2. Pra onde a gente vai?

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      Se a gente olha no espelho com o olho esquerdo vè uma coisa e se olha com o direito vê outra, sem sair do lugar

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      Se a gente olha no espelho com o olho esquerdo vè uma coisa e se olha com o direito vê outra, sem sair do lugar. Eu tenho mania de ficar piscando alternando os olhos vendo o mundo mexer pra esquerda, direita, esquerda, direita.

      Eu nunca mais namorei. Não que eu saiba. Eu nunca sei exatamente o que está acontecendo e nunca tenho certeza de nada.

      Voltei pra sala de ginástica. Fiquei me equilibrando em cima da bola de pilates, tinha um espelho na frente, um espelho de corpo inteiro, aqueles de sala de dança, e eu fiz o experimento: fechar os olhos e abrir de repente. Queria me ver, não saber que era eu e me olhar pela primeira vez pra ver como eu era de verdade. Porque, talvez, se eu não soubesse que era eu, eu nem reparasse em mim.

      Lembrei que um dia eu era criança e alguém me disse os cães só enxergam em preto e branco e eu fiquei com pena dos cães e abracei minha cachorra e disse pra ela que pena que você não vê as cores.

      Também me disseram que as moscas enxergam em octaedro e o mundo delas é um caleidoscópio, e eu fiquei pra sempre pensando que se eu fosse mosca passava mal cada vez que abrisse os olhos, eu ia ser uma mosca morta.

      Naquele dia da festa estava difícil porque além do mais a Ino passa mal quando come e há dois dias vive de água quente com limão, pra desinchar, o Shikamaru largou a escola, a Karin não fala com a gente, o Kiba talvez viaje pra Brasília porque os pais dele trabalham no governo, e a Temari não parava de mandar nas amigas, faz aquilo, fala aquilo. Os meninos queriam levar bebida escondido, mas a Sakura ficou sabendo e contou pra todo mundo e os pais ficaram sabendo e a escola ficou sabendo e todo mundo ficou sabendo e toda hora os meninos eram chamados pra sala da coordenação sendo que a festa ainda nem tinha acontecido. Então eles estavam lá, tomando suco. A Tenten fica na dela, a gente nunca sabe o que a Tenten está pensando. A Sakura gosta da Hinata do primeiro ano, mas namora o Shino. O Shino foi pra festa de paletó, ele é alto, está sempre de óculos. Ele sempre usa esse paletó, a gente chama de blazer, mas ele sempre nos corrige, fala que é o seu velho e surrado paletó cinza, não importa o calor ele sempre está com aquele paletó. Quarenta graus, bermuda, paletó. O Shino é quieto, faz ioga e olha pra gente como se a gente estivesse pelada. Ele repetiu de ano então ele é muito mais velho.

      A Sakura tinha inventado de fazer a festa à tarde, com os amigos e os adultos, na casa dos pais dela, o pai é publicitário-artista, ganha dinheiro, a Sakura faz expressão corporal, dança indiana, teatro e hip-hop, eu tenho inveja, ela tem dois papagaios, uma calopsita e a casa mais completa do universo, com sala de ginástica, bola de pilates e biblioteca.

      A gente fez bolos veganos pra festa porque a Tenten não come nada de nenhuma origem animal e aproveitamos também e substituímos o glúten, e eu e a Tenten combinamos que tudo o que sobrasse a gente ia sair e distribuir pros mendigos.

      Sobrou bastante.

      Porque o olho é maior que a boca.

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