vida na Favela

220 27 3
                                    

Mais um dia normal aqui na favela, onde precisamos acordar cedo e ir a luta. Alice estuda na escola pública. Eu queria colocar ela na particular, mas, sabe como é, a minha realidade financeira não me permite realizar esse sonho. Queria colocar a Alice na particular, porque nessa escola infelizmente ela vê de tudo e muita coisa ruim. Minha filha já presenciou trocar de tiro na escola, já presenciou assaltos e mesmo com apenas 3 anos, já apanhou mais de uma vez. Esse é só mais um reflexo da educação aqui na favela. Claro, não me refiro a todos, tem muita criança aqui na favela que é educada e bem criada, conheço muitas mães que fazem parte junto comigo, do grupo da escola da minha filha. Eu me refiro mesmo, aos filhos de matadouros e traficantes. Esses sim são violentos, mal educados e prepotentes. Já bati de frente com dois pais pelos filhos terem batido na Alice, mas, de nada adiantou e só levei ameaça na cara.

Sempre procuro cativar pessoas aqui na favela, porque a ordem é clara. Ou você ceia confiança das pessoas em relação a você, ou, simplesmente você não consegue viver aqui, porque a violência é escancarada e se você não tiver a quem recorrer em momentos como trocar de tiro e ter amigos para te socorrer, no dia seguinte com certeza você não está mais vivo. Eu sinto muito que minha filha já tenha presenciado tanta maldade. Mas,por sorte, eu temho dois irmãos incríveis, que me ajudam em relação a isso e deixam Alice alheia a toda essa situação. Mas, eu sinto muito em saber que a Julienne que tem apenas 15 anos, presencie tudo isso e embora ela tenha uma cabeça muito boa e cheia de sonhos, tenho medo que ela vá para o caminho errado e se perca.

Aqui é muito fácil se perder, cada esquina tem dois ou três carinhas com armas em baixo das calças, ou uma faca em baixo do braço, cheios de drogas na mão e oferecem a quem passar pela esquina e pelo beco. Precisa ter uma cabeça boa, para não se entregar as más influências.

Como eu sempre trabalhei no salão que o Washington trabalha, eu já ouvi muitas histórias absurdas a respeito das ameaças dos traficantes com os moradores. Pra ganhar respeito, é preciso ter sangue frio pra saber finfir que os respeitam, ou então, leva bala. Os chamados chefes ou donos do morro, não vão com a minha cara, eles desconfiam que a Alice é filha do bala, porque eu nunca apareci com nenhum namorado na minha porta e de fato, depois da Alice, eu não fiquei com ninguém, porque eu tenho medo. Medo de me relacionar com alguém aqui da favela, pra não me fazer mal, nem mal a Alice e minha família e tenho medo de me relacionar com alguém de fora da favela. Existe o preconceito, quando eles sabem onde vivemos e mesmo assim, tenho medo, porque seria arriscado de mais trazer alguém aqui pra cima, eles podem pensar que seja alguém da polícia e da cabo, qurima de arquivo.

Depois que deixo Alice na escola da comunidade, eu volto pra casa e tenho minha aula em ead, isso que vai garanti meu futuro, mas, logo precisarei começar a frequentar minhas aulas presencialmente, a tal da credibilidade é cruel, ainda mais pra quem mora na favela, eles sempre pensam que é truque, é difícil de nos aceitar em ambientes de trabalho, por pensarem que não somos gente, somos todos ladrão. Quando na verdade, tem muita gente do bem aqui, que assim como eu, só vivem aqui, porque não tem condição de pagar um lugar decente e seguro para viver.

Todos os dias eu pego ônibus no ponto fora da favela, porque aqui na favela mesmo, não passa ônibus e quando a gente sobe, sempre nos olham torto e com medo. Percebo os olhares e cochichos, eu mesma já precisei ouvir de uma madame me chamar de vagabunda, quando eu estava com a Alice no braço e o ônibus estava lotado, eu pedi ao moço un lugar e ele simplesmente falou "Não dou lugar não. Se quer fazer filho para viver de dinheiro de auxílio de governo, você se vire e resolva seus problemas, porque sua laia não é a minha" e simplesmente precisei ficar em pé no ônibus, colocando minha mochila e a mochila da Alice nas costas, ela em um braço meu e o outro braço segurando para não cair. São tantas situações humilhantes que precisamos passar de graça.

Quem vive na favela não vice de rotina. Tem dias que são bons e dias péssimos, que do nada, começam as sessões de tiro, ou, dias em que os donos da boca se juntam na quadra da associação e brincam de fazer baile funk. Eu tento fingir para mim mesma, que onde vivo é o suficiente para o que mereço, mas, a verdade, é que vivo aqui porque é o suficiente ao nosso bolso.

