1/2 Como tudo começou 2

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Andrew

Minha vida sempre foi uma série de incertezas. Desde pequeno, eu me perdia nas minhas próprias dúvidas, no caos que era minha casa. Cresci com uma mãe dependente química, sem um pai presente. Tive que ser o adulto quando ainda era uma criança, cuidando da minha mãe sozinho. Mesmo agora, limpa das drogas, a vida dela continuava um turbilhão. Ela trabalhava em três empregos e quase nunca estava em casa. No fundo, isso significava que eu nunca soube o que era receber amor de verdade ou ter qualquer tipo de estabilidade emocional.

Aos 18 anos, decidido a escapar da realidade, fui para uma balada que já frequentava. Eu tinha uma certa "moral" por lá e entrada gratuita. Assim que cheguei, vi duas meninas na entrada. A morena imediatamente capturou minha atenção. As duas estavam discutindo com o segurança, tentando entrar apesar de serem menores de idade. Me aproximei com confiança.

— Relaxa, Brunão, elas estão comigo — falei, e o segurança, que me conhecia bem, as deixou entrar.

A morena, sem perder tempo, brincou:

— Nossa, que moral! Você é o dono da balada?

Sorri e respondi:

— Não, só tenho meus privilégios. E o nome das donzelas, posso saber?

— Julie — disse a morena, com um olhar desafiante.

— Karen — falou a loirinha, mais tímida.

Foi então que as convidei para o camarote. Julie hesitou, mas Karen aceitou prontamente. Enquanto Julie me ignorava, Karen e eu nos aproximamos rapidamente. Se eu soubesse o quanto aquele primeiro beijo mudaria minha vida, teria me focado nela desde o início. Em menos de um mês, estávamos namorando, e Karen trouxe uma nova luz para minha existência. Era como se, pela primeira vez, eu tivesse alguém que realmente se importasse comigo.

Alguns meses depois, Karen revelou o segredo que partiu meu coração: estava com uma doença em estágio terminal. A leucemia havia retornado com força total. Saber que eu a perderia era devastador, mas ela, com sua força e coragem inabaláveis, decidiu que viveria cada segundo ao máximo. Julie esteve ao nosso lado durante todo o processo, e sua força foi um alicerce para mim.

Agora, eu estava sentado ao lado do túmulo de Karen, com o coração em frangalhos. O discurso de Julie, tão firme e carregado de amor, ainda ecoava na minha mente. Cada palavra parecia uma tentativa de acalmar o desespero que eu sentia, mas nada preenchia o vazio. Karen era o meu ponto de equilíbrio, e agora eu estava à deriva. O mundo, que antes parecia vibrante com sua presença, agora era um lugar frio e sem vida.

Eu me lembro de cada detalhe da nossa história, de cada batalha que ela enfrentou, e de como nosso amor floresceu mesmo sob o peso da sua doença. A conexão entre nós sempre foi forte, mas sempre soubemos que nosso tempo juntos era limitado. Quando Karen me entregou a pequena agenda no hospital, eu sabia que era algo importante, mas não estava preparado para o que ela havia planejado.

Olhei para Julie, que se aproximava com aquela determinação que sempre admirei, mas que naquele momento parecia um fardo. Ela estava pronta para seguir em frente, para cumprir o último desejo de Karen, enquanto eu mal conseguia respirar.

— Onde você encontrou isso? — Julie perguntou, com as lágrimas brilhando em seus olhos.

— Tia Fabiana me deu após o discurso — murmurei, tentando manter a voz estável.

Julie segurava a agenda de Karen como se fosse um tesouro, folheando as páginas com cuidado, como se ali estivessem as respostas que precisávamos. Eu sabia o que estava escrito ali, e cada palavra parecia uma faca em meu peito. A lista de tarefas que Karen havia deixado não era apenas um pedido; era uma missão. Ela queria que nós dois encontrássemos um novo propósito, uma nova forma de viver. Mesmo nos seus últimos dias, ela pensava em nós.

O sorriso de Karen, aquele sorriso que sempre iluminava tudo ao seu redor, ainda estava gravado na minha mente. Ela era a pessoa mais otimista que eu conheci, alguém que via beleza na vida, mesmo quando tudo parecia desmoronar. Ler suas palavras, saber que ela havia deixado uma lista de coisas para Julie e eu fazermos juntos, era tanto um presente quanto uma tortura. Porque, no fundo, eu sabia que a jornada que ela havia planejado seria a única forma de continuar, de honrar sua memória.

Julie me olhou com aquela firmeza que parecia inquebrável.

— Temos que cumprir essa lista — disse ela, com uma certeza que me trouxe algum consolo. — Vamos fazer isso por ela, por nós.

Assenti, sentindo uma leve mudança dentro de mim. Ainda estava devastado, mas de alguma forma, a ideia de embarcar nessa jornada com Julie me deu um pequeno senso de propósito. Karen sempre dizia que a vida deveria ser vivida, não importa quanto tempo restasse, e talvez, cumprindo essa lista, poderíamos encontrar o que ela queria que descobríssemos: uma nova forma de viver, uma nova forma de amar.

Nos afastamos do túmulo de Karen com a pequena agenda entre nós. A dor era esmagadora, mas ali, ao lado de Julie, senti que talvez, de alguma forma, a jornada que Karen havia nos deixado não fosse apenas uma lista de tarefas. Era um caminho para seguir em frente, um caminho para encontrar significado na vida novamente, mesmo sem ela.

E assim, começamos nossa jornada. Uma jornada que, embora dolorosa, seria a única forma de redescobrir o que significava viver, amar e, eventualmente, seguir em frente.

Lista para uma nova vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora