Ele.
Bradley Bradshaw.
O sonho da sua infância e o pesadelo do seu presente.
Vestia uma camisola branca de manga curta e sobre esta uma camisa em tons esverdeados. Ou seriam voltados para o castanho? Faith não conseguia identificar com precisão do lugar de onde presenciava a sua entrada no bar.
Ele tinha um sorriso no rosto, mas os óculos de sol que trazia impediam Faith de ver se o seu sorriso chegava, de facto, ao seu olhar. Faith assim o esperava. Que Rooster tivesse finalmente deixado as intervenções hostis no passado, tal e qual onde elas pertenciam. Ainda assim, Faith conhecia Bradley demasiadamente bem para saber que ele não esquece as coisas assim tão facilmente. E foi precisamente por esse motivo que Faith perscrutou rapidamente com o olhar todo o bar, em busca dos olhos do seu pai.
Mas estes ainda permaneciam nos de Penny. Ambos envolvidos numa conversa que já devia ter tomado lugar à anos. Talvez uma conversa que oferecia, ao seu pai, a oportunidade de se redimir por ter deixado Penny. Não que teria sido a primeira vez. Não que iria ser a última.
A reputação de Maverick precede-o e Faith sabe disso melhor do que ninguém. Embora que, de todas as vezes em que o destino presenteava um novo reencontro de Pete com Penny, a menina tinha esperança de que, pelo menos desta vez, tudo iria funcionar para ambos. Mas, o que Faith levou o seu tempo a compreender foi que não se deve interferir no destino oferecido pela terra e o destino prometido pelos céus. São destinos contraditórios. O primeiro promete a longevidade em busca de uma vida eterna e o segundo promete uma morte demasiado precoce. São dois destinos numa rivalidade absoluta e permanente. Dois destinos que Maverick não conseguia conciliar e, por isso, sempre que ultrapassava a barreira da amizade com Penny, afastava-se porque é apenas isso que ele sabe fazer. Afastava-a pela decisão que tomava em não prescindir de voar. Porque voar, sem a garantia de algum dia poder voltar, trazia apenas sofrimento para quem deixava em terra. Para quem ficava. E Maverick sabia bem disso. Rooster melhor ainda.
Bradley direcionou-se para a mesa de bilhar, para junto dos outros aviadores.
— Bradshaw! - ele aproximou-se de Phoenix - Uau, és mesmo tu. Só assim para eu descobrir que estás nos Estados Unidos.
— É, eu pensei em fazer uma surpresa. - ele disse enquanto arrumava os óculos de sol na gola da sua camisola, Phoenix posicionou-se ligeiramente à sua frente para ter uma melhor visibilidade da bola que estava prestes a acertar.
Mas assim que Phoenix lança o taco para trás com o intuito de lhe dar balanço para que a bola em mira ganhasse velocidade, acertou acidentalmente em Rooster, que se contorceu de dor atrás de si.
— Gostaste da minha surpresa? - ela virou-se para trás para o observar de cima, ele ainda continuava abraçado à sua barriga.
Bom... talvez não tenha sido tão acidentalmente assim. Faith tinha subestimado Phoenix.
— É bom ver-te. - ele forçou um sorriso, ainda mascarado pela dor, enquanto olhava para cima, para Phoenix.
— É bom ver-te também. - ela sorriu e Bradley recompôs-se, dando-lhe duas palmadinhas no ombro assim que passou por ela para cumprimentar o resto dos aviadores.
— Bradshaw! - Hangman aproximou-se novamente após, ao que parece, ter ido buscar mais cervejas — Eu não acredito nisto. - ele seguia com o seu típico sorriso estampado no rosto.
— Hangman. - Bradley assentiu, mas o seu rosto permaneceu impassível. Nem sequer um vislumbre de um pequeno sorriso, contrariamente a Hangman, cujos dentes brilhavam sob os focos das luzes claras — Tu estás... ótimo.
