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No dia seguinte, um domingo ensolarado, Samuel acordou bem cedo, junto com as outras crianças, para ir na a igreja perto do orfanato.
Todo domingo eles tinham que ir até lá na igreja. Samuel gostava da igreja, ele gostava de rezar para as santas que ficavam expostas na capelinha de madeira, no centro da igreja. Ele também gostava muito do padre de lá da igreja, o padre Carlinhos. Samuel achava que ele tinha a cara meio fechada, mas ele era uma ótima pessoa tanto com Samuel tanto com as outras crianças. Geralmente, ele costumava dar bombons escondidos para todos eles.
A missa durava em torno de uma hora e meia e, geralmente, quando acabava, as crianças brincavam na frente da igreja.
Também encontravam muito outras crianças que iam com os pais para as missas, inclusive muitos pais não gostavam que seus filhos chegassem perto das crianças do orfanato porque eles achavam que podia acontecer alguma coisa de ruim. Era pura implicância porque nunca nenhuma criança machucou a outra na igreja.
Neste dia, estava tudo acontecendo normalmente, as crianças estavam brincando de esconde-esconde. Samuel e Ryan estavam conversando, sentados na escada da igreja. Até que surgiu o assunto sobre se caso um deles fosse adotado:
- Então, Ryan, por qual tipo de família tu ia de ser adotado?
- Uma rica, com certeza.
Samuel riu:
- E você? - Disse Ryan.
- Bom, de preferência uma família rica e que não me maltrate ou tirem meus órgãos e vendam no mercado negro.
Ryan se calou.
Eles sabiam que havia grande possibilidade deles serem adotados para servirem como escravos sexuais para velhos pedófilos e serem molestados e estuprados, ou então para terem partes do corpo vendidas no mercado ilegal.
Desde muito pequeno Samuel sabia que o mundo não era só flores, as freiras lhes ensinou isso muito bem.
- Mas sabe o que seria mais triste? - Disse Ryan, tentando mudar de assunto. Aquele tipo de conversa o deixava com náuseas. - O quê?
- Te deixar para trás, naquele orfanato orfanato mofento, cheio de freiras rabungentas que tem tesão em maltratar crianças.
- Não que, talvez, elas sintam tesão em maltratar crianças, talvez elas só sejam amarguradas, mesmo.
- É exatamente isso. Elas são amarguradas.
Eles passaram mais um tempo falando mal das freiras, até que chegou a hora de ir embora.
O que Samuel não havia reparado era que Rodrigo o observava o tempo todo.

***

Logo após o almoço, Samuel ficou lendo seu livro favorito: Alice no país das maravilhas. Ele achava muito engraçado a forma como a Alice via ás coisas no livro. Ele à achava meio louquinha ( não que isso ela realmente não fosse).
Ele começou a sentir sede e resolveu descer para beber água.
Enquanto Samuel descia a escada, ele começou à ouvir risinhos e sussuros.
Ele parou no mesmo instante. Ele começou a ouvir coisas fragmentadas, tipo: "deixa eu passar isso aqui em você... Calma, não é assim que se faz... Você tá muito feia, credo... Acho melhor você arrumar seu cabelo para o lado...
Samuel ficou aliviado quando percebeu que eram as vozes das meninas que dividiam o quarto com ele. Ele não sabia o porquê daquele alívio, mas resolveu relevar.
Ele já ia descer mais um degrau, quando olhou para frente e viu que a freira Nicole estava se aproximando, ele, automaticamente, se esquivou para o lado e se escondeu. Mas ele conseguiu ver a expressão de espanto e raiva antes dela soltar o seguinte grito:
- O QUÊ VOCÊS ESTÃO FAZENDO, SUAS PRAGAS.
Samuel viu ela se aproximando como um búfalo para cima das meninas, ele ouviu algo cair no chão e fazer um pequeno barulho. Provavelmente, freira Nicole puxou algo da mão de uma delas e deixou cair:
- VOCÊS QUEREM VIRAR PUTAS, SUAS VADIAZINHAS?
Samuel conseguiu deduzir o que estava acontecendo.
Uma das regras do orfanato era o seguinte: Não usar maquiagem. Agora ninguém sabia o porquê.
Samuel escutou à freira dar um tapa no rosto de uma delas. E a menina explodiu:
- EU ODEIO VOCÊ, SUA FREIRA MALDITA DE MERDA. TOMARA QUE VOCÊ MORRA, SUA AMARGURADA DO CARALHO.
Samuel ficou chocado, nunca, em toda à vida dele, ele havia escutado alguém ser tão audacioso, ainda mas com freira Nicole.
Segundos de silencios ficaram no ar, Samuel estava imaginando toda a cena em sua cabeça, e ele sabia exatamente o que vinha depois daqueles segundos silenciosos. No momento ele só sentia dois sentimentos: pena e medo.
Depois de 15 segundos, talvez, Samuel viu a freira puxar a menina pelo cabelo e joga-lá no chão. Logo em seguida a freira começou à bater nela fortemente com os punhos, dando chutes e socos enquanto a menina tentava se esquivar e se proteger.
Segundos depois, freiras e crianças apareceram na sala e tentavam segurar a freira Nicole, que estava vermelha de ódio.
As crianças ajudaram a menina à se levantar, enquanto uma das freiras começava à falar:
- O quê está acontecendo aqui?
- Elas estavam quebrando as regras, freira Dolores, elas estavam usando maquiagem. Dei uma pequena punição em uma delas, que é o meu trabalho, e ela falou que me odeia.
Freira Dolores virou-se para as meninas, com um olhar assombroso e maldoso e logo em seguida disse:
- Levem elas para os quartos da solidão.
As meninas arregalaram os olhos, enquanto as freiras se aproximavam delas e às puxavam. Elas começaram à gritar e pedir por favor pra não ir aquele lugar.
Os quartos da solidão eram cinco quartos que ficavam na parte de baixo do orfanato, lá não entrava luz de nada. Samuel não conhecia muito do lugar, e nem queria, mas o que ele sabia era que era um lugar péssimo pra se ficar. Todas as crianças que entravam lá sempre saiam diferentes. Samuel morria de medo do lugar, e ele achou super triste e revoltante elas irem pra um lugar como aquele. Mas, infelizmente, ele não podia fazer nada.
Elas foram levadas até a porta da cozinha e Samuel não as viu mais.
A freira Dolores se virou e olhou para as crianças que estavam olhando para aquela situação com expressão de espanto e medo e disse:
- Que isso sirva de exemplo pra todos vocês. - Logo em seguida ela se virou e foi para à cozinha, provavelmente para ir ver as meninas que acabavam de ser levadas, e as outras freiras foram atrás delas.
Samuel estava chocado. Ele foi correndo até o quarto. Até havia perdido a sede.

A Mulher Atrás da CortinaOnde histórias criam vida. Descubra agora