𝟏. 𝐄𝐏𝐈𝐋𝐎𝐆𝐎

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"Você sabe como eu não gosto de frio, Eddie. Está frio aqui, tá frio por dentro também... Mas eu tenho certeza de que você vai me esquentar"

Por alguma razão essa era a única parte do sonho que Edward conseguia se lembrar assim que acordava. Fazia semanas que aquela cena se repetia, aquele garoto aparecia, situações, locais e palavras diferentes... Mas o mesmo final.

Desde criança tinha presságios envolvendo mortes, lembra detalhadamente do primeiro aos 6 anos: seu colega de sala sorrindo no meio do mar que confortavelmente lhe abraçava, no dia seguinte o menino foi dado como desaparecido e seu corpo achado no lago, em um passeio com a família acabou por cair na água e se afogou. Na época achou ser uma coincidência, porem quando completou seus 9 anos veio o segundo, seu vizinho sirenes e buzinas, ele foi atropelado pela madrugada enquanto retornava para casa, não queria acreditar que havia previsto, não queria causar confusão para seus pais, apenas queria ser um jovem normal, igual todos os outros.

O que lhe fez ter certeza de que precisava de ajuda psicológica, mesmo estando no século que doenças mentais era consideradas pecados, foi sonhar com seu melhor amigo, focando em seu sorriso que lhe confortava e trazia paz, os cabelos escuros sendo balançados pelo vento, estava frio, estavam no alto... Estavam caindo... Mas diferentes dos outros sonhos, esse demorou uma semana para se concretizar, uma semana que podia ter salvado, devia ter impedido... Se sentia fraco, inútil, estava com medo e triste, para piorar seus pais não o ouviam, apenas pediam para que rezasse com mais frequência.

Sua opção foi esperar e torcer para que parassem até completar sua maioridade, mas não passou, pelo contrário ficaram mais frequentes, intervalos de 3-6 meses. Sabia de mortes mas não fazia nada para evitá-las, muitas das vezes nem sabia quem eram as pessoas até aparecerem no jornal como vítimas de assassinatos, atropelamento, afogamento, acidentes e até mesmo suicídio, sentia culpa mas sabia que certas coisas estavam fora de seu controle, depois de perder a pessoa mais próxima que tinha não achava justo salvar desconhecidos, o pensamento egoísta era a única coisa que tirava o peso da culpa de seus ombros. Além dos remédios e tratamento psicológico, claro.

Se esta certo de suas escolhas, por que queria tanto salvar aquele garoto de cabelo longo castanho? Por que sua mente estava sendo brutalmente invadida pelos pensamentos de procurá-lo, mesmo sem lembrar seu rosto? E mesmo que o encontrasse o que diria? "Oi eu venho sonhado com você a um mês, sabia que está próximo de sua morte? Mas por alguma razão eu não sei como será, é isso adeus". Obvio que a morte está próxima, afinal essa é a única certeza que os seres humanos têm, na verdade Eddie não se importa muito com a morte, mas por não teme-la, não aproveita vida como muitos, o que nomeia de "simplicidade" não passa de uma devoção a ideologia "Memento Mori".

"Muitos homens se apegam e agarraram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se apegam e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens mínguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão dispostos a viver, e ainda não sabem como morrer."

Sêneca, em Carta 4: Sobre os Terrores da Morte

Memento Mori | steddieOnde histórias criam vida. Descubra agora