2. Obsessão e Coragem

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A Itália tem um clima agradável, embora o sol ainda estivesse despontando no horizonte. Sinto-me dispersa em meu disfarce e busco ar fresco e um bom café. Gosto da forma como a saia envolve minhas pernas e como ninguém ali parece me conhecer.

Os episódios embaraçosos de dias atrás não saem da minha cabeça e me sinto estúpida por acusá-lo daquela forma. Senti nervosismo pela forma intensa que me encarava, principalmente pelo sorriso de escárnio mal disfarçado.

Como um sinal, olho por cima do ombro e encontro-o sentado com papéis espalhados pela mesa e uma caneta pendida pelos dedos. Seu ar profissional se apura. Os cabelos pretos bagunçados e o tom avermelhado da pele, acentuada pela camisa branquíssima que usava lhe deixavam absurdamente atraente.

Roma, de fato, abria novas oportunidades.

Mas não podia me esquecer de que havia um pedido de desculpas a fazer.

Consciente da confiança adquirida desde cedo, andei até ele e sentei a sua frente, cruzando as pernas.

- Pensava que não fosse mais vê-lo – comecei. - Devo-lhe um pedido de desculpas. Bom, já que está bebendo um expresso, permita-me pagar qualquer coisa que deseja desta loja.

- Já foi perdoada há muito – negou ele entre um gole e outro.

Meu indício de surpresa deve ter me entregado, pois, ele completou:

- Não há nada para compensar.

- Então é do tipo orgulhoso?

- Sou do tipo que não preciso do seu dinheiro para perdoá-la, Débora.

- Você possui a vantagem de conhecer meu nome, mas não sei o seu.

- Pois bem, me chamo Leonardo.

- Vou chamá-lo Leo - e descobri que até seu sorriso era charmoso, com aquela covinha única. Nem um pouco parecido com o de escárnio que havia merecido ontem.

- É ridículo, eu sei - confessou ele -, mas nunca me deram um apelido.

Seu flerte é mínimo, mas me atinge de forma inesperada. Preciso reverter esse placar.

Quando saímos pela cidade, fiquei hipnotizada pela sua conversa e como falava: gesticulava com confiança e tudo parecia uma aventura perigosa. Queria que tivesse me olhado mais vezes.

A quebra aconteceu logo após conversarmos sobre sua profissão, que me contou, para meu embaraço, que iríamos trabalhar juntos nesse projeto.

- Sim, o roteiro está pronto. Esta viagem é para certificar de não haver furos na história e tirar o necessário para criarmos os cenários corretamente... Atrás de mim! - alertou, puxando-me para seu corpo. Logo já percebi a presença de paparazzi e fãs.

Estou muito exposta. Sabia ser um risco sair dessa forma. Não consigo correr; a bainha está presa e rasgar o vestido não é uma boa ideia. O melhor jeito de agir é mantendo a calma. Mas o Leonardo não entendeu essa parte.

Empurro-o para soltar meu vestido do seu pé. Mal percebo que, na verdade, ajudei um fã alucinado a dar um soco em Leo. Despreparado, ele cambaleou e, até erguer-se, levou outro.

Entro em sua frente e encaro os olhos do agressor. Não sei o que estou fazendo; com certeza alguma estupidez.

Quero que ele veja bem minha expressão irritada.

O único exercício que eu fazia era correr de manhã. E se um homem de quase 1,90 metro havia cedido sob o ataque, eu certamente não queria experimentar. A confiança, porém, é tudo.

- Fique longe dele!

A raiva sumiu num piscar de olhos e, como uma marionete, ele corou e foi embora. Os seguranças que eu acionei um pouco antes correm atrás dele.

- Você está bem? - Leo indaga com dificuldade.

- Eu que devia estar perguntando isso!

- Isso não foi nada, mas tenho certeza de que terá hematomas.

Seu lábio está cortado e o nariz, sangrando. Ele estala a mandíbula. O som é arrepiante.

- Acho que não quebrou nada - sorri, ensanguentado. - Você precisa voltar para o hotel.

Ele se levanta e ajeita a blusa com respingos de sangue.

- Mesmo tendo apanhado, você venceu a briga – acaricio levemente sua bochecha.

- Eu sempre venço. 

Corações, Câmera, AçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora