De pé a sua frente, sem camisa e com a calça desabotoada, se sentir vulnerável faz parte do processo de se jogar de cabeça. Mas eu tinha apenas 3 dias para fazê-la se apaixonar por mim da mesma forma que eu estava por ela.
Sim, demorou, mas o álcool e aquela conversa me ajudaram a entender: Débora não era alguém que você levava "meio a sério". Com ela, era tudo ou nada. E, apesar do medo latente, acredito que o risco vale a pena.
- Não quero que você olhe enquanto eu pinto. Vai ser surpresa – diz ela, enquanto se coloca atrás de mim e passa uma camisa fina sobre meus olhos e a prende atrás de minha cabeça. Seu corpo roça em mim e a textura deslizante do cetim me arrepia. Sinto sua risada na base do meu pescoço.
- É por isso que não gosto de surpresas.
- Vai ter que se acostumar com essa por enquanto.
Ouço alguns barulhos e, em seguida, a cerda macia encharcada de tinta pressiona minha costela. Um riso escapa de mim. Enquanto me pinta, desenhando formas assimétricas e pequenos círculos e quadrados, que tomam conta desde a base do meu pescoço até meu quadril, sinto seu cabelo encostar em mim.
- Soltou o cabelo?
- Sinto mais liberdade na hora de pintar.
- Nunca vi um cabelo como o seu. Ele é lindo. São tantos cachos... - sou surpreendido quando ela abaixa a venda e segura meu rosto com as mãos manchadas.
- Você é um homem muito intrigante.
A aproximação é lenta, mas inexorável, o aperto, firme. Me perco em seus olhos e paraliso quando ela suga meu lábio inferior antes de tomá-lo para si num beijo fugaz. Antes que eu possa fazer algo, ela me repreende:
- Não me distraia mais – e levanta a venda.
- É assim que vai me retribuir toda vez que eu a distrair?
- Talvez... Ou eu posso cutucá-lo com o pincel. Você escolhe.
- Hum... - finjo pensar -, realmente prefiro os beijos.
Ela ri enquanto circula meu umbigo para então desenhar estrelas subindo pela minha barriga. Às vezes, ela me oferece vinho, queijos ou simplesmente selinhos aleatórios que me fazem questionar minha sanidade ao permanecer parado enquanto queimo por dentro. Quando ela termina, por volta das 4 da manhã, retira minha venda e noto que, em algum momento, ela trocou o vestido pela minha camisa.
- Vai ser mais uma que eu vou estragar.
É a última coisa que digo antes de agarrá-la pela cintura e pressionar um beijo lento e sedutor contra seus lábios macios. Ela se entrega com uma paixão que aumenta meu fogo interno. Enrosco minha mão em seu cabelo e ajeito-a para tornar o beijo mais profundo. Quando paro, nossas respirações estão ofegantes e, como previa, a camisa manchada com tons quentes e um breve azul inserido no meio.
Débora fica ainda mais linda após ser beijada, toda desarrumada. Seu olhar é uma mistura de compreensão e vulnerabilidade. Ela me leva até o espelho de corpo todo em seu quarto, com mais estabilidade nas pernas do que eu.
Não me reconheço ao me olhar no espelho. O cabelo bagunçado e o rosto corado são familiares. A noite estrelada, as chamas de fogo e o sol despontando no horizonte já não são.
- Isso ficou lindo. Donde tirou inspiração para fazer isso tudo?
- Meio que foi o momento... e a sensação que cada uma dessas coisas me traz e como não preciso delas para sentir isso por você.
O momento é precioso e igualmente frágil.
- E como te faço sentir?
- A noite estralada representa o desconhecido e a beleza que foram umas das primeiras coisas que eu associei a você; as chamas são o calor e a impetuosidade que sinto quando estou com você e o amanhecer seria aquilo que tenho segurança, que nunca deixará de vir por mais que...
Não consigo deixá-la completar, porque a beijo como se minha vida dependesse disso, desse último resquício de vibração. É mais forte que eu e, aparentemente, é mais forte que ela. Não conseguimos evitar. Se for para ser assim, então, por Deus, será! Todavia, ao mesmo instante, o medo é irreversível e destruidor. Uma sirene inconfundível se instala dentro do meu cérebro. Minha confiança, foi-se.
Ela interrompe o beijo.
- Leo, acho que estou apaixonada por você.
Isso é o suficiente para que o pânico me tome por completo. Tento me lembrar de respirar, mas não funciona. Chego a pensar que as paredes estão me apertando, me sufocando.
- Preciso sair daqui... - minha voz é um fio.
Assim, deixo minha camisa e meu coração para trás para dar um jeito no meu cérebro e tentar me entender.
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Corações, Câmera, Ação
Short StoryQuando Leonardo decide ir para Itália a trabalho, desconhecia o fato de que a atriz mais querida e famosa do Brasil iria com ele. Com uma mente sagaz e conversas espirituosas, a atração é mútua entre o casal, mas seria isso o suficiente para se tran...