O dia da celebração (parte 2)

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A brisa do vento me faz querer voar, assim como os pássaros azuis enfeitando o céu.
A natureza é linda e má.
Mas com certeza, é a melhor companhia para se estar. Não podemos fugir, pois fazemos parte dela.
A cada passo que dou, observo como meus pés se sentem conectados ao chão, à grama, à terra.
Minha pele se arrepia, me sentindo leve.
Encontro Lina, minha égua que mamãe me presenteou, a medida que cresci, ela cresceu e hoje somos fortes e adoramos a primavera e tudo que a compõe.

Mas essa felicidade momentânea, não dura muito. Nunca odiei tanto meu nome, quando esse nome está na boca de Gena. Ela gritava meu nom sem parar, não se cansava nunca.
Assim que ela para de berrar, decidi que agora irei ao seu encontro, pois ela provavelmente deve estar mais calma.
Procuro com o olhar no horizonte, mas não vejo nada, passo em nossa cabana mas ela não estava em casa.
Vou até meu cômodo e não encontro as anotações de mamãe em minha escrivaninha.
Não pode ser...
Me lembro de onde ela poderia estar. Me apresso, corro, buscando fôlego onde não tenho mais.
Corro para o rio, e lá está ela, jogando minhas folhas sob a água.
Não penso duas vezes, mergulho naquelas águas para salvar as únicas lembranças em tato qua tenho de mamãe. Consigo resgatar três delas, e o resto a correnteza leva.
Por fim consigo resgata las, e saio quase sem fôlego do rio.
Ainda procurando ar digo:

"-De verdade, entendo que é louca mas isso é inadmissível!"
Grito, quando encontro forças com o rosto em lágrimas.

"-Angel, sua mãe já se foi e enquanto não aprender que a vida não é se esconder, seus trapos vão estar embaixo d'água!"
E

la sai como se nada tivesse acontecido.
"-Você não tem esse direito!"
"-E você não tem o direito de não me dar ouvidos quando preciso de você."
Ignoro suas falas arrogantes e penso:

Folhas encharcadas, como poderia salva-las? Ah, Pen... ela deve saber como resolver isso.
Pen precisa me ajudar, preciso fazer alguma coisa! Me sinto desolada, como um nada em meio a uma multidão.

Corro para procurar Pen, e vejo seu irmão brincando na vila.
"-Jacob, onde está Pen?"
"-Ela está costurando um vestido para Meredith na confecção mas o que houve?"
Não tenho tempo de explicar, e corro ao encontro de Pen, abro a porta da confecção, subo as escadas exclamando seu nome:
"-Pen? Por favor, Pen? Me ajude!"
Abro a porta e ela estava com o belo vestido de Meredith em suas mãos, espantada ao me ver com os retalhos de papel em minhas mãos.

"-Ah meu Deus, o que houve?"
"-O monstro da minha tia jogou as anotações de mamãe no rio a fim de me punir. Você precisa me ajudar."
"-An... Sendo franca, eu não sei como salvar isso. Meu forte é costura não..."
Ela se levanta de sua cadeira apoiando suas mãos em meus ombros e continua:
"-(...)olha, tente colocar ao sol, mas quando secar ela pode piorar... sugiro você anotar tudo de novo. você se lembra o que estava escrito?"
"-Sim... Mas é uma questão de..."
Ela me abraça, enquanto lágrimas escorrem em seu amigável abraço.

"-Me desculpe Pen, irei tentar dar um jeito nisso. Não pensei que você não poderia fazer milagres. Mesmo que as vezes acho que pode."
Nós rimos.
"-O que estiver ao meu alcance estarei com você, se lembre. E por favor, quanto a isso... Tente se acalmar."
"-Aquela vadia está fod****!"
"-Angel..."
"-Desculpe Pen, preciso ir. Vou tentar salvar algumas anotações."
"-Juízo!"

Desço as escadas como se aquilo dependesse da maior pressa que já poderia ter tido, vou até o ponto mais alto de Massachusetts, e coloco minhas folhas na grama, seguradas por uma pequena pedra.

Não pode ficar em casa, não confio naquela mulher. Irei deixá-las aqui, e não acredito que alguém vá encontrá-las. Desço para casa, e assim que Gena me vê ela implica:

"-Vá se arrumar, hoje teremos o culto de celebração!"
"-Você joga o que tem de mais importante em minha vida na água e acredita que eu tenho que ir em algum tipo de culto de celebração com você?"
"-Isso é uma ordem. Todas as famílias da vila estão convocadas, sem exceção!"
"-Não somos uma família, então consequentemente não somos obrigadas a ir!"
"-Não me teste Angel."
"-Não me teste você!"

Ela da algumas gargalhadas completamente irritantes, ironizando a situação como forma de me provocar.
E diz com um pesado sorriso no rosto:
"-Eu não sei o que o padre iria pensar, mas com certeza, algum de seus costumes a faria ser condenada."

Me deu um frio na barriga, o mesmo que me deu a última vez que mamãe fora ameaçada. Isso me fez lembrar do que ela me disse:
"Seja como for, custe o que custar, escolha viver o mais plenamente possível para ter longevidade aqui. Você não merece passar pelo que irei passar meu anjinho."

"-Você venceu dessa vez Gena. Mas não por ter medo de você. Eu conseguiria fazer com que fique bem calada, mas até gosto de você, sabia?"

Gena deixa escapar seu semblante assustado e respira fundo prosseguindo:
"-Obrigada, é melhor as coisas assim para nós duas."

Assim que ela passa pela porta, vou me arrumar para celebração. Não tinha muitas escolhas de roupas, todas minhas roupas eram trapos velhos no qual eu me sentia a vontade. Sempre costurei belos vestidos para Gena, Mamãe me ensinou e desde então sempre gostei. Não gostava de costurar para mim pois não queria ser o centro da atenção na cidade, gostava da minha fama de maltrapilha, assim ninguém me notava e consequentemente ficava longe do olhar dos olhares famintos de rapazes da minha idade.

Chegamos e Gena me puxava contra minha vontade, segundo ela, para que eu pudesse dar os parabéns para o padre.

"-Isso já é demais. Não vou fazer nada disso, cumprimente sozinha. Não acho que ele mereça todo esse alarde!"
"-Menina insolente! Você deveria ir até ele para ver se ganha sua benção para que possa arrumar um casamento! Está encalhada!"

O novo padre fitava o olhar em mim, como ele ousava? Nem pouco me aperfeicoara por ele para que pudesse simpatizar comigo. Pois se ele esperava que eu me humilhasse pedindo sua benção estava enganado.
Retribui o olhar se curiosidade daquele jovem com um semblante furioso.

Não gostava da forma que lidavam com as pessoas e não gostaria de proximidade.

El Angel y El DiabloOnde histórias criam vida. Descubra agora