• A cereja do bolo •
A vida nem sempre é justa.
Enquanto uns vivem com a prioridade de acordar em qualquer horário, tomar um bom café da manhã e ir para o shopping passar o dia fazendo compras, outros precisam levantar cedo, sem ter tempo para tomar ao menos uma xícara de café, e ir direto para o trabalho.Sasuke não andava ao lado da sorte. Sua rotina não muda há anos, ainda mais desde que se mudou para um condomínio em São Paulo e começou seu emprego como clínico em um hospital psiquiátrico. Estudou por anos para se tornar um doutor de respeito, e conseguiu - mesmo que tenha se arrependido uma semana depois de começar a trabalhar.
As pessoas já tentaram ao menos colocar os pés dentro de um hospital psiquiátrico? É uma loucura. O Uchiha não sabia o que tinha na cabeça ao pensar em estudar psiquiatria.
Já estava no meio do inverno, e Sasuke não havia feito nada de diferente, além de trabalhar e assistir séries. Sentia saudades de sua adolescência. Enfim, crescer é entender que nem tudo é como queremos que seja.
A manhã estava fria, e o Uchiha sentia que precisava urgentemente de um banho. Se apressou andar um pouco pela casa antes de entrar no chuveiro - talvez sentisse menos frio.
Não adiantou. Seu corpo tremia. Era difícil fazer frio naquela cidade, mas estavam no meio de um fenômeno de uma tal de massa de ar frio, Sasuke não sabia explicar já que nunca prestou atenção nessas coisas quando estava na escola.
A mente daquele Uchiha parecia o quarto de uma criança, toda bagunçada. Não entendia como ainda estava vivo tendo uma saúde mental tão bunda. Saiu do banho e colocou seu roupão, lembrando que deveria ter recolhido a roupa na noite anterior - coisa que não fez.
O moreno respirou fundo, caminhando até a varanda de seu apartamento. Era difícil ter que recolher sua roupa sempre com medo de que ela voe pelo condomínio, ainda mais as roupas em específico que Sasuke fazia questão de esconder. Não parecia algo muito infantil para ele, mas havia uma certa roupa íntima que era estipulada desde cedo como sua "cueca da sorte".
Era algo como morcegos do Batman, uns verdes do lanterna verde, e símbolos do Superman. Algo bobo. Mas Sasuke estava usando aquilo quando terminou o ensino médio, quando passou no Enem, quando entrou na faculdade, quando fez amigos pela primeira vez, quando conseguiu emprego e até mesmo quando ganhou um bolo num sorteio da padaria. Se aquilo não era sorte, Sasuke não sabia o que era.
O moreno sorriu ao ver ela, mas não deveria. Um leve descuido o fez tirar o grampo da roupa íntima sem segurar ela. E adivinha. Ela caiu na varanda do vizinho debaixo.
O coração de Sasuke se acelerou. Ele a encarou, com os olhos arregalados. Nem fodendo. Nunca iria pedir. E nem tentaria pegar.
Sua mente ficou em branco, e com seu rosto vermelho, voltou para o quarto. Iria se vestir, e ir para o trabalho. Precisava esquecer que aquela cueca um dia existiu. Precisava esquecer que um dia teve uma cueca da sorte.
Respirou fundo novamente, e se vestiu, rapidamente, saindo de seu apartamento logo em seguida, como se absolutamente nada tivesse acontecido.
Talvez se fosse algum desconhecido, Sasuke até tentaria pedir, ou só pedir pra pegar dizendo que é de alguém de sua família ou algo assim. Mas todos daquele prédio o conheciam. Era filho de Mikoto Uchiha, e o mundo inteiro conhecia a atriz, todos conheciam a história de vida dela e do filho dela. Todos sabiam que não tem outros familiares e não consegue fazer amigos.
Além de que: Sasuke é apaixonado por seu vizinho debaixo. Não podia simplesmente pagar o vexame de dizer que aquilo é seu.
O Uchiha se esforçou para tentar esquecer aquilo de vez, mas sua mente ansiosa não o ajudava. E tudo piorou quando avistou o loiro bem na portaria do prédio, pelo visto voltando de alguma festa como sempre fazia.
— Bom dia doutor. — O garoto o cumprimentou com o mesmo sorriso no rosto e voz sexy de sempre. Sasuke apenas acenou com a cabeça, sentindo como se fosse cair no chão de tanto nervosismo.
"Vai passar, vai passar" e novamente respirou fundo. Será que vai passar?
• A cereja do bolo •
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Meu vizinho aqui debaixo - Narusasu
FanfictionA vida nem sempre é justa. O que uma pessoa constantemente chamada de "doutor" faria ao deixar sua roupa íntima - da sorte - cair na varanda do seu vizinho debaixo? Bom, a vida nem sempre é justa, mas tem vezes que é.