Antonietta, Amy, Luis

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O sinal estridente anunciava que a segunda aula acabava de começar, uma coisa que Antonietta sabia o quanto atrasos são mal vistos, tentou segurar sua mochila enquanto equilibrava um copo bucks cheio de café gelado, preto.
Ela odiava café doce e com leite.
Entrou na sala de aula apressada, ninguém havia se importado com o atraso dela e o professor estava muito ocupado escrevendo no quadro.
Ainda bem.
Se sentou na última mesa da fileira ao lado da porta, era o lugar com menos alunos, havia apenas uma garota de longos cabelos pretos, tão pretos que pareciam sugar toda a luz a sua volta. Ela estava vestindo um conjunto de moletom preto que combinava perfeitamente com o tom do cabelo e dos óculos.
Ela era linda.
Sentando na carteira atrás dela houve um barulho de parafusos soltos, Antonietta tentou ser o mais discreta possível mas era complicado com aquela maldita cadeira. A menina da frente se virou e somente a encarou por míseros segundos de baixo a cima enquanto dava um pigarro seco, um calafrio gelado subiu pelas costas de Antonietta.
Mas então ela se virou novamente para a frente tirando as pontas duplas do rabo de cavalo na base do ódio. Com certeza aquela garota não queria conversa com ninguém ali.
Antonietta sabia que teria reforço nessa missão, mas não sabia exatamente de quem já que foi a última a ser convocada para esse serviço. Mas seus colegas sabiam que estaria ali e mesmo assim ninguém havia nem a cumprimentado.
Finalmente havia chegado o intervalo. Já havia tomado água o suficiente pra afogar o café no estômago que protestava por alguma comida decente.
Sentou sozinha numa cadeira de uma mesa de quatro lugares, não sabia quantos seriam os companheiros e nem o por que ainda não haviam a procurado. Então uma silhueta masculina começou a se aproximar, um garoto jovem de cabelo ondulado quase crespo com um boné preto e óculos grossos. Ele estava de cabeça baixa e vestia uma roupa normal de alguém que não queria ter saído de casa naquela noite: calça de moletom e sueter cinza muito maior que o tamanho real do corpo.
Ele estava a poucos metros de distância com uma marmita na mão, todas as mesas estavam ocupadas por jovens que conversavam alto, então ele andava até a direção de Antonietta, já que era o local mais calmo, ela imaginou se ele seria agente mas não tinha o porte de um. A menos se estivesse muito bem disfarçado.
Nesse instante a menina de cabelos pretos compridos chegou na mesa, puxou uma cadeira e no momento que ela ia se sentar o garoto com a marmita passou, tropeçando na cadeira recém colocada no caminho dele.
Ele tentou se equilibrar mas um bolinho de carne voou diretamente no rabo de cavalo da garota.- você é idiota?! - ela disse em um tom baixo porém raivoso. Por outro lado o garoto não respondeu. Apenas pegou o bolinho de carne do cabelo dela com um olhar triste.
- carne tá cara mano. - é sério que essa era a maior preocupação dele? O preço da carne? Antonietta começou a rir em deboche.
- eu preciso de um momento a sós com a minha amiga, poderia se retirar? - a garota analisou a marmita na mão dele então mudou rapidamente a expressão - na verdade acho que você pode se sentar conosco, o que acha? - ela murmurou.
O garoto ficou confuso, olhou para os lados e viu que não havia nenhuma melhor opção então se sentou longe da garota. Porém ela o puxou para mais perto e tirou as talheres da mão dele, então com um sorriso tímido ela pegou a marmita e começou a comer.
- o que foi? Ele derrubou em mim, eu tenho o direito de comer isso aqui.
Definitivamente aquelas duas figuras a frente não eram seus companheiros de equipe.
- quem são vocês? - Antonietta perguntou.
- Amy, prazer. - a garota disse enquanto engolia uma garfada de arroz.
- eu sou Luis e eu tava meio afim de comer um pouco. - ele disse tímido enquanto encarava Amy que puxou a marmita mais próximo do corpo.
- eu sou Antonietta.
- eu sei, eu esperava que você fosse diferente mas assim serve. - ela disse novamente me encarando de baixo a cima.
- eu também esperava que meus companheiros fossem mais competentes do que dois meros esfomeados.
- como assim companheiros? - Luis falou enquanto arrumava o boné.
Amy me olhou fazendo sinal de negativo com a mão. - ele é estudante.
Então até agora Antonietta tinha uma companheira de equipe e Luis não era um agente, sinceramente isso a deixava aliviada.
- se o Luis é só um estudante normal, devíamos jogar ele pra fora da mesa.
Amy ergueu a faca pra cima e ficou olhando fixamente para a mesa por uns instantes. Conhecia ela a pouco tempo mas já dava pra perceber que precisava processar informações com mais calma. - acho que ele pode ser útil. - ela disse confiante e voltou a comer.
- útil pra que?
- tô pensando ainda, mas quando Aleph chegar provavelmente vai clarear minhas idéias.
Antonietta odiava o fato de não ter informações o suficiente, durante o caminho leu tão pouco sobre o caso que talvez soubesse menos que o desastrado Luis. - você não acha que falar perto do Luis pode ser perigoso?
- não sei, podemos manter ele preso conosco por prevenção.
Rapidamente o olhar calmo de Luis mudou pra uma feição espantada. - preso? Que merda é essa?
- é, acho que agora sim vamos precisar levar ele conosco. - Antonietta pegou uma corda do bolso do casaco e começou a fazer nós enquanto Luis se levantava da cadeira. Amy largou a marmita pela primeira vez e segurou o fugitivo que estava muito assustado e parecia que iria gritar a qualquer momento. Mas então algo quebrou o clima tenso.
As duas garotas começaram a rir descontroladas enquanto Luis não sabia como reagir.
- essa foi boa, ele realmente acreditou! - Antonietta falou enquanto encostou no ombro de Amy que rapidamente deu um tapa na mão dela afastando para longe.
- sim! Esse garoto é realmente hilário.
Aquele breve momento de risos logo foi interrompido pelo barulho do sinal. O intervalo havia acabado e ninguém havia comido nada além de Amy que não parecia nem um pouco incomodada em levar a marmita junto de si para a aula.
Antonietta segurou o braço da companheira até Luis perceber que estava sobrando e ir para a sala.
- querida Amy. - ela disse se virando para segurar os ombros da colega que tentou se livrar do contato imediatamente mas não conseguiu. - isso com o Luis agora foi um vacilo, espero que não se repita. Você com certeza não foi contratada para sair espalhando informações por aí. Não é?
- tá achando que é quem pra vir me dar sermão? Se liga hein garota. - ela se soltou, pegou a marmita e foi em direção a sala mas antes de entrar se virou para Antonietta e apenas disse com os lábios sem fazer barulho: - trouxona.
Com certeza as duas se dariam muito bem.

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