WilhelmSe há alguns meses alguém perguntasse para Wilhelm Olsson se sua vida era perfeita, ele diria que sim. Com uma família que apesar de seus desentendimentos era muito acolhedora, um trabalho de meio período como garçom em um pequeno restaurante, e uma bolsa de estudos em uma das melhores escolas de culinária do mundo, ele não tinha do que reclamar. Agora, no entanto, semanas após a morte prematura de seu único irmão, ele já não achava sua vida tão perfeita assim.
Wilhelm sempre pensou que seu irmão sabia lidar melhor com a mídia do que ele. Erik era educado e sempre tinha um sorriso gentil nos lábios, ao contrário de Wilhelm que com um simples “flash” já ficava em alerta, respiração irregular, mãos suadas e olhos assustados. Ele sabia que era patético reagir assim, mas o que Wilhelm poderia fazer se passou a vida toda sendo alertado por seus pais sobre como um simples clique em um momento de descontração poderia arruinar a reputação da família para sempre? Ninguém poderia culpá-lo por viver com esse medo. Erik havia nascido para a vida nos holofotes, Wille não.Para compensar o fato de que ele era um fracasso total toda vez que tentava seguir os passos de seus pais, Wilhelm se esforçava na escola sendo sempre o melhor da turma, participava de projetos voluntários e fazia amizade apenas com pessoas que ele sabia que sua mãe aprovaria, mesmo que a grande maioria fossem pessoas que só se importavam com dinheiro e reputação e Wilhelm os odiassem, ele não se importava. Desde que seus pais sentissem orgulho dele da mesma forma que sentiam de Erik, tudo ficaria bem.
Não foi até o dia do enterro de seu único irmão que Wilhelm cansou de manter a postura de menino perfeito e perdeu a cabeça. Exausto após passar o dia dizendo “estou bem, obrigada” quando, na verdade, tudo o que ele queria fazer era morrer para acabar com o aperto em seu peito. Wilhelm entrou no primeiro bar que encontrou e bebeu até a dor ir embora. Ele não se importava se as pessoas estavam olhando ou se haviam câmeras ali, tudo o que ele queria era que parasse de doer.
Conforme os dias foram passando essas idas em bares se tornaram mais frequentes. Todas as noites Wilhelm saía de casa às sete da noite e voltava às sete da manhã com o rosto estampado em todos os tabloides de Estocolmo e bêbado demais para se importar com o que o povo sueco estava falando sobre suas constantes confusões em bares. Constantemente de ressaca, ele começou a faltar muito no trabalho e perdendo-o antes da morte de Erik completar um mês. O antigo Wilhelm se importaria e faria de tudo para limpar sua imagem, mas o novo Wilhelm parou de se importar com tudo e todos desde o dia em que enterrou seu irmão. Nada mais importava, os tabloides maldosos, posts em sites de fofoca, nada disso era importante para ele, nem mesmo a bolsa que ele perdeu por não comparecer a tempo para realizar a matrícula. Ele estava apenas vivendo da forma mais fácil e menos dolorosa, bebendo até esquecer seu nome e quando uma breve memória ameaçava aparecer, ele bebia de novo. Essa era a vida dele agora.Agora, dois meses após a perda de seu irmão, Wilhelm foi acordado com seis mensagens de sua mãe dizendo que precisava vê-lo imediatamente em seu escritório. Então ele foi revirando os olhos e gemendo com uma enxaqueca insuportável (provavelmente causada pela quantidade exagerada de álcool que ele bebeu na noite passada).
“Bom dia filho” Kristina diz sem tirar os olhos de seu computador quando ele adentra a sala.
Wilhelm murmura algo inaudível e vai imediatamente em direção a máquina de café, servindo-se antes de caminhar e sentar-se na cadeira em frente à mesa da sua mãe, onde ela estava o encarando com os olhos curiosos e sobrancelhas franzidas.
“Vejo que você teve uma boa noite”, diz ela antes de virar-se para pegar alguns papéis de dentro de sua escrivaninha.
“Nada muito empolgante, apenas bebidas e mulheres, você sabe como é, a mesma diversão de sempre” diz Wilhelm casualmente.
“Não Wilhelm, na verdade, não sei. Porque a única coisa que vejo é você todas as noites em bares bebendo mais do que o permitido para a sua idade e entrando em brigas com paparazzis” Ela diz enquanto joga em frente dele pilhas de tabloides onde seu nome está ao lado de manchetes vergonhosas na capa “Então, por favor, me diga onde está toda essa diversão”.
Wilhelm pega um dos tabloides com a manchete “Caçula da família Olsson é visto saindo bêbado de um bar em Estocolmo após se meter em mais uma briga envolvendo paparazzis, está já a terceira confusão que o herdeiro do sobrenome Olsson se envolve em um intervalo de cinco dias.” ele geme em frustração. “Você sabe que a imprensa inventa 90% das manchetes, certo? Você não pode simplesmente acreditar nisso.” -Wilhelm geme em frustração.
