Contos Segredo de Sangue

Capítulo único

Era bastante comum para os Villar, desde sempre, testemunhar as conversas e os segredos trocados entre Valentina e Hugo, melhores amigos por anos.

De acordo com o senso de superproteção de Gustavo Villar, o milionário baiano dono de um forte conglomerado educacional, que incluía universidade, colégio de ensino fundamental e médio, além de outras iniciativas como um curso de língua estrangeira e um curso pré-Enem, Hugo Moriyama era talvez o único homem fora da estrutura familiar que incluía o amigo do empresário – Marcel Carneiro – que era de confiança de todos ali.

Aquela preocupação existia porque no passado, Valentina fora sequestrada, numa situação que tanto Gustavo quanto a equipe de segurança que cuidava dele e da família consideraram um erro grave de segurança; e ele não queria que sua filha sofresse. Os filhos que nasceram após o casamento entre ele e Agnes, sua adorada esposa, viviam na proteção e no privilégio. Porém, Valentina, imprensada entre a personalidade forte dos gêmeos irmãos mais velhos Heitor e Daniel, além do cuidado excessivo de seus irmãos mais novos Gabriel e Tiago, acabava se sentindo um pouco sufocada.

Sua mãe até tentava ajudá-la, mas era como se todos quisessem que ela vivesse numa redoma de vidro.

Todavia, Hugo era um dos poucos que podia conviver com Valentina, mais conhecida como Tina, sem o olhar de estranheza do pai e dos irmãos mais velhos. Por isso, eles não foram surpreendidos com a aparição da dupla na sala de jantar da ampla residência onde eles viviam, com uma solicitação que parecia bastante comezinha, mas para Gustavo era um pesadelo:

- Bem... o que vocês estão preparando para o meu aniversário de 21 anos? - Valentina iniciou a conversa, dando voltas para realizar a questão principal. Ela mantinha a mão grudada na de Hugo, como se quisesse buscar força.

- Jantar em família com todo mundo, naturalmente. - Agnes explicou, ao mesmo tempo que fazia carinhos na filha caçula, a bebê Vanessa, que parecia agitada.

- Todos serão convidados, será um jantar aqui mesmo em casa, na varanda – completou Gustavo.

- Então... Eu tive uma ideia diferente... Eu acho que seria bacana um café da manhã com todo mundo... E... seria legal se de noite...Hugo me chamou pra gente comer num restaurante lá na Barra.

O silêncio foi sepulcral, interrompido pelo tatibitate da pequena Vanessa.

Tanto Gustavo quanto Heitor, o gêmeo mais velho, se aproximaram com o mesmo passo e o mesmo olhar de preocupação, reproduzido pelo cenho franzido e maxilar duro. Daniel, por sua vez, manteve-se sentado à mesa, mexendo nos seus livros e apenas moveu um pouco o óculos, demonstrando preocupação.

- Vocês dois vão jantar juntos?

- Jantar juntos e sem seguranças? Que presepada é essa?

- Gustavo, Heitor, deixem de paranoia! Valentina é adulta, e vai ser com certeza um jantar ótimo, porque o Hugo é um garoto de ouro!

- Sim, mãe, Hugo tá aqui até pra-

- Eu tô aqui também pra pedir permissão... Eu vou conversar com o meu pai pra gente ir a um lugar que seja seguro, porque eu sei a preocupação que vocês têm com a segurança de Tina. O jantar vai ser bacana, a gente sempre tem coisa para conversar.

Hugo se apresentou rapidamente para também argumentar. Ele não queria que apenas Valentina aparecesse e falasse sobre seus temores e medos, já que o estudante de administração também fazia parte do plano. Ele estava lá para garantir a Gustavo e Heitor, principalmente, que tudo seria uma diversão leve e sadia.

Mesmo que o objetivo final fosse bem diferente.

- Se a gente demorar muito, não vamos voltar de carro. Vou pedir uma diária em um hotel, para Valentina descansar e só voltar pra casa de manhã.