"Havia um lago belíssimo no encosto de minha casa, cercado de flores e um gramado espesso esverdeado. Minha familia rendia fortunas por ano, eram pintores renomados, e de tempos para cá, vendiam suas tintas unicamente consistentes e injustamente caras, aos milionários mais famosos da Inglaterra. Residiamos naquela mansão exuberantemente
bem cuidada a séculos herdados. Eu por bem esbanjar-me em júbilos, era uma moçoila detentora de beleza mediana, trajada a longos vestidos de coloração rósea. Fazia alguns meses, que todas as madrugadas de inverno,
verão, outono ou primavera, ouvia gritos estranhos vindos dos da residência, em direção do quarto dos meus pais. 5 minutos de tal gritaria acoitar o veu da noite, silêncio ensurdecedor, dominava sobre um som
caraterístico de pingos d'água,como goteiras incessantes e pesadas. Já que o local era grande demais para três pessoas e alguns criados, os quais sempre acabavam optar por ir embora ao entardecer, me parecia normal
alguns problemas nos telhados velhos. Eu indagava-me: Será a mim destinada tal preocupação? Sou apenas uma jovem de 12 anos e meio, nova demais para entender os motivos deles, mas enfim entendi. Já que
nada houvera de se fazer, continuei escrevendo em meu diário com a bela tinta preta que roubo de meus pais. Nunca entendi a razão a qual
proibiram-me de usar tal artificio artistico, diziam que era apenas para o quadros que pintavam e se regozijavam com alegria. Eu por minha enorme teimosia, nunca os ouvi, queira ó céus que me arrependo por isto!
Pela manhã do dia seguinte, acordei com o barulho alto e desconfortável de uma bobina de caminhão velha e engasgada, trazendo
consigo minha barulhenta e insuportável tia, que poderia assim também, estar com algo preso em sua garganta, para que lhe calasse por alguns segundos que seja. Ela pretendia se hospedar conosco por um bom tempo. Gostava de acreditar que fosse apenas um dia, mas diferente dos criados, a mulher não escolheu ir embora ao entardecer, o que eu vim a
descobrir, que tinha sim seus mórbidos motivos.
Estávamos postos a mesa do café, em um terno calar. Eu, Maryl Hamns. Meu pai, o poderoso senhor James Hamns, homem tão sério. E minha fria e distante mãe, Marianne de Beaux Hamns. Todos ignorando a pomposa Lucinda de Beaux.
Fora longos momentos entediantes até que me levantei, e com a permissão dos meus pais, fui dar uma breve caminhada em volta do lago.
Ele estava esverdeado ao ponto de não ver seu fundo, mas, o fato não me fez desistir da ideia de repousar meus pés sobre a água refrescante. Bons minutos se passaram. E olhando meus dedos pequenos, ladrilhando ondas
sobre a superficie, os afundei, mantendo os movimentos de outrora.
Assim que consegui sentir cócegas sobre a palma sensivel de meu pé esquerdo, soltei uma risada leve e divertida, pendendo meu corpo esguio. De forma que puxara então minhas bases da sombra esmeralda em que
estivera. Abri meus olhos segundos depois. Vi alguns musgos sobre a pele de minhas sustentações, estranhamente parecidos com cabelos de minhas bonecas. Achei deveras engraçado, se assemelhavam aos de minha
mãe também. Será com aquela cara amarrada, sempre estressada e vil, arrancara seus lindos e longos cabelos com desespero e os jogara aqui?
Voltei com pressa aos aposentos, acabando por esquecer de secar meus pés. Então adentrando o salão principal, onde todos estavam partilhando um chá. Meu pai a pintar um lindo quadro em tons de vermelho, preto,
laranja escurecido, como um pôr do sol em penumbra. Minha tia a contar suas histórias inúteis. E minha mãe, trançando seus belos cabelos sem olhar no espelho, sempre tão sedosos, sugando a luz de qualquer raio que
nela mirasse. Quando os olhos arregalados se repousaram em mim, franzi o cenho assustada, caçando algo em meu corpo que denunciasse o tal espanto. Papai apenas deixou o pincel, murmurando palavras inaudíveis, que jurei terem sido que "miséria''. Minha mal-humorada mãe,
levantou-se e segurou meu braço, caminhando apressadamente comigo até meu quarto. Trancando a porta enquanto falava rapidamente: "Vá se limpar, Maryl!'
