O gosto da bebida amargo na ponta da língua parecia uma boa coisa para se concentrar do que o calor que subiu pelo meu peito ou o arrepio no couro cabeludo. Eu poderia muito bem estar flutuando num oceano noturno e semi adormecido naquele momento do que me equilibrando numa banqueta.
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enquanto fumo aquele cigarro que você odeia
PoetryEu mal vejo a hora em que essas estúpidas borboletas que você cultivou em mim, se afoguem em álcool. Sou capaz até mesmo de atear fogo com meu isqueiro, só para garantir que estejam bem mortas. - Enquanto eu fumo aquele cigar...