- Cuidado! - Ouço enquanto sinto sendo puxada para perto dele.
Com a sua mão ainda segura na minha, bato de cara com o seu peitoral, esbarrando nele, e sinto um vulto atrás de mim.
- A bicicleta estava vindo, você seria atropelada. - Ainda atordoada, permaneço encarando a abertura de sua jaqueta que deixava aparecer a cor de seu uniforme, quando ergo os olhos e vejo seus olhos fixos nos meus.
Só então noto que estou muito perto a tempo demais, e me afasto com rapidez. Desde quando ele estava tão perto de mim?
O ônibus chega e encosta, após ele dar sinal, abrindo a porta à nossa frente. Ele me dá passagem e entro com rapidez, ainda confusa com o que acabou de acontecer. Meu coração acelerava dolorosamente, mas dessa vez não pelos gritos, pela expectativa da desilusão ou pelo medo, mas por algo diferente. Ainda assim, minha mente, incapaz de entender essas batidas fortes como algo além de perigo, me diz para manter distância do que quer que isso fosse. Corro para o meu lugar preferido no ônibus - o que eu poderia estar mais escondida. Ao me acomodar, vejo sua silhueta se aproximando e se sentando ao meu lado, novamente. Agora, com a expressão ainda mais inconformada, me afasto bruscamente. Ele parecendo não se incomodar, checa as mensagens de seu celular tranquilamente.
Se inicia uma música que realmente gosto, e fecho os olhos para apreciar, quando ouço um barulho exterior. Quando me viro para checar, vejo seus olhos encarando os meus e sua mão estendida, como se pedisse algo.
- Oi? - Pergunto tirando o fone de ouvido do seu lado para conseguir ouvir.
- Posso ouvir junto com você? - Ele pergunta com um leve sorriso.
Relutante, estico com lentidão o braço que segurava o fone de ouvido apenas para poder ouví-lo, agora entregando em sua mão. Ele pega sem hesitação, quando percebo que dei o fone errado. Com a distância dos dois fones ficamos extremamente perto, tanto que posso sentir o cheiro de perfume misturado com um leve suor de um dia movimentado de educação física, formando um cheiro engraçado.
- Te dei o fone errado, pegue esse - digo tentando conceder a ele o outro fone para aumentar a nossa distância.
- Não obrigada. - Ele responde prontamente. - Este está bom.
Coloco de volta, um pouco desconfortável, ainda notando o aroma que tomava ainda mais o meu olfato.
- É uma ótima música. - Ele comenta.
- É uma das minhas preferidas. Respondo baixo, tentando olhar para fora, mas incapaz de ignorar sua presença.
- Conto metodicamente os pontos, para que aquele momento constrangedor acabasse com urgência dando também um fim para as batidas incessantes do meu coração, quando percebo que finalmente chegamos no ponto que ele entrou, mas ele não faz nenhum movimento para sair.
- Não vai descer? - Pergunto quebrando um bom tempo do silêncio numa posição desconfortável.
- Logo eu desço - ele responde.
Quando estava chegando ao meu ponto, ele tira o fone de seus ouvidos e se prepara para descer. Eu olho para ele sem entender, enquanto ele, arrumando a mochila em seus costas, me diz:
- Vamos?
Descemos no meu ponto e olho para ele sem compreender bem o que estava acontecendo ali.
- Você mora aqui perto? - Pergunto.
- Alguns pontos atrás, mas é perto para ir andando. E você?
- Perto, por ali. - Aponto enquanto continuamos parados ao ponto.
- Então vamos? - Ele me diz.
- Onde? - Pergunto sem entender.
- Te deixo na sua casa, você disse que é perto né?
- Mas por que? - Continuo o encarando desconfiada.
- Está tarde, e é perigoso. Não posso? - Ele faz uma cara estranha, bem parecida com a do meu cachorro quando quer atenção.
Começo a andar sem discutir mais, e ele segue ao meu lado. Andamos em silêncio pela maior parte do caminho escuro em que andávamos, quando avisto um movimento na minha casa.
- Qual é a sua casa? - Ele pergunta.
- Aquela em frente às pessoas colocando as malas dentro do carro.
- São sua família? - Ele pergunta, mas chegamos perto demais e eles notam a nossa presença.
- Oi Karine, já chegou? - Minha mãe pergunta. - Estamos indo fazer uma viagem de última hora, te mando mensagem quando decidirmos quando voltamos. - Ela se refere a mim com pressa, ignorando a presença da pessoa ao meu lado. - Se cuida, até.
Ela entra no carro e partem sem mais.
Fico olhando aquela imagem se afastar inanimada, quando ouço novamente a sua voz ao meu lado:
- O que foi isso?
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One Heart Beat
RomanceHistórias curtas para ler em "one heart beat", ou uma batida do coração.