Quando a noite caiu, todos foram embora, pelo menos assim supus, já que não escutara nenhum burburinho ou lamurio de minha tia. Chegou-se então a esperada madrugada, hora de roubar algumas tintas absurdamente caras de meu pai.
Peguei o menor caminho entre os quadros e poeira. Quando estava prestes a abrir a porta costumeira do armário, novamente os gritos, dessa vez mais altos.
Não seria estranho para mim, já me acostumara com isso adicionado a rotina, mas desta vez, eu reconheceria essa irritante e estrondosa voz em
qualquer lugar. Sai correndo tropeçando aos montes de minha camisola, em direção ao grito, estava tão perto que me ensurdecia. Os prantos altos vinham de uma porta dentro do quarto de meus pais, como eu já imaginava.
Antes que eu possa dar meu último suspiro, novamente digo: queira ó ceus que me arrependo por isto...
Abri a tal fechadura, e com o que meus olhos se depararam, meus lábios contorceram-se. Vi minha tia em pé, segurando algumas agulhas que pingavam um liquido escuro, enquanto cantarolava como uma histérica
criatura monstruosa, rindo de seu feito monstruoso. Aos cantos pútridos, corpos em decomposição, bolsas de sangue por todos os lados. Mas o que mais me horrorizou, fora ver meus pais, pendurados como carnes de
porco em um matadouro abandonado, pálidos e com seus mesmos olhos arregalados em nojo e desespero. Em seus pulsos, uma bobina drenava
seu sangue para um balde sujo de tinta negra. sugando-os aos poucos.
Minha mãe, com o resto de vida em si, gritava por ajuda, gritos os quais ouvi, implorando mentalmente a mim que saisse dali no presente
momento. Mas eu estava paralisada. Antes que eu pudesse correr até eles em disparate, virou-se a fera. Queira ó céus que me arrependo por isto...
Toda aquela belissima tinta, era tão densa, não? Feita do mais puro pigmento, o que corre em nossas veias, misturado a pós e conservantes. Como eu nunca suspeitei? Estava muito inebriada com a beleza de sua cor, para ver nela maldade e dor. E aquele lago, qual razão de sempre tão esverdeado? Corpos se escondem na escuridão de suas águas. Por isso éramos tão ricos? Nossas tintas tão unicamente consistentes e injustamente caras.
Meus pais, nesses longos meses de gritos e
madrugadas gotejantes, roubavam o sangue de criados, todos tão pobres, não possuíam família a qual fosse em sua procura, então meio que já
estavam mortos, não? O que seria um pouco de aproveitamento deles? Afinal, precisávamos de tintas...E eles poderiam ter ido embora antes do
entardecer, não é? Sim, se tivessem para onde ir.
Mas como todo caçador um dia é a caça, todos tem um fim. Minha tia querida, sempre tão curiosa, não demorou à os pegar misturando tinta barata ao sangue da pequena Jesse, criada que "fora embora" ao entardecer de ontem.
Vislumbrada, resolveu testar sua teoria recém criada em segundos, a razão dos quadros da família Hamns nunca envelhecer. Queria uma
coloração pura, não misturada a tintas baratas, queria um sangue real como ela gostava de cantarolar que éramos, sangue real. Não demorou para que a barulhenta Lucinda, treinada por uma força descomunal, prendesse a
ganchos de carne, os pobres então vilões da história, meus pais.
Acordei com um infernal barulho, baixo, entretanto, em minha cabeca, pareciam estrondar, e assim que abri os olhos com maior precisão, senti o peso do meu corpo, rasgando a minha carne sobre aqueles ganchos cruéis. Olhando o chão, vi goteiras vindas de mim, desta vez, uma dor sugando minhas veias pouco a pouco. Em meu último respirar, vi o quadro que minha tia pintava com meu sangue, grafando como título a frase: 'Queira o céus que me arrependo por isto..."E então a gota final derramou, e meu ar me abandonou...Fim.
P.s: Esse alguém me entregou junto à carta, um belo quadro sem assinatura ou nome
Um pôr do sol em penumbra, que gosto de chamar dês de então de "Céus queira, pois me arrependi".
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Contos Que Alguém Me Contou.
Cerita PendekTalvez o que eu vá dizer seja meu último suspiro, mas alguém me contou que...