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- Tem certeza de que você está bem, senhorita? - A voz do garçom voltou com força, trazendo Katherine finalmente para o momento atual.

O restaurante estava prestes a fechar. A maquiagem da moça estava borrada, e mesmo assim, sua aparência continuava divina. Sua boca amargava com o álcool, e isso só a lembrava da tristeza que afagava seu peito.

- Defina bem, senhor. - Suspirou uma risada forçada, bebendo o último gole de Bourbon, ouvindo o gelo deslizar pelo copo de vidro vazio. Ela então levantou o olhar para o garçom e balançou a mão que segurava o vidro. - Mais uma.

- A senhorita está aqui faz três horas. Não deveria mais remoer o que passou.

- Eu quero mais uma. - Katherine apenas ignorou e pediu por mais.

O celular de Lavoisier vibrou por alguns segundos depois. Sua mão vasculhou a bolsa e atendeu a chamada. Sua esperança aumentou, sabe-se lá porque, entretanto, despencou na mesma hora.

- Katherine, onde você está? Esqueceu que marcou comigo aqui no hotel? Eu quero saber de tudo e você me deixa plantada! - A voz de Amanda ressoa do outro lado da linha.

Kath sentiu aquilo como um bálsamo, mesmo não estando cem por cento em seu juízo. Seu coração ainda doía.

- Sinto muito, Mandy. - Respondeu desanimada com a voz um tanto alterada. -

- Por Deus, Kath, você está bem? Está soando meio... estranha. - Mandy estava preocupada com o estado da voz de Katherine. Estava arrastada, deprimida. - Vou te buscar, não se preocupe.

Kath ajeitou a barra de seu vestido e cambaleou um pouco após se levantar. Relutou com as lágrimas mais uma vez, colocando a bolsa no ombro direito e caminhou até o banheiro.

Seu reflexo emanava o caos. Seus olhos borrados com dor, sua palidez cadavérica, sua essência desaparecida. Era como olhar para uma aquarela desbotada e esquecida no sótão. Em um suspiro, Kath colocou o telefone no viva-voz.

- Katherine, o que aconteceu com você e Sebastian? - Mandy perguntou com certa cautela.

Se Amanda pudesse vê-la, entenderia tudo sem que precisasse explicar nada. Em um suspiro cansado, Kath tentou falar sobre.

- Fui tola em esperar, Mandy. Fui tola em pensar que algo aconteceria como mágica. Tarde demais, como sempre. - Suas mãos enxugaram as poucas lágrimas que puderam escorrer em suas bochechas.

No dia de hoje, Katherine e Sebastian gravaram seu último take juntos. Os dias de gravações do filmes se encerraram, e com isso, a parceria dos dois chegava ao fim. Lavoisier estava com medo, abatida com a situação. Bastian havia marcado um jantar em comemoração por mais um projeto completado, e seria especial para ambos. Ele tinha algo para dizer.

As expectativas de Kath aumentavam a cada batida de seu coração. Ela havia vestido sua melhor roupa, com um penteado que a deixava radiante e de beleza imensurável. Suas jóias caras e banhadas em ouro realçaram tamanho poder de vênus que exalava de seu ser, e seu perfume frutado com toque de baunilha era a cereja do bolo. Ela ansiava por ouvir as palavras que tanto aguardava.

Quando pôde vê-lo em seu melhor terno, com seus cabelos em brilho natural e seu perfume forte e extravagante, sentiu que estava nos céus como nunca havia estado antes. Os dois conversaram por um longo tempo, cada vez mais aumentando as expectativas de Lavoisier. Eles riam, relembravam de momentos nas gravações, relembravam das fotos que haviam tirado juntos. O sorriso na face de Toussaint valia como o mundo para Lavoisier. Tudo estava ocorrendo como ela havia imaginado.

Isso até ele citar Claire no meio.

- Pensei que vocês haviam terminado faz alguns meses... - Kath murmurou confusa.

- Bem, faz umas semanas que estamos conversando, sabe? Para tentar resolver as coisas. - Ele dizia casualmente, com a taça de vinho bordô em sua mão adornada de anéis prata. - Decidimos noivar, e já estamos planejando o casamento. - O sorriso dele se abriu, e seu olhar sincero mirou em Lavoisier. - Eu vou sair pai, Kath.

O brilho surgiu no olhar de Toussaint de uma forma que fazia Kath engolir tudo que estava querendo dizer. Sentiu o estômago embrulhar e, por um momento, não sabia o que dizer sobre tudo aquilo.

Sebastian ficou incerto sobre aquela reação. Não passou por sua cabeça que havia magoado Katherine, ou que ela esperava algo diferente vindo de si. Afinal, para ele, o que havia acontecido nesse tempo todo entre os dois era algo muito mais puro do que parceria de um filme. Ele a via como uma verdadeira amiga, e nada mais. E se Kath soubesse de toda a ilusão que viveu em sua própria mente durante todo esse tempo, talvez ela não conseguisse suportar tanta dor acumulada dentro de si.

Após contar tudo para Mandy, ela aguardou o carro da amiga aparecer para ir embora. O frio daquela noite era insuportável. As luzes da cidade não faziam o brilho retornar em seu rosto. E pensar que toda a dor estava oculta por um sentimento cego.

O amor.

- Sinto muito por isso. Kath. - A voz de Mandy soou cautelosa. - Às vezes, as coisas não funcionam da forma que pensamos, sabe? O melhor que você pode fazer é voltar de cabeça para o trabalho. As coisas vão melhorar.

Mas Lavoisier não conseguia ouvir nada direito. estava ocupada demais emergindo em sua mente. Quando chegou em casa, retirou seus saltos e desfez seu penteado. Adentrou no banheiro e lavou o rosto como se quisesse apagar sua imagem para sempre. Ela sentiu como se tivesse falhado no maior filme de sua vida. Ao deitar na sua cama, Katherine pensou em mais coisas. Mal podia pregar os olhos sem ser perturbada novamente pelas suas ideias e arrependimentos durante todo esse tempo. Ela poderia realmente seguir em frente.

Mas então, o dia amanheceu.




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