•𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨•

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6 anos antes

Any Gabrielly

Eu sabia que as coisas não estavam indo bem. Apesar de ter apenas dezessete anos e estar preocupada demais com a minha formatura do Ensino Médio muito próxima,o vestibular que eu prestaria em pouco tempo e com um namoradinho que só me dava dor de cabeça, eu percebia que os problemas, daquela vez, eram muito sérios. Minha mãe não costumava deixar que eu me envolvesse nos negócios e sempre negava qualquer problema quando eu perguntava. Mas eu o sentia calada , mais magra e pálida. E prestava atenção nos assuntos sussurrados pela casa, entre os empregados. Há muito tempo que as empresas não davam o lucro esperado e minha mãe lutava para reerguê-las. Pelo visto ela estava perdendo a batalha.

A enorme casa em que morávamos estava silenciosa quando cheguei da escola naquela sexta-feira à tarde. Eu havia estranhado ver o carro da minha mãe lá fora naquele horário, ao lado de uma luxuosa Mercedes preta com motorista. Ela devia estar no escritório com visitas. Preocupada, fiquei parada no meio da sala e deixei minha mochila pesada escorregar para o chão. Eu queria ir até lá ver se estava tudo bem e saber o motivo da minha mãe estar em casa no meio da tarde de um dia de trabalho. Isso era algo que ela nunca fazia. Mas sabia que ela não gostaria que eu interrompesse, se estivesse em reunião.

Pensei em subir, tirar o uniforme da escola, tomar um banho e depois procurá-la. Mas fiquei imersa em pensamentos de preocupação, imóvel no mesmo lugar. Por fim ouvi vozes que se aproximavam e fiquei com os olhos fixos no corredor. Priscila, minha mãe, surgiu em meu campo de visão. Fiquei surpresa ao notar seu aspecto apático, doentio, pálida. Meu Deus, como ela pode emagrecer e envelhecer tanto em tão pouco tempo?
Era óbvio seu semblante de derrota, seu olhar perdido, seu ar desesperado. Abri a boca para chamá-la, saber o que estava acontecendo, confortá-la. Mas então eu vi um homem surgir atrás dela e nossos olhares se encontraram. Eu nunca vir aquele homem antes. Disso eu tinha certeza. Eu nunca esqueceria um homem daqueles. Por um momento minha atenção se desviou totalmente para ele. Fiquei surpresa com o impacto que ele me causou. Era o homem mais lindo que eu já vi na vida, sem nenhum exagero.
Confesso que uma onda quente de calor me envolveu por inteira quando meu olhar encontrou com o dele. Isso nunca tinha me acontecido antes. Seus olhos eram lindíssimos, que se sobressaiam no rosto bronzeado e devido aos fartos cabelos loiros Me deixou em momentos sem ar.

- Any? - Minha mãe parou e franziu o cenho ao me ver. - Não devia estar na escola?

Respirei fundo e consegui libertar meu olhar do loiro alto e impressionante. Sentia meus membros formigarem quando olhei para a minha mãe. Incrivelmente, a imagem do  homem continuou em minha mente.

- Eu... Foi o último dia de aula. Fomos liberados mais cedo.
Vi minha mãe concordar com a cabeça, já sem interesse. Mas meu olhar não pôde se prender por muito tempo nela. Voltou ao estranho como se fosse independente de mim. Ele continuava a me olhar, imóvel. Senti-me quente, viva, pulsante. Engoli em seco. O que estava acontecendo comigo?

- Tenho que voltar ao escritório. Nos falaremos mais tarde.

Minha mãe fez menção de se afastar. A voz do estranho, a fez parar. E me fez estremecer.

- Não vai me apresentar à sua filha, Priscila?

- Oh! - Minha mãe não parecia muito à vontade, como se estivesse muito preocupada com outras coisas. Mas continuava pálida. - Claro. Esta é minha única filha, Any Gabrielly. Any, este é Josh Beauchamp um parceiro nos negócios.
Todo mundo dizia que eu tinha olhos enormes, que tomavam conta do meu rosto. Eu os sentia arregalados e imaginei como deveria estar parecendo. Uma  jovem impressionada, desconfortável em seu uniforme de escola, trêmula como uma boba. Tentei sorrir, disfarçar, ser educada. Mas não consegui. Ainda mais quando ele se aproximou de mim.

- É um prazer conhecê-la, Any. - Meu coração batia acelerado quando eu o vi parar à minha frente. Apesar de ser baixa, senti-me mais pequena perto dele, com a cabeça na altura de seus ombros. Tudo naquele homem impressionava.Mesmo que ele não estivesse impecavelmente vestido  num terno claro azul bebê que lhe dava uma aura de poder, ele  se sobressairia em uma multidão. Eu nunca vir uma pessoa tão bela e tão impressionante.

- Oi, senhor  Beauchamp. - Tentei sorrir. Mas estava por demais distraída por sua aparência, sem poder desviar o olhar de seu rosto anguloso, com nariz finamente talhado e lábios largos. Seus olhos, então, deixavam-me desorientada.

- Se sua mãe tivesse me dito que tinha uma filha tão bela, eu teria aceitado os convites dela para jantar aqui.
Enrubesci. Todos que me conheciam gostavam do meu jeito descontraído e extrovertido. Pela primeira vez na vida senti-me extremamente tímida, quase fora de minha razão. Tinha vontade de ficar horas ali, só olhando para ele. Mergulhada nos lindos olhos azuis, envolventes.

- Precisamos ir, Any. - A voz de minha mãe interrompeu meu enlevo. Corei ao perceber que o canto dos lábios de Josh Beuachamp estavam curvados num meio sorriso, como se ele soubesse o efeito que tinha sobre mim. Envergonhada, murmurei algo inteligível e virei-me para sair dali e fugir daquela presença de bruxo. só podia ter feito algum feitiço para me deixar daquele jeito.
Quase tropecei na mochila no chão. Abaixei-me, peguei-a rapidamente e, literalmente, saí correndo dali. Subi as escadas para o andar superior da mansão esquecida das boas maneiras e desesperada para me refugiar em meu quarto. Só parei ao me jogar de bruços na cama e fechar os olhos, respirando com dificuldade. Eu só podia estar louca! Parecia que eu tinha sido possuída por aquele homem. Aquele êxtase nunca me acontecera antes. Nem quando eu descobrira que o rapaz mais lindo da escola gostava de mim!
O rapaz que eu paquerava por meses!Sentia-me descontrolada. Beauchamp era um homem, por volta dos 24 anos. Eu já
encontrara homens lindos antes e nunca me senti daquele jeito. O que devia ter acontecido? Fiquei deitada, com a imagem dele fixa em minha mente e com o corpo todo alerta, receptivo, quente, arfante. E ele nem tocara em mim! Foi a experiência mais impressionante da minha vida. Ninguém mais, depois disso, me abalou como Josh Beauchamp. Só mais tarde eu soube que ele mexeu não somente com meus sentimentos. Ele mudou toda a minha vida.

A coleira (beauany)Onde histórias criam vida. Descubra agora