O dia de Celebração

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Em uma noite escura e fria, sua mãe, Helena e seu Pai Felício, resolvera que Damon, assim como diamante, ainda em seu ventre iria iluminar os que precisavam da Luz do divino.
Damon cresceu em uma doutrina católica extremamente rigorosa e privada. Desde pequeno recebeu seu chamado para padre, e inevitavelmente foi preparado para isso.
"-Mamãe, irei ser um padre bom assim como Juan?"
"-Será ainda melhor que Juan querido. Está aprendendo cada dia mais."
"-Mas... E se eu não quiser ser como Juan?"
"-E não será Damon. Será ainda melhor, como já lhe disse."
"-Não mamãe, a senhora não entendeu... Digo, e se eu não quiser ser padre? E se eu apenas quiser brincar como as outras crianças da vila?"
"-Não diga isso jamais, estamos entendidos? Recebeu um chamado do céu e irá cumpri-lo. Não podia ter filhos mas Deus foi benevolente conosco e te trouxe a mim. Juan disse que serás padre, e é para isso que viverá."

Me recordo da conversa que tive com mamãe. A inocência de uma criança que não entendia sobre os ensinamentos do criador. Sinto saudades de seu toque macio, e sua canção de ninar. Mesmo estando jovem e forte, com deveres a cumprir, as vezes me sinto apenas como alguém que precisa de um afeto.
Desde esta conversa não me lembro de ter questionado mais sobre o fato do meu chamado ser árduo e solitário. Acredito que faça parte. Mas estarei firme na minha fé, me livrando de qualquer mal que possa atingir meu caminho.

Meus pensamentos são atrapalhados por incessantes batidas à porta.

"-Por que ainda se encontra em seus aposentos Damon? O culto de celebração está com a ceia pronta, e ainda está deitado!"

Juan exclama indignado.

"-Já estou me levantando padre, apenas me preparando para esse maravilhoso dia, mas tenho certeza que Deus há de te perdoar por atrapalhar nossa gloriosa conversa!"

"-Oh.. Perdoe-me. Só estava lembrando que você tem deveres hoje e você sabe que..."

o interrompo:

"-Querido padre e grande amigo, fique tranquilo, por aqui é tudo no tempo dele."

"-Ok, irei me adiantar."

Ele sai furioso.

Me apronto rápido, estou me sentindo ótimo para a transformação de um diácono para um líder religioso forte e responsável.

A igreja estava pronta para celebração, todos da vila adorando o altíssimo.
Gosto de observar, cada discípulo, cada morador, e estar sempre pronto para se sentirem a vontade e virem até mim.
Padre Juan mesmo que tenha anos aqui, se sente incomodado com a atenção voltada à mim, porém, compreendo que seus gestos firmes compõe sua personalidade rigorosa diante de tantas responsabilidades.
Mas até que eu fique ranzinza como ele, prefiro contemplar minha plenitude de ser quem eu sou.

"-Padre, gostaria que pudesse abençoar minha bebê."
"-Oh, claro! É uma doce menininha?"
"-Sim... Ficamos muito felizes por ser a única garotinha para compor um quarteto."

Toco em sua cabeça em sinal de benção.
"-Deus abençoe a família de vocês."

Diante desses, e de muitos que vinham falar comigo, pedindo benção, proteção e prosperidade, algo me chama atenção. Sentado em meus aposentos observo uma senhora puxando pelo braço uma jovem moça para dentro da igreja. Ela não parecia contente, e por vezes retrucava aquela senhora que deduzi ser sua mãe. Não vi aquela jovem outras vezes na igreja, e aquela cena era de fato peculiar. Ela obrigada a sentar, estava na ponta do último banco, e me encarou ferozmente quando me viu a observar. Recuei os olhos demonstrando respeito a jovem que me condenou com o olhar.

Tudo correu bem, tivemos uma ótima missa, e ao fim, escutei alguns rumores e cochichos sobre maldições de bruxas.
Achava dispensável, haviam aproximadamente 10 anos que não haviam encontrado casos de feitiçaria, e desde que me lembro, assisti a uma cena no pátio da vila.
Uma mulher agonizava amarrada em madeira, enquanto suas pele queimava.

Me assustei com aquela lembrança e me lembrei do motivo da conversa que tive com minha mãe aquele dia.

De fato, uma lembrança traumática.

Me retiro para descansar, e ao caminho de meus aposentos, naquele corredor que se ouviam apenas o eco de meus pés, escutei mais passos que os meus.
Me virei, e Juan me seguia.
"-Posso ajudá-lo?"
"-Na verdade sim. Estava procurando por você."
"-E por que não me chamou? Estava bem atrás de mim."
"- Perdão Damon, andava pensando se realmente deveria lhe dizer isso..."
"-Pois diga. Sem mais delongas padre."
"-Está havendo um rumores de que feiticeiras do diabo amaldiçoou a família Clementina. O filho mais novo da família se encontra se debatendo e já está sem forças."
"-O que mais sabe sobre isso?"
"-Muito pouco. A família está com receio de procurá-lo. Temendo que possam matar a criança."
"-Isso pode ser uma possibilidade. Mas irei estudar, e amanhã me informar melhor sobre. Obrigado por me alertar sobre essa situação padre Juan."

Ele faz um gesto de despedida dizendo:
"-Perfeitamente. Boa noite."

Me deito com pensamentos incessantes, rezo para encontrar Luz e entender de fato o que está acontecendo.
Irei amanhã cedo ao encontro dessa família.

El Angel y El DiabloOnde histórias criam vida. Descubra agora