Vale Maculado

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Sinto a terra ainda molhada sob meus pés descalços, minha echarpe de tule, que uma vez fora branca, parece estar viva conforme balança com a força da brisa.

O vale é belo e possui alguns cantos divinamente iluminados pelo pôr do sol.

O vento fica drasticamente agressivo, as folhas voam por toda a parte, os galhos batem nas árvores, cada vez mais rápidos e abruptos. Minha echarpe voou para longe de mim e meu vestido dançava com o sopro agressivo do vale.

O dia rapidamente se esvai, junto do sol e de toda sua luz.

As primeiras gotas de sangue daquela primavera começam a cair; uma... duas...três...

O vale ainda não perdeu sua beleza.

A chuva escarlate aos poucos toma um ritmo devastador, as nuvens grossas no céu imenso estão carregadas de dor...

Mas, o vale ainda não perdeu sua beleza.

Ele me convida a dançar sua triste música, mas não quero aceitar. Uma antiga história diz que se você aceitar esse convite, nunca mais conseguirá sair dali.

Porém, o vale ainda não perdeu sua beleza.

Não quero ceder, porém não consigo negar!

Quando enfim percebo, já estou pulando e me movimentando conforme o ritmo daquela canção. Estou com os braços levantados, minhas mãos tocam as gotas geladas de sangue. No meu ouvido, o vento canta sua fúnebre canção.

A terra está molhada e os meus pés cobertos de lama, meu vestido agora é de um tom carmesim vivo, assim como minha echarpe que está no chão.

Meus pulmões ardem, lágrimas escorrem pelo meu rosto. Me pergunto em que momento o vale se tornou tão sombrio e escuro.

Em que momento perdeu sua beleza?

Quando meu lugar de refúgio se tornou tão cruel a ponto de me prender aqui?

Por que sempre faz isso?

Quero as luzes, a beleza e o conforto que meu coração em pedaços deseja para saciar-se de volta.

Não quero mais esta canção, não quero que termine como das outras vezes.

Repentinamente, me vejo avançando para longe de onde estava. Meus pés batem com força no chão, meus olhos percorrem o vale já escuro à procura de uma saída, os galhos batem em meu rosto, como da última vez.

Não sei a quanto tempo estou correndo, estou cansada...quero ir para casa.

Aos bocados perco os sentidos, tudo está escurecendo.

"Como da última vez", minha mente sussurra, "Não conseguirá fugir de si mesma se não acordar, querida."

Oh sim, preciso acordar...

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⏰ Última atualização: Feb 14 ⏰

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