Entre Árvores e Arbustos

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O dia de verão mais quente do ano estava chegando ao fim e um silêncio modorrento pairava sobre os casarões quadrados da rua dos Alfeneiros. Os carros, em geral reluzentes, estavam empoeirados nas entradas das garagens, e os gramados, que tinham sido verde-esmeralda, estavam ressequidos e amarelos – porque o uso de mangueiras fora proibido durante a estiagem. Privados das atividades de lavar carros e cortar gramados, os habitantes da rua dos Alfeneiros haviam se recolhido à sombra de suas casas frescas, as janelas escancaradas na esperança de atrair uma brisa inexistente.

De seu pequeno quarto no segundo andar Harry, com a cabeça recostada contra o vidro da janela, deixou escapar um longo e lento suspiro e contemplou o céu muito azul. Todos os dias deste verão tinham sido a mesma coisa: a tensão, a expectativa, o alívio temporário, e mais uma vez a tensão crescente... e sempre, a cada dia com maior insistência, a pergunta: por que nada acontecera ainda?

Até agora o verão não havia sido nada divertido para Harry, ele passara a maior parte do tempo em seu quarto e ao anoitecer perambulava pelas ruas, recolhendo jornais das lixeiras em seu trajeto em busca de alguma pista que lhe desse alguma informação sobre o retorno de Voldemort. Era difícil assistir ao noticiário sem receber perguntas incômodas, como acontecera todas as vezes em que tentou sentar-se na sala de estar para ver televisão com os tios.

Já não fazia sentido continuar a receber o profeta diário, ultimamente Harry apenas corria os olhos pela primeira página e logo atirava o jornal para o lado; quando os idiotas que editavam o Profeta finalmente percebessem que Voldemort voltara dariam a notícia em grandes manchetes, e era só isso que interessava a Harry.

Se tivesse sorte, chegariam também corujas com cartas dos seus melhores amigos, Rony e Hermione, embora toda a esperança que alimentara de que essas cartas lhe trouxessem notícias havia muito tinha sido riscada do mapa.

Não podemos dizer muita coisa sobre Você-Sabe-Quem, é óbvio... Nos recomendaram para não dizer nada importante para o caso de nossas cartas se extraviarem... Estamos muito ocupados, mas não posso lhe dar detalhes... Tem muita coisa acontecendo, contaremos quando a gente se vir...” Mas quando é que iam se ver?

Ninguém parecia muito preocupado em marcar datas. Hermione escrevera um “Logo iremos nos ver” no cartão que lhe mandara, mas quando era esse logo? Pelo que deduzia das vagas insinuações nas cartas dos amigos, Hermione e Rony estavam no mesmo lugar, presumivelmente na casa dos pais de Rony. Mal conseguia suportar a ideia dos dois divertindo-se na Toca enquanto ele ficava encalhado na rua dos Alfeneiros.

Irritado, Ele pegou seu álbum de fotos que havia deixado sobre a cama, retornou a janela e começou a folheá-lo, essa era a única coisa que o acalmaria naquele momento. Percorrendo seus olhos pelas páginas ele parou na última foto que havia adicionado.

A foto mostrava ele, Cedrico, Fleur e Viktor sentados abaixo de uma árvore à margem do lago negro. Os quatro haviam criado uma forte amizade secreta durante o torneio, todos eles eram campeões e só eles sabiam o que os outros estavam sentindo por isso se tornaram amigos, mas por conta das rivalidades entre casas e escolas eles decidiram manter sua amizade em segredo.

Viktor e Fleur haviam se correspondido com ele naquele verão, contando sobre as novidades e prestando suas condolências pela morte de Cedrico. Constantemente Harry era assombrado por pesadelos sobre Cedrico, fora os sonhos intranquilos sobre longos corredores escuros, todos sem saída ou terminando em portas trancadas, que ele supunha estarem ligados à mesma sensação de estar preso em uma armadilha que experimentava quando acordado.

Levantando seus olhos do álbum Harry olhou para fora novamente desta vez observando sua vizinha, Sra.Figg, recolher um de seus gatos para dentro de casa enquanto acenava para um homem que descia a rua. Não era de hoje que Harry havia notado o repentino surgimento daquele homem; ele era alto, pálido e muito bonito, sempre parecia estar nos mesmos lugares que ele como na lavanderia, floricultura ou no mercado, mas logo tratou de espantar esses pensamentos.

Vendo a noite cair Harry decidiu que seria uma boa ideia dar um passeio, ele arrastou sua mala que havia guardado em baixo de sua cama e guardou o álbum, por puro hábito ele pegou sua capa de invisibilidade – mesmo sabendo que não precisaria dela – guardou a mala, abriu a porta, desceu as escadas ignorando os resmungos de seus tios e saiu sentindo a brisa fria do anoitecer chocar-se contra seu rosto.

Ele virou a esquina e entrou no largo das Magnólias; no meio do caminho, passou a travessa estreita que margeava a garagem onde vira o padrinho pela primeira vez. Sirius, pelo menos, parecia compreender o que ele estava sentindo. Admitamos que as cartas do padrinho eram tão vazias de notícias interessantes quanto as de Rony e Hermione, mas ao menos continham palavras de alerta e consolo em lugar de insinuações torturantes: sei como deve ser frustrante para você... Não se meta em confusões e tudo dará certo... Tenha cuidado e não faça nada sem pensar...

Bom, pensou Harry, ao atravessar o largo das Magnólias para tomar a rua de mesmo nome em direção ao parque, onde já estava escurecendo, de um modo geral atendera à recomendação do padrinho. Pelo menos resistira à tentação de amarrar a mala na vassoura e partir sozinho para a Toca.

Achava que se comportara muito bem considerando sua grande raiva e frustração por estar há tanto tempo encalhado na rua dos Alfeneiros, reduzido a se esconder em canteiros na esperança de ouvir alguma coisa que pudesse indicar o que Lorde Voldemort andava fazendo. Contudo, era bem exasperante ser aconselhado a não se precipitar por alguém que cumprira doze anos na prisão dos bruxos, Azkaban, fugira, tentara cometer o homicídio pelo qual fora condenado injustamente e sumira no mundo montado em um hipogrifo roubado.

Harry saltou por cima do portão fechado do parque e saiu andando pelo gramado ressequido. O lugar estava tão vazio quanto as ruas vizinhas. Quando chegou aos balanços, largou-se em um que Duda e os amigos ainda não tinham conseguido quebrar, passou o braço pela corrente e ficou olhando, desanimado, para o chão.

Ele não sabia quanto tempo ficará sentado ali, mas sabia que já havia se passado muito tempo em seus devaneios e caso chegasse tarde em casa seu tio o trancaria no barracão de ferramentas, levantando-se do balanço, ele decidiu que o melhor seria cortar caminho pelo bosque mais próximo assim chegaria mais rápido em casa.

Esgueirando-se entre as árvores ele seguiu a trilha escura e silenciosa ouvindo somente o som da sua própria respiração até que não muito tempo depois ouviu o farfalhar de algo entre os arbustos. A principio Harry pensou que poderia ser um coelho ou um dos gatos perdidos da Sra.Figg, mas descartou a ideia ao observar uma grande silhueta surgir entre as árvores.

– Olá, Está tudo bem? Você precisa de ajuda? – perguntou Harry observando a silhueta aproximar-se, enquanto sutilmente levou sua mão ao bolso da varinha

– É você... – disse uma voz masculina, que era baixa e melodiosa

– Perdão? – Harry franziu o cenho confuso enquanto apertava os olhos buscando visualizar melhor a figura

– É seu o cheiro que venho sentindo a tanto tempo – a figura aproximava-se cada vez mais

– Acho que você deve estar me confundindo com alguém – comentou Harry segurando agora com força o cabo da varinha

– Não, tenho certeza que é você Harry Potter – a figura se tornou visível, quase de imediato Harry reconheceu a figura, aquele era o homem que o perseguia em todos os lugares que ia

– Quem é você? E como sabe meu nome? – Harry levantou a varinha e apontou para o homem que não pareceu nenhum um pouco surpreso ao ter um pedaço de madeira apontado ameaçadoramente para si

– Peço perdão, onde estão os meus bons modos? eu sou August Decker – o homem, agora titulado August, curvou-se para ele

– Você ainda não respondeu como sabe o meu nome – apontou Harry

Mas antes que tivesse ao menos tempo de raciocinar, August moveu-se em velocidade sobre humana jogando e prensando Harry contra uma árvore causando-lhe uma forte dor nas costas, sua varinha agora encontrava-se no chão a alguns metros de distância.

– Eu posso saber tudo que está em sua mente Harry Potter – sussurrou o homem contra seu ouvido enquanto segurava seus pulsos

Harry engoliu um seco, o suor agora escorria por sua testa, estava ofegante, desarmado e não sabia como sair daquela situação, ele agora tinha certeza que August não era um homem comum.

– Durante dias senti seu cheiro em todos os lugares, tão doce e inebriante, chamava por mim, agora que estou tão perto não vejo mais como resistir a você, me dói ter que tirar a vida de algo tão belo, mas não se preocupe eu serei rápido – disse August abrindo a boca e Harry pôde ver que entre seus dentes muito brancos haviam duas grandes presas que pareciam refletir a luz da lua

Em seguida Harry sentiu uma dor avassaladora em seu pescoço que espalhou-se por todo o seu corpo, seu sangue era como ácido correndo por suas veias, ele queria gritar, entretanto sua garganta não produzia nenhum som, ele começou a debater-se enquanto tentava inutilmente livrar-se do aperto, sua visão começava a escurecer e pouco a pouco ele foi revivendo cada momento importante da sua vida. Ele só lamentava não poder despedir-se de Sirius ou de algum dos seus amigos, a última coisa que Harry pôde ouvir antes de cair na inconsciência foi o som de um baque surdo.

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⏰ Última atualização: Jun 28, 2022 ⏰

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