— Pois é, Rooster. Eu sou ótimo. - ele rouba o taco de bilhar ao atual adversário de Phoenix para executar a jogada no seu lugar.
Mira na bola branca e antes de ganhar impulso com o taco, olha novamente para Rooster.
Dá, por fim, a tacada e termina a jogada encaçapando a bola-alvo com êxito. Em nenhum momento o seu olhar deixou o de Bradley.
— Ótimo mesmo. - Hangman completa após pontuar sem olhar.
Nem parece que acabou de perder uma partida imediatamente antes desta. Mas Bradley também não sabe disso e é a ele a quem Hangman quer impressionar. Ou, pelo menos... tentar ser impressionante.
— Eu disse que a deixei ganhar. - Hangman olha na direção dos outros rapazes e por fim sustém o seu olhar no de Phoenix, que não hesitou em revirar os seus olhos.
Claro.
Essa era a explicação.
— Aliás, - ele retorna a sua atenção a Bradley — eu sou ótimo demais para ser real.
Rooster e Phoenix encaram-se. As sobrancelhas dele arqueadas enquanto ela negava com a cabeça, desacreditada.
Era inacreditável o tamanho ego que o seu colega imbuía, não demonstrando qualquer problema ou vergonha em exibí-lo.
— Bem... - um dos rapazes intervém para aligeirar o ambiente que se instaurou entre Hangman e Rooster — Alguém sabe a que respeito vem este destacamento especial?
— Não, missão é missão. - Hangman diz de imediato — Motivo não importa. - ele faz uma completa — A única coisa que eu quero saber... é quem vai ser o líder. E qual de vocês tem o suficiente para me seguir. - Hangman sorri, passando o olhar por todos, mas para em Bradley, que por isso se sentiu na obrigação de responder, como se o olhar de Hangman sobre o seu fosse uma espécie de desafio.
Mal sabia ele, que Bradley adorava desafios.
E que tinha acabado de aceitar o seu.
— Hangman, tu só lideras alguém se o destino for o túmulo. - Bradley sorri-lhe de volta.
— Wow. - um dos rapazes deixa escapar, mas quando Hangman lhe fuzila com o olhar, este rapidamente esconde o pequeno sorriso atrás do gargalo da cerveja que estava a sorver.
Ainda assim, Hangman sorriu para Rooster. Quase que... imperturbável. Ou, pelo menos, tentava parecer.
Pousou o taco de bilhar em cima da mesa e passou pela frente de Phoenix, que também sorria, vitoriosa, por Rooster seguir em vantagem. Ambos os olhares cruzaram-se, mas não foi por isso que o sorriso de Phoenix vacilou. Nem por sombras.
Posicionou-se em frente a Rooster e encostou-se na mesa de bilhar atrás de si.
— Tudo bem, mas quem te seguir vai acabar sem combustível. - Hangman constatou — Mas é o teu estilo. Não é, Rooster?
Rooster assentiu e num gesto rápido semicerrou os olhos, incentivando-o a continuar.
— Tu apenas ficas ali, desnorteado, - Rooster anuía inúmeras vezes com um sorriso no rosto, provocando-o — à espera do momento... que nunca chega. - Hangman termina com um sorriso triunfante no rosto — Eu adoro esta música! - ele diz de repente, totalmente fora de contexto e afasta-se de Rooster, em direção à caixa de som.
É a vez de Phoenix se aproximar.
— É, ele não mudou nada... - ela comentou com Rooster, encarando Hangman.
— Não mesmo. - Rooster constatou e em seguida afastou-se.
Faith seguiu Rooster com o olhar.
Não que, em algum segundo - desde o momento em que Bradley entrou pela porta daquele bar até ao atual instante -, Faith tenha sequer ousado desviar o olhar da sua direção.
Afinal de contas, ela não era tão diferente do seu pai quanto pensava.
Faith observava atentamente cada passo de Bradley. Reconhecia cada tique, analisava cada gesto.
Até ao momento em que ele olhou na sua direção.
E, então, ela petrificou.