trinta e dois

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Vai lá, meu bem
finge que está tudo bem,
finge que você não está sentindo,
que não está te queimando e não
está te consumindo.

É tudo no seu tempo, um dia de cada vez.
Acumule-os como se fossem panfletos dentro da gaveta,
daqui a pouco eles saem de seus casulos
e se rasgam como asas de borboletas.

Não há beleza em rasgar a si mesma
como se não fosse nada,
como se não fosse doer.
Como se tudo isso que cê esconde
não fosse aparecer em seus sonhos,
como demônios de feições deformadas
gritando verdades na tua cara
até que tudo seja reduzido a escombros
e a tua casa esteja alagada.

Vai lá, meu bem
dance em cima desses cacos de vidro,
finja que teus pés não estão se cortando,
que o sangue não está escorrendo.
Afinal, a música está alta, não é?
Mexa o quadril e jogue a cabeça para trás,
observe o céu carregado de estrelas,
milhões de pontos de luz
encrustadas num manto de
veludo escuro.

Finja que és outra pessoa,
que não está sentindo a tua própria pele.
Que as coisas poderiam ser diferentes,
que os dias poderiam ser mais brandos,
que as noites poderiam ser mais tranquilas
que o meio tempo que há entre eles poderia
não ser um looping dos teus erros.

Vai lá, meu bem
Chore!
Deixe que essas lágrimas salgadas
limpem a fuligem do teu rosto,
que lavem os teus lábios costurados,
que derreta o teu coração congelado,
que te permita gritar
tudo o que te consome aí dentro.

Vai lá, meu bem
Só não fique aqui...
É muito frio, silencioso e solitário
e não é lugar para
uma alma bonita como a tua.

Você merece o sol e as flores,
o vento e água corrente,
merece todas as músicas
compostas com paixão
e sentir o teu coração bem quente.
Merece que tuas asas sejam
bem leves e não destroçadas,
que te permitam voar para bem
alto
e para bem
longe
que a liberdade seja tua morada.

enquanto fumo aquele cigarro que você odeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora