CAPÍTULO DOIS

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— Isso o ajuda?
Meus olhos ainda estão fechados. Acho que ela está falando comigo. Não quero abrir meus olhos ainda. Mas tenho que abrir. Ela não está mais tocando, mas sim me encarando, confusa.
— Desculpe? — digo com os olhos abertos.

— A música... Ajuda? — ela pergunta novamente. Seus olhos são como mel, mas com a luz do sol cruzando-os, eles se transformam em algum tipo de verde. — Eu vi você atravessando a rua —Não sei o que responder a ela. Ela viu toda a cena? Como era do ponto de vista de outra pessoa?

— Os motoristas estavam gritando com você, e você parecia um pouco desorientado — ela diz com um tom carinhoso — E então você acabou aqui.

— Eu por acaso fiz uma cena? Tipo... alguém quis ligar para o 911? 

— Ham... eu vi algumas pessoas fazendo menção em ligar. Mas depois que você se levantou e veio até aqui, acho que todos viram que você se acalmou e que estava tudo sobre controle.

— Entendi. 

— Eu aprendi um exercício muito bom para crises de pânico — ela diz ajeitando sua bolsa nas costas e me encarando. — Primeiro, você respira lentamente contando até 4  e enchendo a barriga, não o peito. — Ela coloca a mão direita na própria barriga e a mão esquerda na minha e pede para que eu faça como ela.

Respiro devagar contando até 4 e ela também.

— Vê como sua barriga sobe? — ela pergunta e eu aceno que 'sim' com a cabeça. — Ótimo. Agora segure a respiração por um segundo, e solte todo esse ar contando até 4 de novo.

Faço como ela diz e me sinto ainda mais calmo. Acho que isso funciona mesmo.  Não vou mentir, já conhecia esse exercício. Meu psiquiatra já havia me ensinado em uma das nossas sessões. Mas finjo que não sabia e que isso é novo para mim porque acho que gostei dela. Não converso com uma garota a não sei quanto tempo.

— Uau. Estou bem melhor, obrigado — lanço um sorriso desajeitado e envergonhado. 

— Sem problemas. Eu sei reconhecer uma pessoa ansiosa quando vejo uma — ela me dá um sorriso curto e depois sai.

Seu vestido vermelho com alças finas está se movendo com o vento do outono de Nova York. Ela está caminhando em direção ao The Daily Coffee, então eu a sigo já que vou para o mesmo lugar. Mas depois de poucos segundos, ela vira para a direita e desaparece da minha vista. Não tive coragem de perguntar seu nome e nem de continuar a conversa. Que idiota! 

Todos no trabalho me olham com olhos arregalados de preocupação.

— VOCÊ ESTÁ BEM, JAMES? VOCÊ DESAPARECEU! — grita Tereza andando de um lugar para outro, anotando os pedidos e pagando os clientes.

—Estou bem, relaxa.

— NÃO É LEGAL DESAPARECER ASSIM NOS DEIXANDO SOZINHOS COM UM MONTE DE PEDIDOS, JAMES! — agora John está gritando da cozinha.

Bem, não é muito bom ter um ataque de pânico. Não é muito bom ser diagnosticado com ansiedade quando você tem 20 anos. Sinto que ninguém realmente me entende. Ninguém sabe como é estar no corpo de uma pessoa ansiosa. Embora eu não a conheça, ela parece ser uma pessoa que sabe como é isso. 

Como vou encontrá-la em uma cidade como Nova York? Existem centenas de lugares diferentes em que ela poderia estar. Centenas de faculdades que ela poderia estudar. Centenas de cafeterias que ela deve frequentar, exceto aquela em que trabalho. Centenas de possibilidades que nunca irei saber. Preciso de ajuda e só uma pessoa me vem à cabeça quando o assunto é garotas. Terei que recorrer a ela. 

— Annie está aqui! — mamãe grita fechando a porta da frente.

— DIGA A ELA PARA SUBIR!

Eu posso ouvir o barulho de seus passos na escada enquanto coloco uma camiseta e deito na minha cama. Ela não parece muito feliz em me ver às nove da noite. Annie faz uma careta para mim e eu posso sentir seu rosto me julgando.

The space in BetweenOnde histórias criam vida. Descubra agora