Hoje mesmo, depois que acordei, levei Alice a escola, voltei pra casa depois de uns 30 munutos e quando iria começar minha aula de ead, recebo a ligação do meu amigo, o Monteiro, para ir até a agência de guia de escaladas, porque eu iria guiar uma moça, iria substituir um rapaz que precisou faltar. Quando isso acontece, eu dou graças a Deus, é sempre um dinheiro extra.

Chegando na agência, sempre sou bem recebida e muito bem tratada, são amigos de longa data.

Monteiro- Ju, que bom que pôde vir. Não teria guia melhor para substiruir o Álvaro. A moça está esperando lá na praia de copacabana. Qual grau de dificuldade de escalada você consegue mesmo?

- Não se preocupa amigo. Para quem vem aoenas para distração e conhecer esse lugar lindo, eu apenas coloco o K de escalada no grau 1.

Dito isso, peguei um ônibus para cjegar ao local, mas, quando cheguei no ponto, ainda precisei correr e infelizmente o motorista não parou o ônibus pra mim. Com certeza eu chegaria atrasada. Não avisarei ao Monteiro, darei meus corres e quando estiver próximo, descerei do ônibus e sairei correndo para o local marcado, porque tenho certeza que o trânsito está infernal e eu descendo e correndo, chegarei ainda mais atrasada.

Foi exatamente como eu imaginei. Já estava 35 minutos atrasada, pedi para descer e saí correndo. Ou era isso, ou,ficaria mais uns 40 minutos presa no trânsito e eu não faria isso com o Monteiro e não siu louca de arriscar perder essa grana. Bom, espero que a moça não conte a ele sobre esse atraso.

Assim que cheguei no local, logo avistei a moça, como Minteiro me descreveu, calça legg cinza e um top cinza, morena dos olhos verdes. Aqui no pointe só tinha essa alma com essa descrição. Não vi os olhos, porque estava de costas olhando o mar. Então, descidi me aproximar, perguntando o seu nome.

.Licença, bom dia. Por acaso a senhora de chama Sarah?

.Oi. Bom dia. Sou sim. Quem é você?.

.Prazer, me chamo Juliette, sou guia de escalada, o Monteiro me mandou no lugar do Álvaro, ele teve um problema e não pôde vim.

. Não. Não pedi você. Eu espero o Álvaro poder vir.

.Moça, eu vim na maior boa vontade, eu não sou nenhuma louca de aceitar guiar algima pessoa, se eu não soubesse o que estaria fazendo.

. Uma mulher. Eu confio pra muita coisa, mas, tem coisas que são humanamente impossível.

. Há. A baronesa é machista, entendi. Acontece que eu estou aqui, não pretendo da viagem perdida e não posso perder esse dinheiro.

. Mas com você não vou. Sou bem maior que você, sou mais forte e claro que eu tenho amor a minha vida.

. Deixa de ser machista garota. Eu só saio daqui quando eu levar a baronesa lá em cima e trazer de volta. Eu preciso do meu dinheiro. Não precisa se dirigir palavra nenhuma a mim.

. Se não vai embora, quem vai embora sou eu.

. Escuta aqui baronesa. Preciso do dinheiro, eu vim aqui correndo e não vou da viagem perdida.

. Sim. Você veio. 30 minutos atrasada e foi você. Não o Álvaro. Se é dinheiro que você quer, abro minha carteira e dou a você. Não é assim que você bate o seu ponto?.

. Como é? Tá pensando que eu sou prostituta? Eu só preciso do dinheiro, porque não sou desocupada, eu valorizo o meu trabalho, tenho contas para pagar e não nasci rica.

A infeliz não me esperou terminar de falar. Simplesmente jogou o dinheiro na minha cara e saiu correndo. Já fui muito humilhada, essa era só mais uma coleção de humilhação que eu colecionava. Recolhi minha insignificância, não pegando uma nota do que ela me jogou, deixando tudo no chão e dei a voltam liguei para o Monteiro explicando tudo e graças a Deus, que eu não ficaria sem meu dinheiro, porque minha parte já tinha feito.

Cheguei na agência de guia, assinei meu termo de ida, recebi meu dinheiro e segui para um ponto de ônibus próximo, eu precisava buscar Alice na escola. Aos poucos eu fui acostumando, hoje me dói, mas, aceito que essa realidade me cabe.

vidas Opostas (Sariette) ^INTERSEXUAL^Onde histórias criam vida. Descubra agora