“Veja, Wille, eu entendo que não esteja sendo fácil para você toda essa situação com o Erik... e eu também sei que fazem apenas dois meses desde que ele nos deixou.” Ela faz uma pausa e alcança a mão de Wille por cima dos tabloides. “Não está sendo fácil para ninguém, mas eu e seu pai estamos seguindo em frente aos poucos e achamos que está na hora de você fazer isso também. Era isso que o Erik iria querer. É isso que importa agora.” Ela faz uma pausa antes de continuar: "Eu estive ao telefone com o nosso advogado de relações públicas esta manhã. Nós conversamos sobre toda essa atenção desnecessária que suas confusões têm trazido para a nossa família, a forma como você se comporta reflete muito nas nossas carreiras como atores e futuros projetos, Wilhelm. Então, decidimos que você...”
Wilhelm bufa a interrompendo e caminha em direção a porta. Ele simplesmente não precisa ouvir isso agora. Um sermão de sua mãe é a última coisa que ele precisa agora. "Prometo que tentarei não arruinar mais ainda a imagem de família perfeita que a imprensa pensa que somos.” Ele faz uma pausa antes de abrir um sorriso forçado em direção à Kristina. “Agora se me dá licença preciso ir descansar e cuidar desta enxaqueca que está me matando.”
“Acho que você não entendeu, Wilhelm. Eu não estou simplesmente pedindo para você parar de causar confusão, eu já tomei uma decisão.” -Kristina diz levantando-se também.
“Decisão? Acho que não estou entendendo, mamãe” Ele diz com as sobrancelhas franzidas.
“Eu e seu pai decidimos juntos ao advogado que seria melhor se você voltasse a ter uma rotina adequada, com atividades produtivas e que serão bem vistas pela imprensa. Contrataremos alguém para te manter na linha. Será alguém da sua idade para se passar como seu amigo e claro, para não parecer forçado na visão da mídia, as pessoas precisam acreditar que você está fazendo tudo isso porque quer. Alguém como um acompanhante disciplinar.”
“Acompanhante disciplinar?? Eu não preciso de babá! Eu sei muito bem cuidar de mim mesmo” Wilhelm grita cruzando os braços em frente ao peito. Ele não conseguia acreditar que sua mãe estava propondo uma coisa tão estúpida. Ele não é mais uma criança, não precisa de ninguém dizendo o que fazer e quando fazer.
“Sabe mesmo? Porque sinceramente, Wilhelm, você não tem demonstrado isso nas últimas semanas” Kristina fala com a voz um pouco alterada agora “Ele não será sua babá, servirá apenas para manter uma rotina adequada para tirar nosso nome dos tabloides por um tempo.” Kristina suspira tentando se acalmar. Não estava em seus planos discutir com Wilhelm, mas ela sabe melhor do que ninguém que seu caçula pode ser muito teimoso quando quer.
Como Wilhelm não diz mais nada ela acrescenta
“Será por um curto período, apenas até você voltar para os trilhos, eu prometo.”
“Você só pode estar brincando comigo” –Wilhelm bufa soltando uma risada sem humor. “Isso é loucura, você não pode simplesmente decidir a maneira como eu vivo a minha vida!”
Cansada de discutir, Kristina apenas lhe lança um olhar antes de se sentar novamente “Nosso advogado está cuidando disso para mim, assim que tiver mais informações sobre o acompanhante eu aviso. Agora vá, tenho muito trabalho a fazer. E por favor, sem mais festas, ok?”
Wilhelm lhe lança um olhar incrédulo uma última vez antes de sair pela porta batendo-a atrás dele. Ele não conseguia acreditar que sua mãe estava tentando controlar sua vida de novo. Ela já havia tentado convencer ele de seguir seus passos na carreira de ator quando ele era ainda apenas um adolescente, forçando-o a acompanhá-la em audições e jantares com grandes produtores. Naquela época, no entanto, Wilhelm tinha Erik e juntos eles convenceram Kristina de que a verdadeira paixão de Wille era a culinária. Agora, ele estava sozinho e não achava que convenceria sua mãe do contrário sem seu irmão. Wilhelm sabia bem que quando se tratava dele não adiantava discutir. Não teria outro jeito, ele teria que fazer isso.
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"'Cause, baby, loving you's the real thing"
RomanceQuando Kristina Olsson decide contratar um acompanhante disciplinar para tirar seu filho problemático das capas dos tabloides e reconstruir a reputação da família Ou Quando Simon Ekman aceita o emprego de acompanhante disciplinar para ajudar nas des...