4. Tensão e Inseguranças

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A Itália era conhecida por sua beleza arquitetônica e moda e seu povo, geralmente, é bem vaidoso. Mas nenhum deles superava Débora esta noite.

Eu não conheço muito de moda, mas percebo como o vestido de cetim azul acentua suas curvas e exibe grande parte de suas costas. O cabelo, normalmente selvagem, preso em um coque enquanto mechas encaracoladas ruivas caem sobre o seu rosto, realçam sua suavidade. 

- Não sabia que viria hoje – comento e dou um beijo em sua bochecha. - Está... de tirar o fôlego.

- Pensaram que seria uma boa ideia eu vir junto – seu sorriso acaba comigo. - Você fica bem de terno.

- Pareço ser VIP agora?

Ela cora e abaixa o olhar.

- Eu fui ridícula nesse dia, não fui?

- Sim... Mas eu perdoo qualquer coisa que você faça enquanto estiver com esse vestido.

Eu realmente desconhecia minha coragem recém-adquirida, mas, ao notar como sorria e olhava sob os cílios, percebi o quanto gostava de ser elogiada.

- Gostaria de me acompanhar?

- Certamente – diz, enlaçando o braço no meu.

Enquanto andávamos pelo imenso corredor no Teatro alla Scala, vi a imagem refletida de nós dois juntos: sua cabeça virada para mim, os braços entrelaçados e sua pele contrastando com a minha. Combinamos...

O que há de errado comigo?!

- Ei, tudo bem? - Débora perguntou.

- Maravilhoso.

Ela assentiu, um finco adorável entre suas sobrancelhas.

Ao nos sentarmos, esbarro em seu braço e um formigamento lento e agradável se espalha. Instintivamente, encontro seu olhar: um oceano azul-esverdeado cristalino. Tentando escapar de sua força, encontro seus lábios rosados e umedecidos. Demanda esforço, mas consigo me desviar da tentação sentada ao lado.

As luzes são apagadas.

O calor de seu corpo se transfere para o meu e nos rodeia. Só consigo sentir seu perfume floral e visualizar sua boca, enraizados em meu cérebro. A apresentação começa e não consigo me concentrar em nada que não seja ela. Contabilizo sua respiração - mais acelerada que o normal –, seus olhos estão fechados e seus dedos dedilham os brincos discretos.

Não sei como ela faz isso comigo, muito menos a extensão desses pensamentos e sentimentos – e prefiro não saber. Mas ela faz com que tudo pareça inofensivo, e essas são as que mais doem. 

Corações, Câmera, AçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora