Sonha com ele?

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Conforme o tempo foi passando eles perceberam o desmazelo com a aparência de Arthit o cabelo estava grande e a barba também. Penalizados com a situação o grupo resgate entrou em ação outra vez. O único escolhido para a tarefa foi Dae que por algum motivo tinha sido o único a estar mais próximo do veterano nas ultimas semanas.

 – P'Arthit...  por que você não corta seu cabelo? Faz tanto calor essa época do ano...

–Não sei como fazer... 

Dae parou atrás dele. Acariciou o monte de cabelo nas suas mãos:

– Você tem um cabelo muito bonito...

– É, o Kong dizia isso sempre. Eu gostava mais do cabelo dele...

 – P'Kongpob também tinha uns cabelos lindos...

– O corte pouco conservador demais... mas assim mesmo ficou bonito nele. _ o mais velho comentou com uma impressão de brilho nos olhos.

 Dae reparou o reflexo do homem sentado a sua frente. Ele estava triste, mas era lindo. Nunca simpatizara com o ex hazer-chefe, mas tinha que admitir que ele era um homem bonito... Um capricho dos deuses.

– Podemos ir a um salão aqui perto eles são muito bons...

– O que você disser...

Resignado, Dae cumpriu a tarefa inglória. Eles foram a um salão do shopping o que fez o mais veho se lembrar do primeiro "encontro" com Kongpob:

– Ficou bom. _ o mais novo disse com um sorriso mínimo.

– É, mas é tão estranho... acho que já tinha me acostumado com aquelas mechas grandes...

 – Você vai se acostumar.

***

 Arthit tinha um problema sério de sono.  Em especial naquele dia onde tinha ido até o centro da cidade para levar suas roupas na lavanderia... A loja na frente de onde Kongpob foi assassinado. Dae desenhou um mapinha para ajudá-lo a chegar lá sem se perder. 

Saiu da loja e olhou para a calçada. Tinha guardado o recorte do jornal que mostrava a reconstituição do crime, apontando o local onde as vítimas tinham caído. Segundo o jornal, Kongpob tinha saído da loja e estava parado exatamente onde ele estava naquele momento. Aí, atingido, caiu na calçada. Ficou parado ali, imaginando o que poderia ter acontecido. Os bandidos tinham assaltado uma loja do outro lado da rua. Alguém reagiu. Houve tiros, eles escaparam. Tiroteio na rua... Culpa, culpa, culpa...  Existe força mais destrutiva para um homem do que a culpa? Kongpob não percebeu nada porque devia estar de cabeça quente. Distraído demais e aborrecido demais pela discussão que tinham acabado de ter. Ele o infernizara tanto! Por isso ele não deve ter percebido nada... a não ser quando era tarde demais. Quanto tempo ele agonizou? Era uma pergunta mórbida, de fato, mas gostava de pensar nisso porque era dolorido demais. E a dor era o único indício de que ainda havia vida nele. Certificava-se de que mesmo depois da morte de Kongpob ele ainda vivia. Sabia disso porque ainda sentia dor – os mortos não sofrem. Kongpob era forte – deve ter suportado longos minutos de dor. No que ele deve ter pensado? Com certeza, não sentia pena de si por estar morrendo, nem raiva dos que o atingiram. Não... Ele era muito superior. Será que pensou nele? Talvez. O fato dele ser muito bom sempre o deixara com a desconfiança de que quem sabe ele não fosse tão bom quanto pensava. Se fosse ele, teria perdido preciosos minutos de agonia tendo raiva dos assaltantes e da briga com o mais novo. O rancor envenenaria o sangue em suas veias enchendo-lhe de mágoas inúteis. Arthit sorriu ao imaginar no que seu parceiro pensara em seus últimos minutos de vida, esperando o socorro que não viria... se conhecia seu calouro adorável, ele pensara neles dois. E lamentara a última briga não ter sido uma noite de amor para poder morrer com o gosto do beijo do outro em seus lábios. E uma lágrima de felicidade imensa desceu dos olhos de Arthit nesse momento:  "Eu também teria pensado nisso! Como sou superior agora que ele está morto e não pode saber..."

Garoto ingênuoOnde histórias criam vida. Descubra agora