1/1 o começo de tudo

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Julie

Você já se sentiu como se nada na sua vida fizesse sentido? Como se cada passo que você desse fosse em direção a um vazio sem propósito? Eu me senti assim por grande parte da minha vida, até que, do nada, ela apareceu. Karen Baltazar entrou na minha vida como um furacão. Uma menina com um passado triste, mas com uma capacidade imensa de amar a vida. Era impossível não se inspirar nela.

Conheci Karen quando tínhamos 12 anos. Éramos inseparáveis desde o primeiro dia. Fazíamos aniversário no mesmo mês, separados por apenas um dia. Brincávamos o tempo todo que éramos gêmeas, nascidas em dias diferentes. Mas, apesar da nossa conexão, nossas vidas não poderiam ser mais diferentes. Enquanto eu vivia em uma casa cheia de amor e risadas, Karen enfrentava tragédias que nenhuma criança deveria viver.

O pai dela era policial, um herói aos olhos dela, mas quando Karen tinha apenas 6 anos, ele foi ferido em combate e nunca mais voltou a ser o mesmo. A tristeza que se instalou na casa dela parecia afogar tudo o que restava de alegria. Aos 8 anos, Karen sofreu abusos psicológicos de um namorado da mãe, um homem desprezível que aproveitou a fragilidade da situação para destruir o que já estava quebrado. Assim que a mãe dela descobriu, o expulsou de casa, mas o estrago já havia sido feito. Desde então, a mãe de Karen nunca mais se apaixonou.

Karen me contava essas histórias com uma franqueza que sempre me chocava. Ela nunca se vitimizava. Ao contrário, falava como se tudo aquilo tivesse apenas moldado a pessoa que ela era. Forte. Resiliente. E ainda assim, cheia de amor.

Quando completou 15 anos, Karen recebeu o diagnóstico que mudaria tudo: leucemia. Mesmo com os tratamentos, ela nunca conseguiu se livrar da doença. Eu me lembro de estar ao lado dela em cada consulta, segurando sua mão, fingindo ser forte quando, na verdade, meu coração estava em pedaços.

Aos 16, veio a notícia que todos temíamos, mas que Karen enfrentou com uma coragem assustadora: sua leucemia havia chegado a um estágio terminal. Os médicos disseram que não havia mais nada a ser feito. Para qualquer outra pessoa, aquilo teria sido o fim. Mas não para Karen.

— Julie, eu vou viver, mesmo assim — ela me disse, com o sorriso mais determinado que eu já tinha visto. — Eu vou aproveitar cada segundo que me resta. Não quero passar meus dias em hospitais ou trancada no quarto, chorando. Quero sentir o sol na pele, o vento no rosto, e quero que você me acompanhe em cada momento.

E foi exatamente isso que fizemos. Cada minuto com Karen era uma lição sobre o que realmente significava viver. Saíamos para ver o pôr do sol, para caminhadas sem rumo, para experimentar as pequenas alegrias que a vida ainda tinha a oferecer. Até mesmo as coisas mais simples, como sentar em um banco de praça ou tomar sorvete em um dia quente, ganhavam um novo sentido com ela ao meu lado.

— Julie, você já pensou no que quer fazer quando eu não estiver mais aqui? — ela me perguntou um dia, enquanto caminhávamos pelo parque.

Aquilo me pegou de surpresa. Como responder a uma pergunta dessas?

— Eu... eu não sei, Karen. Não gosto de pensar nisso.

— Mas você vai ter que pensar — ela insistiu, com aquele tom prático que sempre usava quando queria me preparar para algo difícil. — Não quero que você fique se lamentando. Quando eu me for, você tem que continuar. Promete pra mim?

— Eu prometo — murmurei, embora meu coração estivesse apertado.

Naquele dia, eu não sabia que ela já estava planejando tudo. A lista, a última coisa que ela deixaria para nós, só foi revelada no seu velório. Mas agora, enquanto olhava para o túmulo de Karen ao lado de Andrew, tudo começava a fazer sentido.

Ela sempre soube. Soube que sua partida deixaria um vazio enorme, mas também soube como preencher esse vazio. Sua missão, mesmo em seus últimos dias, era nos ensinar a viver. A seguir em frente. A encontrar uma nova vida, como ela mesma dizia.

E assim, ali ao lado de Andrew, com a agenda de Karen em nossas mãos, percebi que nossa jornada estava apenas começando.

Karen não desistiu de viver, e agora, mesmo após sua partida, ela nos guiava em uma nova aventura. Uma aventura que, de alguma forma, nos ajudaria a encontrar o que significava seguir em frente sem ela.



Personagens

Julie Borges Díaz - Pele clara, cabelos lisos castanhos e longos, olhos castanhos claro e magra

Andrew Ferraz Barreto - Pele parda, cabelo liso castanho claro, corpo musculoso e tatuado.

Karen Ferreira Baltazar - Pele branca, cabelo liso louro curto, olhos azuis escuros e com algumas tatuagens pelo corpo magro

Meire Borges ( Mãe da Julie) - Pele morena, cabelo cacheado e olhos castanhos

Juan Díaz ( pai da Julie) - Mexicano, pele morena e olhos castanhos claros  

Fabiana Ferreira ( Mãe da Karen) - Pele branca, Cabelo louro longo e olhos Castanhos

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